MACHISMO

Mulher é assediada no Mercado Novo de BH: 'Olhava minhas partes íntimas'

Cozinheira, de 29 anos, estava sozinha em restaurante quando um dono de uma loja vizinha da galeria apareceu

Por Anderson Rocha
Publicado em 13 de junho de 2022 | 19:40
 
 
 
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Uma cozinheira de 29 anos do Mercado Novo, no Centro de Belo Horizonte, sofreu importunação sexual e intimidações de lojistas vizinhos da galeria na última semana. O caso foi registrado na polícia nesta segunda-feira (13). Um suspeito foi preso, mas, depois, foi solto.

De acordo com Renata*, o assédio ocorreu na terça-feira (7). Ela estava sozinha na produção de alimentos do italiano Cozinha da Vó Anna, no segundo andar do mercado, quando o dono de um estabelecimento de elétrica entrou no local, por volta das 14h, e começou a importuná-la.

"Ele foi pegar uma chave. Quando entreguei, ele agarrou minha mão, disse que eu era 'maravilhosa', que era 'doido' comigo, e ficou encarando minhas partes íntimas. Disse que eu não merecia 'aquilo' (o trabalho de cozinheira). Eu insisti para que ele parasse. Me senti péssima", lembrou a jovem.

Assédio se repetiu

Segundo Renata, o assédio acabou 'virando' assunto na galeria. O fato teria incomodado um funcionário do empresário, que surgiu aparentemente bêbado no início da noite do último sábado (11) para defender o patrão. Ele afrontou as meninas da Cozinha da Vó Anna. O restaurante, aliás, é conduzido e operado apenas por mulheres.

"O funcionário entrou na casa dizendo que o chefe dele não assediou ninguém. Em seguida, ele ameaçou todas de morte, gritou pelos corredores e urinou próximo ao nosso restaurante, como forma de intimidação e afronta", contou a empresária Fernanda Delazari, que comanda o estabelecimento desde 2019.

O homem foi contido por um segurança. A polícia foi chamada e levou o suspeito para a delegacia. Ele foi liberado. Nesta segunda, a dona da cozinha denunciou a importunação sexual na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, no Barro Preto, na região Centro-Sul de BH. Nesta terça (14), as envolvidas farão uma representação contra o homem suspeito de ameaça de morte. 

Mulheres se unem e falam sobre assédio 

Conforme Delazari, os problemas no mercado geraram uma onda de união entre as mulheres que trabalham na galeria. "Criamos uma rede de proteção, com apoio de advogados. Estão aparecendo diversos relatos de assédio. A gente resolveu falar. Não vamos nos calar. Vamos colocar cartazes no mercado, fazer camisa. É muita gente com problema parecido", contou a empresária.

"Já passei por situações do tipo (assédio) várias vezes, mas não como o que ocorreu no mercado. Minha vontade era sair da empresa, mas a Fernanda me deu um apoio sem igual. Por causa disso, e do apoio das outras colegas, vou ficar", completou Renata.

A reportagem de O TEMPO ligou na empresa de elétrica do Mercado Novo, mas as ligações não foram atendidas. A administração da galeria e a Polícia Civil também foram procuradas, mas ainda não responderam.

Nota de repúdio da Cozinha da Vó Anna 

"No dia 11 de junho, sábado, as mulheres da Cozinha da Vó Anna foram ameaçadas por uma pessoa que trabalha em uma das lojas do Mercado Novo, pois, segundo ele, a denúncia de assédio sexual feita por uma das colaboradoras da Cozinha a um proprietário de loja, também no Mercado, era mentira. Esse funcionário entrou no estabelecimento, ameaçou todas nós de morte, gritou pelos corredores e ainda urinou próximo ao nosso restaurante, como uma forma de intimidação e afronta aos nossos clientes. Essa situação vivenciada por nós é muito comum de acontecer com milhares de outras mulheres, todos os dias. Somos assediadas, violentadas moral e fisicamente e, mesmo assim, a maioria se cala, como um reflexo da sociedade machista em que vivemos. Nós, mulheres da Cozinha da Vó Anna, não nos calaremos jamais. Fazemos parte de um espaço que dá forças àquelas em situação de opressão, medo, abuso e discriminação. Todas as medidas estão sendo tomadas. O agressor foi preso no dia do ocorrido e entraremos com medida protetiva contra ele. A administração do @velhomercadonovo de disponibilizou a nos apoiar, concedendo segurança total às mulheres da Cozinha. Nada nem ninguém nos calará! Responsáveis serão punidos e, na nossa porta, abusadores machistas não passarão! Somos livres, de corpos livres e escolhas também. Escolhemos fazer parte de um espaço primordialmente feminino e isso não dá a ninguém o direito de nos assediar. "Por que lhe incomoda tanto o tamanho da minha saia?".

Onde denunciar assédio em BH

Em BH, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher fica localizada na avenida Barbacena, 288, no Barro Preto. O telefone é (31) 3330-5752 e o funcionamento é 24 horas. 

* Renata é um nome falso a pedido da entrevistada.

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