O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou por estupro de vulnerável o motorista de aplicativo que abandonou jovem de 22 anos desacordada na calçada momentos antes dela ser estuprada. Conforme o documento repassado ao O TEMPO, da manhã desta quarta-feira (23 de agosto), o suspeito de ter cometido o abuso também foi denunciado por estupro de vulnerável - ele está preso desde 31 de julho. Já o rapaz que acompanhou a vítima até o carro, e o motoqueiro que ajudou a retirá-la de dentro do veículo foram denunciados por abandono de incapaz.
O crime ocorreu na madrugada do dia 30 de julho, no bairro Santo André, na região Noroeste de Belo Horizonte, após um show de pagode. A promotoria considerou que o motorista de aplicativo deve ser julgado com base no artigo 217-A do código penal com o acúmulo do artigo 13.
O artigo que trata de abandono de incapaz é o 135 — deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo.
Os quatro denunciados têm quatro dias para responder à denúncia por escrito, conforme a denúncia do MPMG.
Imagens de câmera de segurança mostram o momento em que uma jovem de 22 anos foi deixada na rua por um motorista de aplicativo, em Belo Horizonte, após um show, no fim de semana. Logo depois, um homem a encontrou caída, a levou nas costas até a um campo e a estuprou. Um suspeito… pic.twitter.com/kXqaOfBegM
— O Tempo (@otempo) July 31, 2023
Entenda a denúncia
Mas, afinal, por que é possível que o motorista responda por estupro de vulnerável se ele não cometeu os abusos? A pena dele seria igual a do estuprador de fato? A advogada Thalita Arcanjo, membro da Comissão de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), explica o caso.
Antes de mais nada, a profissional destaca que existe o chamado dolo eventual — quando uma pessoa não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo. E esse pode ser justamente o caso do motorista.
“No momento em que o motorista abandona a jovem de madrugada, em lugar ermo, ele assume a responsabilidade de que algo poderia acontecer com ela. É como uma pessoa emprestar uma arma: ela assume o risco de que o outro pode matar alguém”, diz ela.
No entanto, a advogada explica que, apesar de tanto o motorista quanto o homem que cometeu os abusos responderem por estupro de vulnerável, a pena não deverá ser a mesma nos dois casos.
“Os dois podem responder pelo mesmo crime, mas cada um na medida de sua culpabilidade. O motorista não deve pegar a mesma pena. Ao longo do processo, serão averiguadas várias questões. O homem que a estuprou, por exemplo, cometeu os abusos, ficou com ela por horas. Também são avaliadas outras questões, como os antecedentes das pessoas”, diz ela.
Conforme explica a advogada, a pena para estupro de vulnerável é de 8 a 15 anos de prisão.
Caso
O crime aconteceu na madrugada de domingo (30 de julho). De acordo com a Polícia Militar, a vítima foi ao evento de pagode no sábado (29) com um amigo que, após o fim do show, a colocou dentro do carro de aplicativo para que chegasse até em casa. Quando o veículo chegou até a residência, porém, o motorista chamou no interfone, mas não foi atendido. Ele então a deixa sozinha sentada encostada em um poste.
Instantes depois, o suspeito é visto andando pela rua onde a jovem foi deixada. Ela continua desacordada, caída na calçada. A última imagem que se tem dos dois é do homem carregando a jovem nas costas.
A vítima acordou no campo Grêmio Mineiro e seminua pela manhã. Ela foi socorrida por uma equipe do Samu para o Hospital Municipal Odilon Behrens, na região Noroeste de BH, que confirmou que a jovem havia sido estuprada.
O suspeito está preso desde a segunda-feira de 31 de julho, um dia após o crime.