Pelo namorado

Jovem denuncia agressão sofrida dentro de república de Ouro Preto

Ex-aluna da Ufop afirma que o seu ex-namorado a jogou na cama, subiu em cima dela e apertou o seu rosto, além de ter dado diversos puxões em seu braço; suspeito disse que só se manifestará aos órgãos competentes

Por JOSÉ VÍTOR CAMILO
Publicado em 12 de janeiro de 2017 | 16:18
 
 
 
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Uma ex-aluna da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) de 19 anos denunciou pelas redes sociais uma agressão sofrida no interior de uma república localizada no centro da cidade, na região Central do Estado. O agressor, um estudante de engenharia geológica de 33 anos, era namorado da vítima.

A jovem, que já cursou filosofia na universidade, conta que foi agredida física e verbalmente, na madrugada do último dia 5 de janeiro, pelo morador de uma república particular da cidade. "Passei uns dias com ele e a gente estava bem, até o momento da agressão. Passei a tarde do dia anterior inteira com ele e, já de noite, tinha chegado um ex-aluno na casa e eles começaram a beber. Como não queria beber no dia, falei com ele que iria na república em que morei, que fica exatamente ao lado, para conversar com uma amiga", detalhou à reportagem de O TEMPO.

Depois de retornar para a república do companheiro e conversar com o ele, que continuava bebendo com o visitante, a jovem teria voltado mais uma vez para a casa ao lado. "Fiquei no quintal conversando, e, da casa dele, daria para ele me ver de qualquer das janelas.  De repente, ele me mandou mensagem perguntando se eu ia embora. Respondi que iria daqui a pouco e, pouco tempo depois, ele me ligou, já bastante bêbado, e perguntou se eu não iria dormir com ele", lembra.

Menos de 1 minuto depois, o universitário estava na porta da república onde ela estava, tocando a campainha insistentemente. "Quando chegamos na porta, minha amiga abriu a porta e, quando eu saí, ele me pegou no colo. Vi que ele estava bêbado, mas até então estava tudo normal. Todos da casa nos viram chegando, eu no colo dele. Estava tudo bem, até quando chegamos ao quarto e ele trancou a porta. Começamos a discutir e o motivo era que eu o teria feito 'esperar demais'", conta a denunciante.

Ao perceber que o companheiro estava bastante exaltado, a ex-universitária começou a juntar suas coisas dizendo que iria embora. "Foi então que ele me jogou na cama e subiu em cima do meu corpo, apertando o meu rosto e dizendo que eu não iria fazê-lo de trouxa. Comecei a gritar, dizendo que ele estava me machucando e ele se levantou e começou a socar a parede, xingando as meninas da república onde eu morava. Nesse momento eu levantei e ele puxou o meu braço com força. Eu pedia para ele abrir a porta, mas ele se recusava. Comecei a gritar muito", contou a vítima com dificuldade, sem conseguir conter o choro ao lembrar da agressão.

Ainda na versão da jovem, o universitário teria dito que só abriria se ela continuasse com ele, abrindo a porta após a afirmativa dela. Porém, assim que o cômodo foi destrancado, ela saiu rapidamente, sendo segurada novamente por ele. "Gritei que ele tinha me machucado e que eu iria chamar a polícia. Nessa hora ele começou a ficar frio, negando que tinha me agredido. Fui para a república que morava e, enquanto esperava a polícia, ele continuou bebendo como se nada tivesse acontecido", disse.

A reportagem entrou em contato por telefone com o denunciado nesta quinta-feira (12). O estudante alegou que o processo corre em segredo de Justiça e que, para não expor a si próprio e nem a denunciante, irá se manifestar apenas aos órgãos competentes.

Universitário negou agressão à PM

No boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar (PM), o acusado confirmou toda a versão da jovem até o momento da agressão, alegando então que, uma vez no quarto, eles teriam tido uma conversa por "motivos passionais", mas que em momento algum teria a segurado ou agredido.

De acordo com corporação, durante o atendimento, uma turista que estava hospedada na república do suposto agressor apareceu na janela e relatou ter ouvido os gritos da jovem pedindo para sair do quarto e que ele a estava machucando. Entretanto, a mulher teria se negado a ir até a delegacia como testemunha.

Dois universitários, uma moradora da casa onde a denunciante morava e outro da república do suposto agressor, testemunharam na ocorrência. Ainda segundo a PM, os envolvidos foram encaminhados à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da cidade e, em seguida, à Delegacia de Plantão.

"Quando a polícia chegou, ele e o amigo que foi sua testemunha ficaram fazendo piadinhas, dizendo que era coisa de mulher louca. A minha sorte foi a turista do quarto ao lado ter aparecido na janela e confirmado que ouviu meus gritos. Apesar de tudo os policiais disseram que não poderiam fazer o flagrante por não ter deixado hematomas evidentes em mim", afirmou a ex-universitária.

Após pedir uma medida protetiva e retornar para casa, a jovem ainda precisou acionar a PM mais uma vez, já que os moradores da república não deixaram que uma amiga dela entrasse no quarto do ex-companheiro para buscar suas coisas.

Relacionamento conturbado

"Ninguém sabia que estávamos juntos. Acontece que ele já tinha me agredido outras vezes verbalmente e psicologicamente, mas fisicamente foi a primeira vez. Várias pessoas presenciaram, como quando ele acendeu uma bomba garrafão e jogou na minha direção, já estourou a campainha de onde morava de tanto tocar. Era muito controlador. Sempre tivemos um relacionamento conturbado", disse a denunciante.

Questionada sobre o machismo dentro das repúblicas, a jovem informou que não critica o sistema republicano, uma vez que viveu tudo isso enquanto estudou na UFOP. "Mas a violência contra a mulher, o machismo, existe sim. Tanto que quando eu morava lá participava do movimento 'Rebuliço', que é contra a reprodução do machismo nas repúblicas. Sempre vemos relatos de violência, estupros. Eu me sentia segura dentro da república até então, mas não mais. Pessoas que eu considerava sequer me procuraram, estão mais preocupados com a imagem da casa. Eu não seria capaz de inventar uma coisa dessas, não iria me expor, afetando até a relação com minha família, por uma mentira", argumentou.

Nas redes sociais, um perfil falso já teria afirmado em comentários que a mídia não iria procurar o suposto agressor. "Mas eu quero que ele seja escutado sim. Quero que ele ganhe responsabilidade, pois só assim relacionamentos abusivos e agressões contra mulheres vão acabar. Me expus por solidariedade a outras mulheres, pois várias passam por isso e não denunciam. Eu estou com medo, não é fácil denunciar uma pessoa que você gosta", concluiu.

Repúblicas

Procuradas pela reportagem, moradores das duas repúblicas envolvidas na denúncia não quiseram se manifestar sobre a agressão. Apesar disso, na página Spotted UFOP - onde os estudantes podem fazer postagens anônimas - é possível ver relatos que dão conta que agressões contra mulheres são frequentes nas repúblicas da cidade.

"O que aconteceu com você acontece com várias pessoas aqui em Ouro Preto. Eu mesmo já presenciei mais de um caso parecido e acho que, seja o motivo que for, ninguém tem o direito de agredir o outro, seja verbal ou fisicamente. Principalmente por motivos de 'contrariou' o babaca", disse um dos relatos.

"Passo por isso todos os dias com o meu namorado e vivo uma prisão com ele. Estou até me tratando para lidar com isso, que me destruiu tanto com seu egoísmo! Que me destrói diariamente com suas palavras baixas para me diminuir e ele achar que vou ficar mais submissa com isso", relatou outra estudante na página.

Uma das mensagens anônimas chegou a criticar o slogan da casa: "Loucos por saias desde 1948". "Estudei na mesma sala que um morador de lá. Muitos deles não acham graça nenhuma nesse negócio do lema. Mas eles não tiram isso por que é tradição. Os ex alunos iam brigar se tirassem", argumentou outra pessoa.

Associação apurará denúncia

Uma das denúncias feitas pela jovem foi na página da Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (Refop). A entidade respondeu nos comentários que irá "apurar os fatos". "Nós agradecemos o seu depoimento e estamos a disposição para o que você precisar. Vamos apurar os fatos através da nossa ouvidoria e da própria diretoria da REFOP, para tomar as medidas que estiverem ao nosso alcance. Gostaríamos que você soubesse que nós repudiamos qualquer tipo de agressão e que a atitude de um estudante não representa a opinião dos demais. Mais uma vez, estamos a disposição", afirmou. O TEMPO não conseguiu falar por telefone com a associação.

Já a Sociedade de Intercâmbio Cultural e Estudos Geológicos (SICEG) emitiu uma nota de repúdio contra o ocorrido envolvendo um estudante do curso. Leia o texto na íntegra:

"A SICEG vem tornar público seu repúdio aos acontecimentos da madrugada do dia 05/01 envolvendo um aluno da geologia e uma estudante de Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto. A atual gestão rechaça qualquer tipo de agressão, seja física, psicológica ou verbal, ficando solidária a demanda da agredida e prestando à mesma o apoio que for necessário. Esperamos que sejam apurados os fatos e que sejam tomadas medidas administrativas e judiciais cabíveis para coibir atitudes machistas no nosso meio".

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