Os benefícios da dança vão muito além de uma atividade física. Sua prática pode contar a história de um povo e ensinar sobre uma cultura. É com esse propósito que o professor Evandro Passos, 59, um dos finalistas do Prêmio Bom Exemplo 2019 na categoria Cidadania, ensina dança afro-brasileira a dezenas de jovens da periferia de Belo Horizonte.
O projeto Companhia de Dança Evandro Passos já atendeu mais de 700 jovens, com idades a partir de 15 anos, e continua, semanalmente, a recebê-los de forma gratuita, no centro da capital. “O projeto começou em 1982, na Semana da Consciência Negra. Logo de imediato começaram a surgir jovens da periferia querendo dançar”, relembra.
Muito além das coreografias e teorias de dança, o professor aproveita as aulas para ensinar também sobre a cultura vinda de outros povos e a maneira como ela se entrelaça com os costumes brasileiros. “Muitos deles começaram a procurar a companhia depois de não se identificarem em outros lugares. Aqui eles buscam identificação”, comenta.
Assim aconteceu com o dançarino Jonatas Ferreira Costa, 37. Ele dança desde os 15 anos e, nos últimos cinco anos, se identificou com a cultura afro-brasileira. Segundo Costa, trata-se de uma realização que o torna capaz de ser uma pessoa melhor. “Para mim, a dança é tudo! É a expressão dos sentimentos, o alívio para a alma. É um sonho realizado”, afirma.
O projeto contempla todos os estilos. Mas os gêneros contemporâneo, moderno, folclórico e afro-brasileiro são os que têm maior destaque. “Além da dança, o espaço também ensina sobre cultura. Então, o jovem que não tem interesse em dançar, mas quer trabalhar com produção ou figurino, pode vir também”, explica o professor.
Aprender para ensinar
Mesmo depois de ter se profissionalizado em dança afro-brasileira e começado a trabalhar como professora, a bailarina Suellen Sampaio, 25, não deixa de frequentar as aulas de Evandro Passos. Dançarina desde os 13 anos, a jovem reproduz agora o que aprendeu com o mestre. “Eu trabalho com dança afro porque ele me ensinou. Ele me deu o start para isso”, conta.
Segundo a jovem, apesar de a indicação ao Prêmio Bom Exemplo ter sido tardia, é uma oportunidade de dar mais visibilidade à companhia de dança: “Ele está na labuta há muitos anos. Mas, mesmo sendo tarde, esta será uma valorização da dança afro”.