PERÍODO CHUVOSO À VISTA

Já em alerta geológico, BH terá chuvas intensas e entra em risco para mortes

Influência de El Niño e mudanças climáticas vão tornar período chuvoso propício para eventos extremos

Por Isabela Abalen
Publicado em 02 de outubro de 2023 | 17:20
 
 
 
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Engana-se quem pensa que o período chuvoso já começou em Belo Horizonte. As últimas chuvas e o calor excessivo são apenas transição do tempo seco para úmido. Para os próximos meses na capital, a previsão é mais severa. Por influência do fenômeno El Niño, reforçado pelas mudanças climáticas, o período de chuvas que começa a partir da segunda quinzena de outubro será marcado por chuvas concentradas e eventos extremos pontuais – suficientes, no entanto, para causar grandes estragos e até mortes, segundo especialistas. O problema está anunciado: BH e região metropolitana começam o mês em alerta de risco geológico (deslizamentos de terra) e hidrológico (alagamentos e inundações). 

De acordo com o boletim desta segunda (2 de outubro) do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), toda a região metropolitana de Belo Horizonte está em risco alto para alagamentos urbanos e inundações em rios e córregos “devido a previsão de pancadas de chuvas de intensidade moderada a forte”. Soma-se a isso o alerta moderado para deslizamentos de terra, incluindo quedas de barreira à margem de rodovias. O acúmulo de água no solo pelas últimas chuvas contribui para o risco, segundo o Cemaden. 

Mas ainda é só o começo do que será um intenso período chuvoso, não necessariamente pela quantidade da água da chuva, mas pela sua força. “Estamos em um ano de El Niño, o primeiro após uma série de períodos chuvosos de La Niña. Diferente dos últimos anos, em que tínhamos vários dias seguidos de precipitações, aquela chuva que parecia interminável, este ano, a previsão é que tenhamos o mesmo volume de chuva, mas de forma pontual”, explica a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Anete Fernandes. Isso significa que as chuvas virão em forma de pancadas, concentrando alta quantidade de água e facilitando a ocorrência de tempestades.

Vivendo entre extremos: do calor acima da média a tempestades violentas

Além disso, as mudanças rápidas do clima devem se tornar comuns nos próximos meses. A elevação da temperatura associada a tempestades, vendavais e desastres naturais será o perfil do próximo período chuvoso – da segunda quinzena de outubro até fevereiro de 2024. “Essa chuva vai vir intercalada com períodos de seca e calor acima da média. Assim, quando a chuva cair, deve vir mais agressiva, rápida, acompanhada de muito vento, com possibilidade de granizo. Será mais como um temporal", continua Fernandes. 

Segundo o meteorologista Giovanni Dolif, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Cemaden, é questão de tempo para que as tragédias comecem. “À medida que o período chuvoso vai se instalando, o nível dos rios se eleva, o solo fica úmido, e começamos a ter casos sérios de inundações e deslizamentos de terra”, explica.

Dolif reforça que o alerta é resultado, além da influência do El Niño, dos impactos das mudanças climáticas. “O planeta está excepcionalmente mais quente, os oceanos estão mais quentes, e o calor e a umidade são combustíveis para a chuva intensa e eventos mais severos, com maior frequência de inundações, enxurradas e deslizamentos de terra”, diz. 

Tragédia anunciada: falta de preparo acende o alerta para risco de fatalidades

Para o geógrafo Rodrigo Lemos, o cenário é propício para tragédias que serão difíceis de enfrentar. “Será um período chuvoso muito imprevisível, difícil de planejar, difícil de prevenir. Belo Horizonte ainda vive uma realidade de irregularidades e uso informal da terra, o que aumenta as dimensões de risco. Quem mais irão sofrer são as pessoas que vivem em áreas vulneráveis”, avalia.

Isso que, segundo ele, provavelmente, acabará em mortes. “É uma situação de morte anunciada muito complexa. Possivelmente vamos ter fatalidades, se não for por movimento de massa (deslizamento de terra), será por eventos de inundação. Essas chuvas vão vir em uma intensidade que nossas estruturas não vão conseguir comportar”, alerta. 

De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, na capital, existem cerca de mil edificações em áreas de risco geológico localizadas em vilas e favelas. Mas as tragédias podem surpreender, segundo Lemos. “Tanto as pessoas que moram em áreas de risco podem ser pegas de surpresa por uma tempestade pontual, quanto os deslizamentos podem ocorrer dentro da cidade formal. É possível, porque não estamos preparados para eventos extremos. É esperar para ver”, lamenta. 

PBH garante pacote ‘robusto’ de obras e monitoramento 24h  

Em coletiva nesta segunda-feira (2 de outubro), a prefeitura estimou investimento de R$ 1 bilhão para prevenir os efeitos das chuvas na cidade.O recurso vai custear um "programa robusto" com mais de 300 obras por toda a cidade, capazes de evitar enchentes. Entre elas, a construção de bacias para retenção de água e intervenções em mais de 260 encostas para dar mais segurança e tranquilidade para famílias que vivem em áreas de risco, sendo que 208 já foram finalizadas e outras 54 obras estão em andamento. 

A administração também anunciou a criação do Grupo de Gestão de Risco e Desastres (GGRD), responsável por acompanhar as ações do Executivo durante todo o período chuvoso. Composto por técnicos e especialistas das secretarias de Obras, Saúde, Assistência Social, Política Urbana, Segurança Pública e Governo, Urbel, Defesa Civil, SLU, Sudecap, BHTrans e Superintendência de Mobilidade (Sumob), o grupo terá a missão de monitorar os efeitos das chuvas na cidade e definir medidas emergenciais necessárias. 

Alertas pelo WhatsApp 

A Defesa Civil de Belo Horizonte vai enviar avisos de ocorrência de chuvas fortes, granizo, tempestades, vendavais, alagamentos, risco de deslizamentos de terra e outros fenômenos meteorológicos pelo WhatsApp. Os interessados em receber os alertas deverão enviar uma mensagem de "Oi" para o número (61) 2034-4611 para se cadastrar.

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