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Manifestantes que aguardavam na porta do hotel são agredidos pela PM

Algumas pessoas, que aguardavam na rua da Bahia por detidos no protesto contra o aumento das passagens, pediam para que a polícia liberasse os presos, porém, alguns militares se exaltaram e agrediram os populares

Por BERNARDO MIRANDA / CAMILA KIFER
Publicado em 12 de agosto de 2015 | 22:56
 
 
 
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Os manifestantes que estavam na porta de um hotel localizado na rua da Bahia, no Centro da capital, onde aproximadamente 50 pessoas foram detidas durante um protesto contra o aumento da tarifas, foram agredidas por policiais militares no fim da noite desta quarta-feira (12).

Relatos de populares, que estavam no local, dão conta que familiares e manifestantes aguardavam, na calçada, pela saída das pessoas que foram detidas dentro do hotel. Alguns desses começaram a pedir para que a polícia liberasse os presos, porém, parte dos militares se exaltaram e agrediram os populares.

Dois vídeos feitos no local mostram militares agredindo uma pessoa que estava caída no chão. Em outras imagens, vários policiais usam armas de borracha e cacetes para conter as pessoas na porta do estabelecimento.

Em contato com a corporação, a assessoria de imprensa da PM afirmou estar apurando o fato e se comprometeu em se posicionar sobre o ocorrido. 

Entenda

O ato organizado por integrantes do Movimento Tarifa Zero, Passe Livre e de outros movimentos sociais teve início no quarteirão fechado na praça Sete, no Centro, às 17h, com 50 pessoas. Por volta de 18h, 300 manifestantes já se preparavam para sair em passeata pela avenida Afonso Pena.

Com mais de mil pessoas revoltadas com o reajuste, a passeata teve início às 18h. Ao chegar no encontro com a rua Espírito Santo, os manifestantes, que ocupavam as três faixas da via, foram cercados pelo Batalhão de Choque da PM.

"Respeitamos o direito de manifestar da população. Porém, é necessário que ela também respeite o direito de ir e vir dos outros. Por isso, tivemos uma conversa com os manifestantes e entramos em acordo para que eles ocupem apenas uma faixa da avenida Afonso Pena", alegou o tenente-coronel Gianfranco Caiafa.

O acordo não durou muito tempo e o protesto voltou a ocupar todas as faixas da avenida. Em contrapartida, o Batalhão de Choque fez um novo cerco e impediu a passagem dos manifestantes na avenida Afonso Pena, na altura da rua da Bahia, próximo a avenida Augusto de Lima, e exigiu que parte da pista fosse liberada.

Uma grande confusão foi formada e alguns militares realizaram disparos de bala de borracha. Também há relatos do uso de bombas contra manifestantes.

Um integrante do movimento Tarifa Zero, que preferiu o anonimato, disse que a PM começou a confusão durante um ato que era pacífico. "Havíamos conversado com os militares, na altura da rua Espírito Santo, e eles haviam permitido a nossa passagem. Porém, quando chegamos próximo da rua da Bahia, eles atiraram balas de borrachas nas nossas pernas e jogaram bombas de efeito moral", relatou.

O repórter fotográfico de O TEMPO, Denilton Dias, foi atingido em uma das pernas. A informação é de que mais pessoas tenham sido atingidas durante a confusão. Uma manifestantes que preferiu não ser identificada informou que os "militares atiraram desordenadamente".

"Levei pelo menos três tiros de borracha. Estávamos subindo a rua da Bahia e negociávamos com a polícia que queria a liberação de duas faixas. Antes da negociação houve o tiroteio, com várias balas de borracha e bombas de gás", lembrou Samuel Peixoto, de 28 anos.

"Depois da confusão a gente correu pra dentro do hotel pra fugir do gás e dos tiros de borracha. A gerente do local falou que ia ajudar a gente só pediu pra não quebrar nada. Porém, a PM entrou com a tropa de choque e cercou todo mundo. Agora eles estão fazendo triagem de quem eles iriam prender e quem eles iam soltar. Já tem mais de 20 presos e uns cinqüenta na triagem" só agora me liberaram", afirmou o estudante Vinicius Brandão, de 21 anos.

A defensora Júnia Roman Carvalho, que atua na Defensoria Especializada em Direitos Humanos, Coletivos e Socioambientais, compareceu ao hotel para tentar liberar os detidos. "Assim como os manifestantes, acredito que o aumento é ilegal. E entendo que a manifestação é legitima", afirmou a defensora.

Nesta terça-feira (11), a defensora ingressou com a Ação Civil Pública, na 4ª Vara de Feitos da Fazenda Pública Municipal, para tentar suspender o reajuste das tarifas. O aumento foi liberado pela Justiça, na última sexta (7) e entrou em vigor no sábado (8). Com a medida, as passagens que era R$ 3,10 passaram para R$ 3,40. 

Nota da Sempre Editora:

"A Sempre Editora pede que sejam investigadas as agressões e ameaças sofridas pelos jornalistas de O TEMPO durante a cobertura do protesto contra o reajuste das tarifas de ônibus em Belo Horizonte, o que impediu o pleno exercício da liberdade de imprensa justamente em um momento em que a informação é imprescindível para a cidadania. A empresa também condena excessos cometidos pela Polícia Militar na contenção a manifestações populares."

Posição do Governo do Estado:

"Com relação aos lamentáveis fatos ocorridos na noite de hoje, no conflito com manifestantes contra a Prefeitura de Belo Horizonte pelo aumento das tarifas de ônibus, o Governo do Estado determinou uma apuração rigorosa dos fatos. A Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania está acompanhando os desdobramentos do conflito e participará diretamente da investigação a ser feita pelos órgãos competentes, incluindo a escuta livre de todos os envolvidos e a perícia das imagens obtidas pela imprensa e pelas câmeras de vigilância. O Governo de Minas Gerais reitera também sua posição de garantir o direito democrático de livre manifestação, assim como o de ir e vir de todos cidadãos, e a não tolerância com agressão a agentes públicos no exercício de sua função."

Sindicato da categoria:

Por meio de nota, o Sindicato dos Jornalistas repudiaram a atitude da Polícia Militar e afirmou "não aceita a violência contra a imprensa livre".

"O ataque e intimidação a jornalistas é temerário no Estado democrático de direito, tendo em vista a necessidade de preservação da liberdade de expressão e das garantias constitucionais da atividade jornalística. Assim, o Sindicato exige uma resposta do Governo de Minas sobre o atentado contra a imprensa, assim como espera esclarecimentos sobre as demais denúncias de prisões arbitrárias e violações de Direitos Humanos durante a manifestação.

O Sindicato desde já coloca-se à disposição, com todo o suporte institucional e jurídico necessário, dos repórteres e demais profissionais de imprensa que eventualmente tenham sido impedidos de exercer a sua função durante a manifestação".

 

 

Veja os vídeo:

 

Atualizada às 22h43. 

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