Minas Gerais pode enfrentar uma epidemia de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como a dengue, em 2024. O alerta foi divulgado pelo Ministério da Saúde, nesta sexta-feira (8 de dezembro), e aponta que o Estado apresenta "potencial epidêmico", conforme monitoramentos.
Além de Minas, o Espírito Santo também está sob alerta na região Sudeste do país. Segundo a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente da pasta, Ethel Maciel, estados da região Centro-Oeste e o Paraná, no Sul do Brasil, estão sob alerta alto.
"A região Centro-Oeste vai ficar em nível epidêmico, temos muitas pessoas que ainda não tiveram a doença, crianças e idosos são os que mais nos preocupam. Na região Sudeste, um alerta especial para Minas Gerais e Espírito Santo, com potencial epidêmico. O Paraná tem um potencial muito alto e o Nordeste vai aumentar, mas pelas modelagens é tendência que fique abaixo do nível epidêmico", afirmou.
A secretária explicou que o crescimento dos casos ocorre devido a chegada do período chuvoso, quando, historicamente, o número de casos de dengue, chikungunya e zika registram alta. No entanto, a situação pode ser potencializada no próximo ano devido às mudanças climáticas e os efeitos do El Ninõ. "A situação é mais preocupante porque nós temos as mudanças climáticas. O fenômeno do El Ninõ trará mudanças no tempo de transmissão do mosquito e no tempo que a larva se transforma no adulto, por conta desse acrescimento", pontuou.
Diante das previsões, o Ministério afirmou que mais de 11 mil profissionais de saúde foram treinados para atuar na prevenção, no tratamento e controle das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. A pasta federal anunciou também que vai investir R$ 256 milhões em programas de combate às arboviroses.
A reportagem questionou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) sobre o caso e aguarda retorno. A matéria será atualizada com o posicionamento tão logo ele seja enviado.
Números
Até 4 de dezembro de 2023, o Brasil registrou mais de 1,6 milhão de casos de dengue, 17,5% a mais que no ano passado, quando chegou a 1,3 milhão no mesmo período. A taxa de letalidade se manteve em 0,07% nos últimos dois anos. 1.053 mortes foram confirmadas neste ano e 999 no ano anterior.
Segundo o Ministério da Saúde, a variação climática, o aumento das chuvas, o número de pessoas suscetíveis às doenças e o ressurgimento de novos sorotipos do vírus são fatores que podem ter contribuído para esse crescimento. Com a identificação do sorotipo 4 da dengue no Rio de Janeiro —desaparecido na cidade desde 2018—, o Brasil tem hoje quatro tipos de dengue em circulação ao mesmo tempo.
Em relação ao zika vírus, até o final de abril (quando os municípios fizeram a notificação), houve 7,2 mil casos da doença. No mesmo período de 2022, que totalizou 1,6 mil ocorrências da doença, a alta foi de 289%.
A chikungunya registrou queda de 42,2% no país. Até dezembro de 2023, o país somou 145,3 mil casos da doença, contra 264,3 mil em 2022. Na contramão, com alta de 142,6%, está São Paulo. Até 1º de dezembro, foram registrados 2.167 ocorrências da doença e 12 óbitos. No mesmo período do ano passado, houve 893 confirmações, mas sem óbitos.
Os resultados do LIRAa (Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti) e do LIA (Levantamento de Índice Amostral) , 74,8% dos criadouros do mosquito foram encontrados nas residências — vasos e pratos de plantas, garrafas retornáveis, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros, fontes ornamentais e materiais em depósitos de construção—, 22% em armazenamento de águas elevadas, como caixas d'água e cisternas, e 3,2% estavam em depósitos de pneus e lixo.
Leia nota do governo de Minas na íntegra:
"O Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), trabalha de forma contínua, durante todo o ano, para monitorar e controlar a infestação do mosquito Aedes aegypti e para impedir o avanço das arboviroses dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Nos meses mais quentes, em que há maior incidência da transmissão das doenças, as ações e os cuidados estaduais são intensificados.
No dia 13/11, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, anunciou a criação da Política Estadual para Vigilância, Prevenção e Controle das Arboviroses. A política se configura como um conjunto de ações com a finalidade de prevenir e controlar a ocorrência dessas endemias na população e garantir o acesso a serviços de saúde, de forma oportuna, resolutiva, equânime, integral e humanizada, no âmbito do Sistema Único de Saúde em Minas Gerais (SUS-MG).
Está previsto ainda, o investimento de R$30,5 milhões anuais, sendo R$ 15,6 milhões repassados às prefeituras e R$ 14,9 milhões aos consórcios municipais de saúde para a aquisição de drones que vão auxiliar no combate à proliferação do Aedes aegypti no estado.
Para preparar a rede de atendimento e de assistência do estado para o novo período sazonal das arboviroses, a SES-MG, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e o Ministério da Saúde realizaram, nos dias 23 e 24 de novembro, um exercício de simulação de surto de arboviroses para preparação e resposta às emergências em saúde pública no Estado de Minas Gerais. O evento teve como objetivos identificar lacunas e fortalecer os sistemas de preparação e resposta, além de discutir os elementos-chave do Plano Estadual de Contingência para o Enfrentamento das Arboviroses (PEC-Arbo), para o período de dezembro de 2023 a novembro de 2025.
A SES-MG, por meio do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais (Cievs Minas), também realizou, de 28 a 30/11, o I Encontro da Rede de Preparação, Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Com o objetivo de fortalecer as ações de prevenção, de vigilância e de enfrentamento às emergências de saúde no estado, o evento reuniu profissionais que atuam na Rede Cievs-Minas, na Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica Hospitalar de Minas Gerais (Renaveh-MG) e na Vigilância das Unidades Regionais e Municipais de Saúde do Estado.
Dentre as ações contínuas da Secretaria de Estado de Saúde no combate às arboviroses, destacam-se também o monitoramento semanal de casos, a elaboração de boletim epidemiológico e o planejamento de solicitação de inseticida, junto ao Ministério da Saúde, para o envio aos municípios, além de reuniões periódicas com as Unidades Regionais de Saúde para discutir e orientar sobre as medidas de prevenção e controle das arboviroses.
Biofábrica Wolbachia
No primeiro semestre de 2024, será inaugurada a biofábrica Wolbachia. O Método Wolbachia é patenteado pelo World Mosquito Program, iniciativa internacional sem fins lucrativos que trabalha para proteger a comunidade global das doenças transmitidas por mosquitos. Conduzido no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Saúde, o método consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam no mosquito, contribuindo para a redução da transmissão de arboviroses.
As obras da biofábrica estão sendo executadas pela Vale S.A, como parte do Acordo Judicial, assinado pelo Governo de Minas, o Ministério Público de Minas Gerais, o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública de Minas Gerais e a mineradora, que visa reparar os danos decorrentes do rompimento das barragens em Brumadinho. A empresa tem a responsabilidade de construir, equipar e mobiliar a unidade, além de custear seu funcionamento por cinco anos, contados a partir da licença de operação, com investimento total de cerca de R$77 milhões. Além disso, cabe à Vale S.A pagar as despesas de segurança e de conservação do local, no período entre a conclusão da obra e o início da operação.
De acordo com o termo de compromisso firmado entre as partes, os mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia pipientis produzidos na biofábrica serão destinados aos 22 municípios da Bacia do Rio Paraopeba. A expectativa da SES-MG é que ocorra a expansão da produção de mosquitos para todo território estadual.
Com a biofábrica em funcionamento, estima-se a produção semanal de dois milhões de mosquitos que, uma vez inseridos no meio ambiente, vão se reproduzir com os Aedes aegypti locais e estabelecer uma população com Wolbachia. Os insetos não são geneticamente modificados e não transmitem doenças.
Prevenção
A SES-MG reforça a importância da colaboração de todos os mineiros na prevenção e combate ao Aedes aegypti.
Medidas simples, como a eliminação de recipientes que acumulam água parada, são fundamentais para interromper o ciclo de proliferação do vetor.
- Mantenha lixeiras sempre tampadas.
- Deixe o quintal sem lixo e entulhos e coloque garrafas e baldes de cabeça para baixo.
- Mantenha reservatórios de água do ar-condicionado, geladeira e umidificador secos e vazios.
- Os ralos devem estar limpos e protegidos por tela.
- Não use pratinhos que acumulam água sob os vasos de planta.
- Os bebedouros dos animais devem ser limpos com bucha ou escova semanalmente.
- Mantenha as canaletas e calhas desobstruídas para não acumularem água com a chegada das chuvas.
- Faça manutenção periódica de piscinas e caixas d’água.
- Coloque plantas que acumulam água em local coberto.
- Deixe lonas bem esticadas, evitando a formação de poças d’água.
A SES-MG orienta ainda que a população adote medidas preventivas individuais, como o uso de repelentes, roupas adequadas e a manutenção de ambientes livres de possíveis criadouros do mosquito.
Sintomas e atendimento
Em caso de febre alta, dores musculares, dor de cabeça ou manchas vermelhas na pele, é imprescindível procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para avaliação médica e acompanhamento.
A SES-MG orienta que as UBS são a principal porta de entrada para os serviços do SUS e estão capacitadas para realizar o diagnóstico correto das arboviroses, oferecerem o tratamento dos casos leves e encaminharem o paciente acometido por infecções graves para as Unidades de Pronto Atendimento ou internação hospitalar.
Todos os 853 municípios mineiros contam com Unidades Básicas de Saúde.
Cenário em Minas Gerais
Os dados são atualizados semanalmente e estão disponíveis no Painel Arboviroses."
*Com Folha Press