Fundão

Liquefação de rejeitos causou o rompimento de barragem 

Processo ocorreu em obra que não estava prevista em projeto original e não foi notificada

Por bernardo miranda / josé vítor camilo
Publicado em 23 de fevereiro de 2016 | 21:20
 
 
 
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O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central de Minas, foi causado por um processo de liquefação de rejeitos, ocasionado por uma obra de recuo na margem esquerda da estrutura que não estava prevista no projeto inicial e que não foi comunicada às autoridades. A informação está no inquérito da Polícia Civil, apresentado nesta terça. A tragédia, classificada como o maior desastre ambiental do país, deixou 17 mortos (duas pessoas seguem desaparecidas), atingiu o rio Doce e 40 povoados.

O projeto inicial da barragem de Fundão previa que os diques seriam construídos em linha reta. Porém, sem consultar o projetista da estrutura, o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila, a Samarco realizou um recuo, fazendo uma curva em S na barreira de contenção. A alteração também não foi informada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

O perito Otávio Guerra, da Polícia Civil, explicou que a obra foi decisiva para o rompimento e que escutas telefônicas dos dirigentes da Samarco mostram que eles articulavam uma ‘defesa’ para a intervenção. “Os diretores discutiram por telefone uma forma de plantar na imprensa a informação que o recuo feito na barragem era uma obra provisória, que posteriormente seria feita a correção para seguir o projeto inicial. Eles queriam usar essa informação para justificar porque não informaram as autoridades sobre a mudança da execução do projeto”.

Mesmo após a alteração do projeto, Joaquim Ávila tentou alertar a Samarco. Em 2014, ele voltou a prestar consultoria para a mineradora e a alertou sobre os riscos de rompimento no local do recuo. Ele identificou uma trinca e orientou que fosse feito um reforço estrutural, com a instalação de ao menos nove piezômetros (equipamentos para monitorar a estabilidade da estrutura). Em depoimento na Polícia Federal, o engenheiro disse não ter conhecimento se a empresa seguiu as recomendações. Já a investigação da Polícia Civil aponta que a Samarco não seguiu o recomendado.

Liquefação. Conforme o inquérito, uma série de irregularidades e negligências da Samarco provocou a liquefação, quando os rejeitos sólidos que dão sustentação aos diques se tornam líquidos. Sete pontos foram destacados, dentre eles equipamentos de medição que não estavam funcionando, sobrecarga e realização de alteamentos em curto espaço de tempo. Em um mês, a barragem foi elevada em 2,5 metros, o que não é usual.

O perito Otávio Guerra destaca ainda falhas na drenagem. “O que intriga é que em 2014 a drenagem da barragem recolhia 293 mil litros de água por hora. Um ano depois, com um número maior de rejeitos, o volume diminuiu em vez de aumentar. Isso já era um sinal de falhas na drenagem”, afirmou. 

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