“Com tanta tragédia acontecendo com as pessoas LGBTQIA+, por que falar do orgulho?”. A indagação de Azilton Lima, presidente do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual (Cellos-MG), é respondida por ele mesmo. “Pois falamos de pessoas que sobrevivem ao sair nas ruas, ao ir para o trabalho, ao frequentar todos os locais e ao se socializarem”.
Junho marca o mês do orgulho LGBTQIA+ por causa de um marco: a revolta de Stonewall. Liderado por travestis, lésbicas e gays, o protesto pôs fim às agressões que os LGBTQIA+ sofriam em batidas policiais em um bar de Nova York, em 1969. Desde então, o ato deu início a uma marcha por direitos igualitários e culminou em paradas do orgulho pelo mundo.
“O mês do orgulho é para celebrar e para que possamos dialogar com a sociedade para que ela possa entender nossas demandas. Quem disse que é errado dois homens ou duas mulheres se beijarem? O ano de 2022 marca a nossa volta com a Parada do Orgulho em São Paulo. Em Belo Horizonte será em 6 de novembro. Estaremos nas ruas”, afirma Lima.
Ocupar as ruas durante o ato tem um simbolismo que vai muito além, conforme explica o presidente do Cellos-MG. “A parada tem significado de manifestação política, de reivindicação de direitos. Queremos dialogar com a sociedade para, em primeiro lugar, falar que existimos e depois ressaltar que estamos aqui e temos que conviver. Ainda que queiram nos silenciar, não é possível. Ocupamos todos os espaços”.
Os dados, ainda que não oficiais, mostram a necessidade de assegurar os direitos das pessoas LGBTQIA+, principalmente o da vida. Levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB) mostra que o Brasil teve aumento de 8% nos homicídios e suicídios em 2021. Saltou de 237 para 300 mortes violentas. Minas Gerais é o terceiro Estado com mais registros (27).
“Os levantamentos que temos são de um grupo que fazem um trabalho hercúleo. Somos invisibilizados. Temos um apagamento institucional muito grande, e isso não é vitimização. Nenhuma vida poderia ser perdida”, afirma Lima, completando a fala com relatos dos requintes de crueldade que acontecem nas mortes de pessoas LGBTQIA+.
“Uma coisa é uma pessoa te dar um tiro, e outra é você ser morto a machadadas, 49 facadas. A violência é tão grande que desconfigura, e a família tem até dificuldade em fazer o reconhecimento”.
Mesmo diante do preconceito enfrentado, Lima reforça a importância de celebrar o orgulho LGBTQIA+ de forma especial neste mês. “Já perdi a conta de quantas vezes fui agredido verbalmente, graças a Deus fisicamente nunca. O mês tem que ser de orgulho, pois temos orgulho de amar, orgulho dos nossos amores. Nós vamos sempre estar nas ruas denunciando. Não nos calarão, e as pessoas precisam entender”.
O cenário político conservador vivido no Brasil contribui para a crescente dos casos, na visão do presidente do Cellos-MG. “Temos a cristalização do ódio, que é assustadora. Temos que reaprender o processo civilizatório. Quem ocupa cadeira no Palácio do Planalto não nos ajuda. Pessoas acham que precisamos ser curados. Nada disso. Fazemos parte da sociedade da forma que somos”, finaliza.