Complexo de Fábrica

Moradores evacuados por risco em barragens não têm data para voltar para casa

Estruturas da Vale em Ouro Preto e Itabirito têm risco iminente de rompimento

Por Gabriel Moraes
Publicado em 01 de julho de 2020 | 21:03
 
 
 
normal

Durante esta quarta-feira (1), 15 famílias da zona rural de Ouro Preto e Itabirito, na região Central de Minas Gerais, precisaram deixar suas casas devido ao risco iminente de rompimento de duas barragens do Complexo de Fábrica da Vale - que tem cinco estruturas ao todo. No entanto, não há data para a vida dessas pessoas voltar ao normal.

Isso aconteceu por causa do aumento da mancha de lama em caso de uma possível ruptura. "Houve um novo estudo de uma mancha de dam break. Esse novo estudo aumentou a área de inundação e a legislação é muito impositiva. Essas barragens da Forquilha, em que as manchas de inundação, em um possível rompimento, carreia para esses locais. Então, com a barragem em Nível 3 as pessoas precisam ser evacuadas", explicou o coordenador adjunto da Defesa Civil estadual, tenente-coronel Flávio Godinho.

Atualmente, Forquilha I e III estão em Nível 3 (quase colapso ou colapso); Forquilha II está em Nível 2 (alerta); e IV em Nível 1. De acordo com um novo estudo, fruto de um acordo entre a mineradora, o governo de Minas e o Ministério Público (MPMG), há uma nova situação no complexo - que também conta com a barragem de Grupo -  pois considera-se um cenário "extremo de rompimento" das cinco estruturas ao mesmo tempo.

Evacuação

Segundo Flávio Godinho, uma das famílias se recusou a sair de casa, mas isso está em processo de negociação. "As equipes foram a campo e nós realizamos todas as evacuações, ou seja, eram 16 escrituras de casa e elas foram evacuadas, exceto uma localidade que está em negociação ainda, porque uma família não quer sair. Mas existe uma possibilidade, porque parte do imóvel dela está na mancha de inundação. Então, tem como a gente isolar essa parte e ela utilizar somente a outra parte do imóvel", disse,

A princípio, as famílias retiram documentos e roupas. Posteriormente, um caminhão de mudança pago pela Vale vai recolher móveis, eletrodomésticos e animais. "Foram evacuadas 17 pessoas para hotéis da região e casas de familiares. Elas terão inicialmente R$ 5 mil de doação pela Vale e as outras negociações continuam pela empresa  e com essas pessoas. Todo o custo da operação foi feita pela mineradora, tanto o delocamento das pessoas como as hospedagens. Em um segundo momento será feita locação de casas para que elas possam ter uma maior dignidade morando em uma casa alugada", completou.

Não existe data limite para as pessoas retornarem às suas casas. Segundo a Defesa Civil, para elas voltarem às suas residência, só tem duas possibilidades: as barragens serem esvaziadas, o que leva anos para acontecer, ou o nível de alerta delas diminuir.

Um dos moradores do distrito de Eugênio Correia estava trabalhando quando foi avisado que deveria deixar a casa em que mora sozinho. "Tem dois anos que moro lá. Tirei as minhas coisas e agora e aguardar. Tocar a vida para frente", contou o caseiro de 56 anos, que pediu para não ter o nome divulgado.

Outro lado

Em nota, a Vale informou que a ação é de forma preventiva e que a empresa presta assistência integrada às famílias. Leia na íntegra:

"Por orientação das Defesas Civis Municipais e Estadual, em consonância com o Ministério Público e a Vale, moradores das zonas rurais de Itabirito e Ouro Preto estão sendo transferidos, nesta quarta-feira (1), para hotéis da região, respeitando suas preferências. A mudança é uma medida preventiva de segurança decorrente da ampliação da Zona de Autossalvamento (ZAS) das barragens Forquilha I, II, III e IV e Grupo, do Complexo de Fábrica da Vale. O aumento dos limites da ZAS é resultado do Termo de Compromisso firmado entre o Estado de Minas Gerais, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Vale para a revisão do dam break dessas barragens. O novo estudo passou a considerar um cenário extremo de rompimento das quatro Forquilhas ao mesmo tempo, e individual de Grupo, e segue as diretrizes previstas no TC assinado com o MPMG.

A Defesa Civil está conduzindo a realocação com o apoio da Vale. As famílias já estão recebendo assistência integral da empresa. Além da hospedagem em hotéis, elas estão sendo assistidas por atendimento psicossocial, alimentação e transporte para necessidades básicas e emergenciais, como trabalho, escola e consulta médica. Em breve, todas serão transferidas para moradias temporárias, com aluguel social custeado pela Vale. Seus animais também estão sendo resgatados e acolhidos na fazenda administrada pela Vale na região, onde ficam sob cuidados de 50 médicos veterinários, biólogos e auxiliares. A operação cumpre todos protocolos de saúde e segurança recomendados diante do quadro de pandemia da Covid-19. Outras 11 famílias já haviam sido realocadas em 2019, em virtude da subida de nível de alerta das Forquilhas I e III.

Cabe ressaltar que não houve alteração nos dados técnicos das estruturas ao longo dos últimos meses e que as últimas inspeções não detectaram anomalias. As barragens do Complexo de Fábrica são monitoradas continuamente por meio de piezômetros automatizados, radares terrestres, estações robóticas totais, capazes de detectar movimentações milimétricas, e microssísmica, além de observadas por câmeras de vigilância 24 horas por dia pelo Centro de Monitoramento Técnico (CGM) da Vale".

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!