"DOM"

Mineiros formavam grupo paramilitar de traficante que fugiu da PF de helicóptero

No último dia 30 de junho a PF tentou prender o criminoso em Ponta Porã (MS) e no Paraguai; parte do 'exército' que fazia a segurança do traficante foi preso, entre eles, três mineiros

Por O TEMPO
Publicado em 05 de julho de 2023 | 15:42
 
 
 
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Dois instrutores de tiro e um neonazista que já foi preso em 2011 por espancar um adolescente na Savassi, em Belo Horizonte. Estes são os três mineiros presos no fim de junho sob a suspeita de integrarem o grupo paramilitar, que contava inclusive com ex-militares de diversas partes do Brasil e do mundo, responsável por fazer a segurança do megatraficante "Dom", que conseguiu fugir de helicóptero da prisão durante uma operação da Polícia Federal em Ponta Porã (MS), na divisa com o Paraguai.

Antônio Joaquim Mota, conhecido como Motinha ou Dom, seria responsável pelo envio de grandes quantidades de cocaína, que deixavam a fronteira brasileira e seguiam até os portos dos Santos (SP) e Itajaí (SC), de onde eram despachadas para todo o mundo. O criminoso é apontado como o atual líder do grupo chamado de "clã Mota", que já está na terceira geração do "ramo" criminoso.

Dias antes da operação, um vazamento de informações, na visão da PF, permitiu que Dom fugisse de helicóptero de sua fazenda no lado paraguaio, na cidade de Pedro Juan Caballero. Apesar do líder da organização criminosa ter conseguido fugir, outros seis membros acabaram presos na operação, entre eles, os três mineiros.

Quem são eles

Jefferson Gustavo Correa Honorato (preso)

Preso em Belo Horizonte durante a operação, Jefferson Honorato é militar da reserva, tendo servido no Brasil e na França. Ele também foi candidato a vereador em 2020 pelo PDT, na cidade de Santa Luzia, na região metropolitana da capital mineira, quando obteve 28 votos.

Em seu LinkedIn, ele se apresenta como especialista em operações de segurança marítimas, dono de uma empresa privada militar e CPO, que significa Operação de Proteção Particular, em tradução livre.

Nas redes sociais, ele também diz ser criador de conteúdo sobre armas. No Instagram, ele totaliza 18 mil seguidores, mas também conta com cerca de 10 mil seguidores em redes como Facebook e TikTok, sempre publicando vídeos com armamentos pesados e equipamentos táticos militares.

Em nota, o advogado de Jefferson, o criminalista Dr. Bruno Correa Lemos, afirmou "que os fatos narrados no processo judicial não condizem com a realidade". 

"Todos os pontos defensivos serão apresentados ao longo da ação penal e, naturalmente, a verdade real virá à tona", garantiu. 

Assista:

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Victor Gabriel Gomes Guimarães Romeiro (preso)

Diferentemente de Honorato, Victor Gabriel Romeiro é bastante discreto nas redes sociais. Irmão de um policial penal de Minas Gerais, ele é conhecido como "Preto" e, assim como o outro mineiro detido, se apresenta no seu perfil fechado do Instagram como Instrutor de Armamento e Tiro (IAT), Armeiro (profissional que faz manutenção em armas) e despachante para Posse, Porte e Certificado de Registro (CR) para atiradores caçadores e atiradores esportivos.

O homem aparece como sócio administrador de uma empresa chamada Tigre Clube e Escola de Tiro. Com endereço em Contagem, na região metropolitana de BH, a reportagem de O TEMPO não conseguiu localizar nenhum registro público ou o endereço da suposta casa de tiro do preso.

Iuri Silva de Gusmão (preso)

Conhecido como "Légio", Iuri já estampou as páginas policiais em outra ocasião, em 2011, depois de ser preso aos 18 anos sob a suspeita de integrar um grupo neonazista acusado de espancar homossexuais, gays e negros na Savassi, região Centro-Sul de BH.

Preso na operação, ele aparece fortemente armado em fotos ao lado de outros integrantes do grupo paramilitar do megatraficante brasileiro. No LinkedIn, ele também se apresenta como CPO, além de especialista em operações na selva, combate próximo em veículos, combate em cômodo curto, combate com pouca luminosidade, resposta médica em combate, além de formação universitária como piloto de aeronaves.

Gusmão também traz uma lista de experiências profissionais na rede social, com atuação na Academia Européia de Segurança, no evento Extreme Training Brazil, e como proprietário da empresa Armory Tech, de venda de equipamentos militares.

O preso também diz ter experiência internacional em países como Bolívia, Uruguai, Chile, Paraguai, Colômbia, Portugal, Espanha, Alemanha e Polônia. Ele também se declarou fluente em Português, Inglês e Espanhol, e, ainda, falaria francês intermediário.

João Paulo Torres Veiga (foragido)

Além dos outros três presos, um quarto mineiro envolvido com a facção criminosa é considerado foragido após conseguir fugir, assim como o líder da organização, segundo a PF.

Conhecido como "Checheno", João Paulo Torres Veiga aparece como proprietário de uma empresa de "cobranças e informações cadastrais", chamada Jotta Alpha Consulting, com sede no bairro Santo André, em BH. Nenhuma outra informação sobre ele foi encontrada nas redes sociais.

O grupo paramilitar

De acordo com a PF, "Dom" coordena uma sofisticada organização criminosa paramilitar a serviço do tráfico internacional de drogas. O grupo conta com paramilitares brasileiros e estrangeiros com experiência em conflitos internacionais, recrutados justamente por suas experiências.

A Justiça Federal expediu 11 mandados de busca e apreensão e 12 mandados de prisão, que tinham como alvos nove brasileiros, um italiano, um romeno e um grego. A operação policial foi deflagrada de maneira simultânea no Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Durante as investigações, a PF constatou que a organização criminosa possui um grande poder bélico, com coletes balísticos, drones, óculos de visão noturna, granadas, além de armamento de grosso calibre, a exemplo de fuzis .556, 762 e .50, o último com capacidade para perfurar blindagens e abater aeronaves.

Na operação, foram realizadas duas prisões em Minas Gerais, uma em São Paulo, uma no Rio Grande do Sul, e duas em Mato Grosso do Sul. Além dos suspeitos presos, a PF apreendeu cerca de 14 armas, além de 40 caixas de munição, seis granadas e colete balístico.

Veja quem são os outros integrantes do grupo paramilitar:

Ygor Nunes Nascimento (preso)

Terceiro sargento da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, ele foi detido no quartel da unidade em Dourados. Ygor, que estava lotado no Departamento de Operações de Fronteira (DOF), uma tropa de elite especializada em atuar na região fronteiriça, o militar foi posteriormente transferido para o presídio militar em Campo Grande.

Em comunicado oficial, o DOF esclarece que o indivíduo detido encontrava-se em fase de estágio, não sendo parte ativa da unidade, não utilizando o uniforme característico do departamento, tampouco integrando os grupos operacionais, de inteligência ou administrativo.

Alberto Florisbal Schonhofen (foragido)

Nos registros da Receita Federal, consta como titular de uma empresa de comércio varejista especializada em cosméticos, produtos de perfumaria e higiene pessoal, sediada em Charqueadas, no estado do Rio Grande do Sul. Além disso, ele teve experiências anteriores como conselheiro tutelar na cidade e trabalhou com grupos de escoteiros. Contudo, ele conseguiu escapar antes da chegada das autoridades durante a operação da Polícia Federal.

Luis Guilherme Chaparro Fernandes (preso)

Lugui, como é conhecido, é sócio-administrador de um escritório de arquitetura e móveis situado em Ponta Porã, cidade localizada na fronteira seca com Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Sua prisão também ocorreu durante a operação.

Wanderlei Cunha Júnior, conhecido como Yamma (preso)

Wanderlei encontra-se entre os indivíduos detidos. Em suas redes sociais, ele se identifica como ex-militar e afirma possuir Certificados para Serviços de Proteção em Ambientes de Alto Risco, como Empreiteiro Militar Privado, Operador de Proteção Corporativa, Atendimento Tático a Vítimas de Combate e Operador de Segurança Marítima. Seu perfil também destaca sua habilidade como instrutor de armas de fogo para revólveres e carabinas, abrangendo desde conhecimentos básicos até técnicas avançadas.

Nikolaos Kifanidis (foragido)

Nascido na Grécia, ele é um especialista em segurança pessoal, apresentando-se nas redes sociais como um "operador" altamente capacitado para proteção individual. O grego possui licença para o uso de armas de fogo, incluindo as de alto calibre, tendo atuado de forma ostensiva no Oriente Médio e na Ásia. Além de sua experiência com armamentos, Kifanidis é um especialista em artes marciais e autodefesa. Antes de se estabelecer em Mato Grosso do Sul e no Paraguai, ele residia em Londres.

Giorgio Otta (foragido)

Nas redes sociais, o italiano compartilha fotos em que aparece armado. Em uma imagem nas redes sociais, ele aparece ao lado do brasileiro Wanderlei Cunha Junior exibindo bebidas e posando para fotos ostentando armas.

Musat Corian Martel (foragido)

É romeno e, nas redes sociais, nenhuma informação sobre sua história ou paradeiro foi encontrada. Em foto obtida pela PF, ele aparece segurando um fuzil ao lado de Ygor e de Wanderlei.

"Negócio" de família

Antônio Joaquim Mota é o atual líder do chamado "clã Mota", organização criminosa que já atuou no contrabando de cigarros, aparelhos eletrônicos e agora se especializou no tráfico internacional de drogas. Motinha teria negócios com grandes traficantes que atuavam na região e que estão presos, como Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro.

A operação foi chamada de Magnus Dominus (Todo Poderoso, em latim), em referência ao líder do grupo criminoso, que teria se autointitulado "Dom", em referência a Dom Corleone, do filme "O Poderoso Chefão".

"Para viabilizar o cumprimento simultâneo de medidas no Paraguai, foi implementada intensa cooperação policial direta com as autoridades paraguaias, contando também com a participação do Ministério Público Federal", diz a PF em nota.

(Com Estadão Conteúdo)

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