Em postagens nas redes sociais, Katlyn Oliveira, a mulher de 29 anos que foi assassinada na última semana em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, vinha denunciando há mais de um ano os crimes de seu ex-companheiro, que seria um dos líderes do tráfico na região, integrante do PCC e que se encontra preso em uma unidade prisional do Norte de Minas. O suspeito, identificado como "Di" por ela nas postagens, é o pai da pequena Evellyn Jasmin Machado Acácio, de 8 anos, que segue desaparecida.

As publicações feitas no Instagram de Katlyn começaram em abril de 2022, pouco após o homem com quem ela estava casada há 8 meses ser assassinado na frente dela e de uma criança de apenas 1 ano, também em Sabará. Ela também passou a usar a rede social do ex-companheiro assassinado para fazer postagens.

Nos textos, ela dá a entender que o atual marido foi executado a mando do ex, "Di", e teria contado com a participação de outros comparsas do crime. "Mandar matar é fácil, porque morrer na mão de amigo ninguém espera. Sair de casa na intenção de ajudar um amigo e tomar 40 tiros assim. Vocês são covardes, pilantras, safados", escreveu a mulher em uma das postagens.

A mulher também compartilhou mensagens em que ela teria recebido o documento da separação dos dois e, ainda, cartas que teriam sido escritas pelo ex-marido na cadeia, em que ele dizia que ela estava "livre" para se relacionar com outras pessoas.

Em outra publicação, Ketlyn compartilhou ainda uma mensagem trocada com o ex-marido e pai de sua filha. Na mensagem, o presidiário dizia que mandaria dinheiro para ela, mas insistia que a mulher entregasse a filha para "ele cuidar", afirmando que colocaria a menina na "escola de música" para ela "aprender a cantar e tocar instrumentos". "Ela vai ter um bom futuro. Minha mãe prometeu que vai tratar ela com mais carinho e respeito", teria escrito o pai da menina.

Alta periculosidade

Fontes ligadas ao sistema prisional confirmaram à O TEMPO que "Di" é considerado um suspeito de "alta periculosidade". "Na ficha dele no presídio tem a descrição como 'Grau 1' de periculosidade. Só colocam essa observação para pessoas fortes do PCC, que são sanguinárias", detalhou a fonte, que informou ainda que ele teria mais de 50 anos de prisão em condenações.

Nos registros judiciais contra o suspeito, além de sua prisão por tráfico de drogas, ele foi um dos alvos da operação "Trojan", desencadeada em agosto de 2021 e que mirou um esquema criminoso que envolvia policiais penais e até mesmo advogados. A quadrilha se utilizava dos servidores e da prerrogativa dos advogados para levar para dentro do presídio de Francisco Sá drogas e celulares.

Advogado nega que cliente seja do PCC

Por meio de uma nota enviada à imprensa, Mauro Abreu, que é o advogado que representa o ex-companheiro de Ketlyn, se posicionou por nota e alegou que o seu cliente nega qualquer envolvimento no desaparecimento da filha e nas mortes da ex-companheira e da cabeleira encontrada em um carro em Contagem.

O texto negou ainda que "Di" seria integrante do PCC. "O pai da criança e os seus advogados esclarecem, ainda, que àquele não possui nenhuma condenação criminal por envolvimento com qualquer organização criminosa, como vem sendo noticiado", argumentou o advogado.

Leia a nota na íntegra:

"Nos últimos dias foram noticiadas nos veículos de comunicação, informações e notícias envolvendo o caso da pequena Evellyn Jasmin, que se encontra desaparecida.

A Defesa técnica que representa o pai da criança, ora apontado como suspeito, esclarece que ainda não teve acesso amplo às investigações comandadas pela Polícia Civil, as quais se encontram em sigilo.

Todavia, o pai da pequena Evellyn nega veemente qualquer envolvimento no desaparecimento de sua filha e bem como nas mortes, que vitimaram Katlyn, mãe de seus filhos e a senhora Ana Raquel, cabelereira.

O pai da criança e os seus advogados esclarecem, ainda, que àquele não possui nenhuma condenação criminal por envolvimento com qualquer organização criminosa, como vem sendo noticiado, e estão compromissados em auxiliar nos trabalhos da Polícia Civil e bem como na elucidação do caso.

Confiamos no profissionalismo e no brilhante trabalho que é desenvolvido pela Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, em especial, pela Delegacia de Homicídios de SabaráMG, e esperamos a apuração da verdade dos fatos e que a criança seja encontrada o mais rápido possível.

Por fim, a Defesa manifesta a sua solidariedade com as famílias enlutadas.

Equipe Mauro Abreu, Advocacia Especializada"

Entenda o caso

Ana Raquel era proprietária de um salão de beleza em Sabará e atendia a cliente e amiga Katlyn Lorrayne Oliveira, de 29 anos, quando o estabelecimento foi invadido, na quinta-feira (22). Ainda não se sabe quantas pessoas estão envolvidas no crime, mas, segundo as investigações, o salão foi encontrado revirado e havia marcas de sangue no chão. 

Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que Katlyn tentou fugir, mas acabou alvejada por um tiro na nuca. O disparo foi feito por um homem armado, que estava dentro de um carro. 

Tanto Ana Raquel quanto a menina de oito anos foram raptadas, mas, até o momento, apenas a cabeleireira foi localizada, já sem vida. O corpo dela foi encontrado na sexta-feita (23) em um carro abandonado na BR-040, no bairro Morada Nova, em Contagem, também na região metropolitana de Belo Horizonte.

Segundo a Polícia Militar, agentes da corporação passavam pelo local quando se depararam com o veículo parado. Por ser um local ermo, os policiais fizeram a vistoria e viram que o automóvel estava trancado. Um corpo, entretanto, estava no banco de trás, de bruços. Os militares quebraram o vidro para ter acesso à vítima, que apresentava sangramento na cabeça e sinais de violência.

A confirmação de que o corpo era de Ana Raquel foi dada por Daniele Cristine, de 23 anos, cunhada da vítima. “O corpo é da Ana Raquel mesmo. Uma tristeza total. Todos nós estamos em choque, sem acreditar no que aconteceu. A ficha ainda não caiu", finaliza.

Atualizada às 16h06 do dia 27 de junho de 2023