Belo Horizonte

Na pandemia, casas noturnas se reinventam para ter público

Em Minas, 60% dos 2.000 empreendimentos encerraram as atividades após a chegada da Covid-19

Por Hellem Malta
Publicado em 13 de setembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Os impactos do coronavírus têm sido brutais para diferentes setores da economia. Mesmo com o avanço da vacinação em Belo Horizonte e a flexibilização das atividades comerciais, as casas noturnas da cidade seguem fechadas há quase dois anos, sem previsão de reabertura. A Associação Mineira de Eventos e Entretenimento (AMEE) estima que 60% das 2.000 casas noturnas de Minas Gerais encerraram as atividades durante a pandemia, com um prejuízo incalculável para o setor. 

“Em Belo Horizonte, 80% das casas de shows já não existem mais. A coisa ainda se complica pelo fato de bares e restaurantes estarem trabalhando com música ao vivo, com protocolos que são inviáveis para o funcionamento de uma casa de show. O prejuízo estimado para o setor é incalculável, mas acredito que passa de R$ 100 milhões”, diz Alex Rosa, diretor de casas noturnas da AMEE. 

Mas, para não perder o contato com o público da noite belo-horizontina, alguns empresários do ramo resolveram se reinventar, e muitos reabriram os espaços com o formato de bar. É o caso da DDuck DClub, que há 11 anos funciona na Savassi, na região Centro-Sul de BH. 

“Em janeiro deste ano, mudamos o alvará de funcionamento da casa para poder funcionar como bar. Reabrimos como um pub, em fevereiro. Em março a cidade fechou de novo e retomamos as atividades, sem interrupções, no dia 12 de junho”, conta Tulio Borges, um dos sócios do local. 

Para receber o público com segurança, dentro das normas estabelecidas pelo protocolo da Prefeitura de BH, Tulio colocou mesas, com quatro lugares, na pista de dança, limitando a capacidade da casa a uma pessoa para cada 5 m², disponibilizou álcool em gel, além de exigir o uso obrigatório de máscara na entrada e durante a circulação pelo local. Com essas adaptações, a capacidade de público foi reduzida de 300 para 80 pessoas. 

Durante o período em que o negócio ficou fechado, Tulio e os quatro sócios deixaram de faturar uma receita bruta de aproximadamente R$ 1 milhão. Foi preciso demitir dois funcionários, renegociar o valor do aluguel e usar a reserva financeira da empresa. “Mudar o negócio para o formato de bar não era uma vontade, foi uma necessidade até podermos retornar como casa noturna”, diz Borges. 

Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, as atividades das casas noturnas permanecem suspensas e ainda não há previsão de retomada. Em nota, o Executivo explica que o processo de reabertura da cidade vem acontecendo de maneira gradual e os avanços ocorrem a partir da avaliação dos impactos das últimas medidas de flexibilização nos indicadores epidemiológicos e assistenciais. “Mesmo com avanços na vacinação, há de se considerar o cenário da pandemia diante de novas variantes para a tomada de decisão”, diz. 

“Dispensamos cerca de 15 funcionários”

Após 17 meses fechado, quem também optou por reabrir o negócio temporariamente como bar, foi o empresário Bruno Calil, dono da boate Lab, na Savassi. Em agosto, o espaço que contava com um público de até mil pessoas, das 23h às 5h, foi adaptado para abrigar mesas e cadeiras, com garçons para atender até 150 clientes, com distanciamento social, e ao som de DJs.

“O nosso prejuízo passou de R$ 1 milhão. Dispensamos cerca de 15 funcionários. Agora, reabrirmos como bar, com tempo limitado de funcionamento”, diz Calil. 

Para conseguir pagar as contas, o empresário fez lives e contou com o patrocínio e apoio de algumas marcas de bebidas parceiras. “A nossa esperança é voltar a funcionar como casa noturna”, espera o empresário. 
Na avaliação do diretor da AMEE, a adaptação dos empresários é benéfica. “É sempre positivo quando empresários conseguem se reinventar”, diz Alex Rosa. 

Avanço da vacinação permite retomada

 

Com 18 anos de estrada na vida noturna de BH, o tradicional Jack Rock Bar reabriu as portas para o público no último dia 26 de agosto. O local tem alvará para funcionar como casa de shows, e isso só foi possível porque, com o avanço da vacinação na capital e a melhora nos indicadores da pandemia, a Prefeitura autorizou, no início de julho, a retomada dos eventos com público sentado. 

“Tivemos que adaptar o nosso formato, que era de pessoas em pé, dentro dos protocolos da prefeitura. Agora, temos mesas de três ou quatro lugares espalhadas pelo bar, com distanciamento de dois metros”, conta Gustavo Jacob, um dos proprietários do Jack Rock Bar.

Esse novo modelo de funcionamento reduziu a capacidade e a rotatividade do público na casa, de 600 para cem pessoas por dia. “Não é o que gostaríamos, mas é o que podemos fazer no momento de acordo com os protocolos da PBH. Como é algo provisório, é melhor funcionar dessa maneira do que ficar fechado”, afirma Jacob. 

Como o momento ainda é de incertezas, o empresário não conseguiu recontratar os 40 funcionários que precisou demitir. Por enquanto, ele e o sócio trabalham com freelancers e apostam na boa gestão para, em breve, vislumbrarem um futuro mais promissor. “Esse novo formato de negócio é o primeiro passo. A expectativa é que haja uma flexibilização maior, para podermos dar o segundo, o terceiro passo até chegar o momento de voltar a ser como antes”, diz. 

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