Oportunidade

Jovens embaixadores têm inglês afiado e são engajados

Programa da embaixada dos Estados Unidos leva 50 brasileiros para passar um mês no país

Por Joana Suarez
Publicado em 19 de novembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Eles nunca imaginaram sequer viajar para fora do país, não estava ‘dentro da realidade deles’, mas acreditaram, se inscreveram e foram escolhidos entre 23 mil jovens brasileiros. São 50 meninos e meninas – numa disputa de 460 candidatos para cada vaga, mais concorrida do que vestibulares e concursos públicos – que vão viver o sonho de ser embaixadores brasileiros nos Estados Unidos (EUA) por um mês. A viagem acontece em janeiro do ano que vem, e quatro mineiros estarão no grupo quando o voo decolar.

“É um misto de ansiedade, com euforia, com nervosismo, com preocupação, buscando as documentações necessárias para tirar o passaporte e a autorização para viajar desacompanhado para o exterior”, descreve Luiz Henrique Soares Resende, 16. Para ele, a novidade é completa: até a viagem de avião será sua primeira experiência. Como serão 12 horas de voo, ele brinca que já começou a rezar: “Sinto que eu vou tremer nas bases quando chegar a hora do embarque”.
Luiz Henrique é de Arinos, uma cidade com 18 mil habitantes no Noroeste de Minas Gerais. Ele treina seu inglês escutando música e vendo filmes.

Além dele, Maria Luiza Rocha Bueno, de Belo Horizonte, Mariana de Lourdes Godoy da Silva, de Patrocínio, no Alto Paranaíba, e Antonio Teixeira Junqueira Neto, de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, conquistaram a disputadíssima vaga entre os 50 selecionados para o programa Jovens Embaixadores de 2018.

Requisitos. O que todos eles têm em comum? Além de jovens determinados, são bons alunos do ensino médio, estão matriculados na rede pública, vêm de famílias de baixa renda e, apesar das dificuldades, se destacam, por exemplo, pela qualidade do inglês, um dos critérios adotados para escolha dos participantes.

Outro importantíssimo requisito para acesso ao programa é que os quatro estão há pelo menos um ano fazendo trabalho voluntário.

A proposta da Embaixada dos Estados Unidos, que realiza o programa, é justamente que eles conheçam projetos sociais norte-americanos para trazer a experiência para a comunidade onde eles vivem aqui no Brasil.

Com piercing no nariz e os cabelos loiros pintados de verde, Maria Luiza, 16, é uma adolescente engajada na escola. Ela participa das diretorias do Grêmio Estudantil do Coltec, o Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e da associação de estudantes da capital. No ano passado, ela ocupou a escola por 50 dias, num movimento nacional contra a proposta de limite para os gastos públicos, e luta pela causa feminista.

“Conscientizo os estudantes pelos diretos deles. Faço automação industrial, onde não temos nenhuma professora mulher”, conta ela, que viu o mundo se ampliar agora, com a nova oportunidade. “Nem fui ainda e já está abrindo muito meus horizontes”, diz a menina, que bate na mesa quando questiona que “os adultos sempre dizem aos jovens: ‘vocês não podem, não conseguem’. Nós temos o poder de transformação”.

Exemplo. Desde 2003, o programa já levou 522 jovens brasileiros de escolas públicas aos EUA. Eles são selecionados por serem líderes em suas comunidades e ótimos alunos.


Aprendizado rende frutos

FOTO: Sabrina Melo/arquivo pessoal
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A turma de Sabrina participou do programa em 2016 e, depois, criou um grupo de mentoria

No programa, eles vão primeiro para Washington, capital dos EUA, depois são espalhados por cidades americanas, onde ficam em casas de famílias voluntárias durante duas semanas. “A gente consegue realmente ter uma imersão grande na cultura, ver como eles vivem, o que é bem diferente de uma viagem de turismo”, fala a mineira Sabrina Oliveira Melo, 19, jovem embaixadora de 2016. Hoje, ela e outros alunos da turma do ano passado já formaram um programa de mentoria para jovens do ensino médio, o Empowerment Mentoring Program. “A gente dá o suporte para eles alcançarem seus objetivos”, explica ela.

Sabrina e outro jovem da Paraíba ficaram na cidade de Portland, onde visitaram vários locais que fazem trabalho voluntário. “A gente aprende muita coisa, é realmente inspirador você estar no meio dessas pessoas tão ativas na comunidade”, afirma ela, que indica: “Passa muito rápido, antes da sua ficha cair você já está quase voltando, e a gente fica com saudade ”.

Foco é quem faz a diferença em sua comunidade

Quem já foi recomenda: “não perca a oportunidade de tentar”, disse Sabrina Melo, embaixadora de 2016. Quem passou na seleção dos 23 mil neste ano também: “Eu acho que todo mundo que quer mudar alguma coisa na sua comunidade deve tentar o processo, porque ele ajuda muito a pensar sobre você e a efetivar essas mudanças”, aposta Maria Luiza Bueno.

Um bom começo é se engajar no voluntariado. “É muito importante contribuir com essas instituições que precisam do nosso apoio, ninguém sabe o dia de amanhã, se podemos precisar”, declarou Luiz Henrique Resende, que dá aulas de inglês em um bairro pobre de Arinos. A adida para Assuntos de Educação e Cultura da Embaixada dos EUA, Joëlle Uzarksi, explica que um dos requisitos mais importantes aos candidatos é estar envolvido em iniciativas desse tipo. “Buscamos jovens que tenham consciência cidadã e que estejam fazendo a diferença em suas comunidades. Após participar do programa, eles viram bons exemplos para outros jovens”, afirmou. O novo processo seletivo começará em meados de 2018.

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