Quando Carlos Antônio da Piedade, 58, descobriu que o irmão caçula, o operador de máquinas Alex Rafael Piedade, 36, estava na mina onde a barragem de Brumadinho rompeu, foi como se ele fosse forçado a assistir um filme pela segunda vez. Há 33 anos, o aposentado perdeu o irmão, Milton, em um acidente na Itaminas, mina de Sarzedo, também na região metropolitana. “É alguma coisa de família. Acontecer isso. Desse jeito. Não se explica”, lamentou.
Alex, que está desaparecido desde a última sexta-feira, perdeu o pai quando tinha oito meses. Desde aquela época, a referência de pai do operador de máquinas é o irmão. Há dois dias aguardando notícias, Piedade tem dividido as suas horas entre o centro de apoio criado no Espaço Conhecimento e o IML. “Eu não posso desistir nunca. Eu tenho que ficar. Mas não tenho esperança nenhuma. A esperança que a gente tem é a de encontrar o corpo para dar pelo menos um enterro para a família”, lamentou.
Para Piedade, foco agora é encontrar o irmão. “A vida é assim, né? Tragédias acontecem por irresponsabilidade, para economizar, para alcançar metas. São vidas. Mas não tem o que fazer. Não existe alternativa. É torcer para que encontre o corpo. Muitos não serão encontrados, com certeza, e eu posso até estar incluído nessa. Ainda assim. É o mínimo que a gente espera. Esperança de vida não dá, mas pelo menos de encontrar ele”, afirmou.
Milton, o irmão que morreu há 33 anos na Itaminas, em Sarzedo, tinha 21 anos. Na ocasião, a peça de um caminhão caiu em cima da cabeça dele durante o trabalho. Ele morreu na hora.
Alex é pai de dois meninos, de 2 e 8 anos. “Pai, não”, segundo o irmão: um “super pai”, afirma Piedade. “Trabalhador. Dedicado à família. Onde ele está, os filhos estão. Eu criei ele. É muito duro ver isso tudo. Mas eu vou ficar aí. Eu vou ficar”, disse.