Investigação

Marília Mendonça: Polícia aponta homicídio culposo e pede arquivamento do caso

A informação foi divulgada durante coletiva de imprensa da instituição para apresentar a conclusão do inquérito

Por Raíssa Oliveira, Lucas Gomes e Tatiana Lagôa
Publicado em 04 de outubro de 2023 | 10:37
 
 
 
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A Polícia Civil (PC) concluiu que houve homicídio culposo por parte dos pilotos no acidente aéreo que matou Marília Mendonça e outras quatro pessoas, em novembro de 2021, em Piedade de Caratinga, região Leste de Minas. Segundo o delegado Sávio Assis Machado Moraes, a investigação apontou que a tripulação descumpriu a ordem de pouso determinada para o aeródromo. A informação foi divulgada durante coletiva de imprensa da instituição para apresentar a conclusão do inquérito na manhã desta quarta-feira (4 de outubro). 

"Apesar de as torres não constarem no Notam (sigla em inglês para Notice to Airman e que na prática é um documento que tem por finalidade divulgar, antecipadamente, toda informação aeronáutica) em duas cartas da aeronáutica havia a previsão dessas torres de transmissão, então houve uma falha na análise prospectiva da tripulação. E, a partir daí, saíram da área do aeródromo para uma área desconhecida. Descumpriram a ordem de pouso na velocidade da perna do vento. Acreditamos que houve uma tomada de decisão equivocada pois não tiveram ciência das cartas e acabaram colidindo com as torres", detalhou o delegado. 

Após as investigações, a PC concluir por três homicídios culposos cometidos por parte do piloto e do copiloto, Geraldo Martins de Medeiros Júnior e Tarciso Pessoa Viana. As vítimas são a cantora Marília Mendonça, o produtor Henrique Ribeiro, e o tio e assessor da sertaneja Abicieli Silveira Dias Filho

"Houve imprudência da tripulação por ter alongado a perna de vento e ter saído da área de proteção do aeródromo. No retorno focaram no aeródromo e acabaram colidindo. A falha de negligência foi pela falha na análise do plano de voo porque tudo leva a crer que não tomaram ciência das cartas que previam as torres", explicou Moraes. 

No entanto, diante da morte dos investigados no acidente, a Polícia Civil sugeriu a extinção da punibilidade dos tripulantes e, consequentemente, o arquivamento do inquérito. As investigações também descartaram dano ambiental causado pela queda do avião.

Procurado, o Ministério Público diz que analisará o inquérito e que, no prazo de 15 dias, vai definir as medidas cabíveis.

‘Imprudência e negligência’

O delegado Ivan Lopes, responsável titular pelo caso, afirmou que todas as outras hipóteses levantadas no curso da investigação foram descartadas. “Não houve nenhum problema técnico na aeronave. O IML também descartou qualquer problema súbito que o piloto possa ter sofrido. Um eventual atentado contra a aeronave também foi descartado. É fato que a aeronave se chocou com a torre de energia e que ela não estava sinalizada, mas não era obrigatório que elas estivessem sinalizadas por conta da distância e da zona onde elas estão. Então caminhamos para uma negligência e uma imprudência que possa ter gerado isso”, explica.

Após a conclusão do relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que considerou que o procedimento de pouso do piloto contribuiu para o acidente após piloto ter feito uma rota alternativa à usual para pousos no aeroporto de Caratinga, a PC concluiu que a queda do avião ocorreu por negligência e imprudência dos pilotos. “Os manuais de procedimento exigiam que o piloto analisasse previamente as manobras necessárias para o pouso. Embora o Notam não constasse a existência das torres que estavam fora da área, havia outros dois documentos que possibilitaram ao piloto identificar essas torres”, afirmou. 

Defesa de pilotos questiona conclusão da Polícia Civil 

Em nota divulgada à imprensa, a equipe de defesa da tripulação a conclusão da Polícia Civil de Caratinga como sem "fundamento nas provas do inquérito e é até injuriosa com a imagem do piloto e copiloto". Segundo o advogado Sérgio Alongo, o acidente ocorreu porque a "Cemig instalou a rede de alta tensão na reta final do aeródromo de Caratinga na altitude do tráfego padrão que é de 1000 pés,c ujo aeródromo não tinha Carta Visual de Aproximação". (Leia a nota na íntegra).

Segundo a PC, a linha de transmissão não tinha obrigatoriedade de sinalização. Após o acidente, o Cenipa também orientou que a Cemig sinalizasse os cabos de alta tensão onde o avião colidiu. A companhia mineira atendeu a recomendação em setembro deste ano. Sobre a alegação da defesa, a reportagem questionou a Cemig e aguarda retorno.

Relembre o acidente

O avião com a cantora sertaneja decolou de Goiânia, na tarde de 5 de novembro de 2021, com destino a Caratinga, onde Marília teria uma apresentação. No entanto, a aeronave de pequeno porte caiu em uma cachoeira de Piedade de Caratinga, próximo ao acesso da BR-474, na região do Vale do Rio Doce, por volta das 15h30. Horas depois do acidente, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais confirmou que Marília Mendonça estava entre as vítimas fatais. 

Além da morte da cantora, outros dois óbitos foram atestados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) após queda da aeronave que trazia o artista e outros dois membros da sua equipe para Minas Gerais.

Morreram o produtor da cantora, Henrique Ribeiro, e seu tio Abicieli Silveira Dias Filho – nomes e óbitos também foram atestados pela assessoria da própria artista. O piloto e o copiloto, Geraldo Martins de Medeiros Júnior e Tarciso Pessoa Viana, também não sobreviveram à queda.

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