2021 x 2020

Minas registra média diária de raios quase cinco vezes maior

Elevação se deve ao fenômeno La Niña, que atuará até março, segundo especialistas; de 2000 a 2019, 174 morreram devido a descargas elétricas no Estado

Por Bruno Menezes
Publicado em 19 de janeiro de 2021 | 06:00
 
 
 
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A incidência de raios no Brasil praticamente dobrou entre 2019 e 2020. Foram registrados 62 milhões de raios em 2019, e, em 2020, 121 milhões – sendo 2,2 milhões apenas em Minas Gerais, média de 6.027 por dia no Estado. A tendência de elevação parece se manter, já que neste ano, apenas entre 1º e 7 de janeiro, 244.029 raios atingiram Minas Gerais – média diária de 34.861, o que resulta em elevação de 478,41% nos registros. Os dados são do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

De 2000 a 2019, em Minas, foram confirmadas 174 mortes de pessoas atingidas por descargas elétricas, dado que coloca o Estado em segundo lugar no ranking nacional de óbitos em decorrência de raios nesse período, atrás apenas de São Paulo, que teve 327 mortes. A descarga elétrica de um raio foi a causa do óbito mais recentemente contabilizado pela Defesa Civil de Minas no balanço de mortes relacionadas ao atual período chuvoso, que começou em outubro e segue até março – são dez no total. 

O óbito foi na última sexta-feira, em BH, quando um homem de 22 anos não resistiu após ter sido atingido por um raio em um campo de futebol, no bairro Marçola, na região Centro-Sul, no fim da tarde, durante intenso temporal. Bombeiros foram acionados para atender o jovem, que estava inconsciente, mas respirando, segundo testemunhas. Após prestar os primeiros socorros, uma equipe da corporação transferiu o ferido para uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que o levou a um hospital. No entanto, a vítima não resistiu.

Entenda
O aumento significativo da incidência de raios no Brasil pode ser explicado pela ocorrência do fenômeno La Niña, que é o resfriamento das águas do oceano Pacífico equatorial, de acordo com especialistas, e acarreta mudança nas condições de formação de nuvens e altera a circulação da atmosfera, favorecendo a ocorrência de tempestades. 

“O pico de diminuição da temperatura chega a 1,5°C e está ocorrendo agora, entre dezembro e janeiro. Como essa massa de água é gigantesca, quando a temperatura dela varia para mais ou para menos, a evaporação e a formação de nuvens na região mudam. Essas nuvens alteram a circulação da atmosfera do planeta como um todo. Isso favorece a formação de tempestades”, diz o coordenador do Elat, Osmar Pinto Júnior.

Estudos do Elat indicam que, com o La Niña, a tendência é de mais tempestades com raios nas regiões Norte e Nordeste do país e menos na região Sul. A previsão é que as temperaturas das águas do Pacífico equatorial se normalizem em março. 

 

Fenômeno matou ao menos três no Estado 
Além da morte em BH, na semana passada, no último dia 9, José Paulo, 54, e Tiago Salustino, 30, pai e filho, morreram na área rural de Santo Antônio do Itambé, na região Central de Minas, após terem sido atingidos por um raio enquanto cortavam eucalipto. Anderson Martins, 36, também recebeu a descarga elétrica, mas sobreviveu.

“Ouvi um barulho igual a um tiro e caí para trás. Depois, quando acordei, minha cabeça estava doendo demais, e eu estava completamente desorientado”, lembra Martins. “Coloquei eles dentro da caminhonete e fui para a parte urbana. Eu estava com muita dor na cabeça e nos pés. Vim correndo para a cidade, mas infelizmente eles morreram”, lamentou. 

As mortes não tinham sido incluídas no boletim da Defesa Civil de Minas até a publicação desta reportagem.

Na última semana, viralizou na internet um vídeo feito pelo vereador José Omar Oliveira, em Minduri, no Sul de Minas. Na gravação, ele mostra a paisagem quando um estrondo é ouvido, e um raio cai perto dele e de um amigo. Apesar do susto, ninguém se feriu. 

Medição
Segundo o Elat, no dia das duas mortes em Santo Antônio do Itambé, foram registrados 121.791 raios em Minas – atingiram o solo 44.738 deles. 

Mortes
De 2000 a 2019, o Elat registrou 2.194 mortes de brasileiros em decorrência de raios. Do total, 26% dos óbitos ocorreram em áreas rurais. Além disso, 82% das vítimas eram homens, e 43% das ocorrências de mortes foram no verão. 

Balanço
Dados do Elat dão conta de que, em 2020, o Brasil teve 74 mortes em decorrência de raios.

 

Quem se sentir lesado pode pedir reparação 
Há cerca de um mês, o profissional de marketing Rodrigo Dias Ferreira, que mora no bairro Camargos, em Contagem, na região metropolitana, diz ter amargado prejuízos por conta da incidência de raios após a TV e o modem de internet terem sido queimados devido a descargas elétricas. “Senti um raio muito próximo, levantei para ver se os aparelhos estavam na tomada e percebi que a TV e o modem queimaram. Estou com protocolo aberto na Cemig, já mandei dois e-mails, mas não tive resposta”, lamenta. 

O bancário Ayrton Silva Viegas passou por situação parecida no mês passado. Morador do bairro Copacabana, na região da Pampulha, em BH, ele afirma que teve um monitor e um videogame queimados por raio. “Segundo a Cemig, não houve descarga elétrica”, relata.

Resposta
Engenheiro de segurança da Cemig, Francis Nascimento explica que há um processo de análise do pedido de ressarcimento após o cliente fazer a solicitação via site ou telefone 116.

“A Cemig vai verificar se teve alguma alteração em seus equipamentos e alguma ocorrência na rede que justificasse a interferência na rede do consumidor. Se tiver ocorrido, aí ela pode ou não enviar um técnico”, disse o engenheiro.
(Com Natália Oliveira e Rafaela Mansur)

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