Quem depende do transporte metropolitano da Grande BH reclama de horários descumpridos, ônibus em condições precárias, itinerários limitados, passagens caras, falta de integração com o sistema da capital, uma lista extensa de queixas, que tem afastado cada vez mais o usuário. Atualmente, o sistema opera com menos da metade dos passageiros de dez anos atrás, segundo a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais (Seinfra), cenário agravado pela pandemia. 

Com base em projeção de passageiros feita pela Seinfra para 2021, a queda de passageiros no últimos dez anos é de 54,69% – são cerca de 140 milhões de pessoas a menos no transporte coletivo. Quem largou o sistema não se arrepende. É o caso da universitária Beatriz Alves de Oliveira, 22, que usava ônibus entre Santa Luzia, na região metropolitana, onde morava, e a capital, onde estuda.

“Eu esperava mais de uma hora para pegar um ônibus que custava R$ 7 e fazia uma viagem de dez minutos. E, ainda por cima, o ônibus só andava lotado. Fora as condições precárias do veículos, que só circulavam sujos”, detalha.

Para não depender mais do transporte, a opção da estudante foi se mudar para BH. “Agora moro mais perto da faculdade, pensando até nesse deslocamento diário. Por aqui, a gente percebe que o ônibus também tem problemas, mas ao menos não parou no tempo”, disse.

Pesquisa

Uma das ferramentas do governo de Minas para que o serviço melhore é a pesquisa “Matriz Origem-Destino de Pessoas por Dados de Telefonia 2019 e 2021”, apresentada ontem. O levantamento, antes feito de porta em porta, é baseado em dados do GPS dos celulares de usuários, fornecidos por uma operadora, que mostram qual é o padrão de deslocamento na área estudada, informação necessária para planejar ações de mobilidade.

“É com base nesses números e informações que a gente tem que planejar a retomada e tentar desenvolver um sistema de transporte que atraia as pessoas”, disse Charliston Moreira, diretor de planejamento da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, entidade que contratou a pesquisa.

“Se a gente conseguir quebrar esse padrão de queda (de usuários) nos últimos anos com ajuda da tecnologia, as pessoas vão voltar a andar de ônibus”, acrescentou. 

Periodicidade e custo

A pesquisa era feita a cada dez anos e custou R$ 7 milhões na última edição, em 2012, segundo a Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de BH. A partir de 2021, passou a ser anual, com custo de R$ 420 mil, e a usar dados de usuários de telefone celular.

Além de economia, a mudança trouxe precisão e agilidade, segundo a Seinfra. 

Nossa BH: Problema maior é o tipo de contrato

A pesquisa apresentada ontem pela Seinfra é vista com bons olhos pelo coordenador de políticas públicas do movimento Nossa BH, André Veloso, mas, segundo ele, ainda não ataca o principal problema do transporte metropolitano, que é o contrato de prestação do serviço.

“Essa pesquisa traz um modelo importante de avaliação (do serviço), mas é preciso falar sobre o contrato de 30 anos que o governo firmou com empresas de ônibus que atendem a Grande BH”, afirmou. 

Para ele, o contrato deixa as empresas em uma situação de conforto, porque dificulta a fiscalização e a aplicação de multas.