Alívio

"O medo existia, mas minha consciência estava tranquila", diz Hudson

A reação do jovem, foi o alívio. “Foram segundos de silencio, passou um filme na minha cabeça. Foram 13 dias que pareceram dois anos

Por ALINE DINIZ
Publicado em 17 de outubro de 2019 | 20:45
 
 
 
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A notícia do não indiciamento pelo crime de abuso sexual envolvendo uma criança de 3 anos chegou por meio de uma ligação. Por volta de 9h, o auxiliar de educação física Hudson Nunes de Freitas, de 22 anos, estava em casa, e recebeu a confirmação. 
A reação do jovem, foi o alívio. “Foram segundos de silencio, passou um filme na minha cabeça. Foram 13 dias que pareceram dois anos”, contou ontem em entrevista ao programa Patrulha da Cidade, da rádio Super 91,7 FM.

De origem humilde, Hudson foi o primeiro filho da família a estudar. Durante as quase duas semanas de investigação da Polícia Civil, o assistente pouco comeu ou dormiu. A família e os amigos passaram com ele todos os perrengues de uma acusação tão grave. “Não fiquei um minuto sozinho. Minha família e meus amigos ficaram comigo. Eu tive medo de ser mais um jovem deste país que é acusado injustamente”, completou. 

Ele disse que não sente raiva ou mágoa das famílias que o denunciaram. No entanto, considera que as pessoas devem ter provas antes de denunciar alguém. “As pessoas fazem prejulgamento. Uma denuncia dessa pode acabar com a vida da pessoa”, lembrou. 
Agora, Hudson quer voltar para a rotina e ter um apoio psicológico. Sobre os próximos passos com relação a processos, o advogado Marciano Andrade, disse que vai estudar o caso. Mas adiantou que as ameaças das redes sociais serão objeto de processo. 

Confira a entrevista:

Onde você estava quando descobriu que não seria indiciado pela Polícia Civil? Eu estava na minha casa com a minha família. Recebi a ligação, por volta das 9h30, e fui direto para o escritório dos meus advogados. Nesse caminho, dentro do Uber, ouvi a coletiva (da Polícia Civil) pelo rádio e liguei para o dr. Marciano (advogado). Ele me disse que havia dado tudo certo. Foram segundos de silencio, passou um filme na minha cabeça. Foram 13 dias que pareceram dois anos. 

 
Como você está se sentindo neste momento? Estou aliviado. Confiei nos meus advogados e tive muita fé. A Polícia Civil fez um trabalho admirável. 
 
Como foram esses dias para você e para sua família?Foram 13 dias de sofrimento. Até então, a gente não podia se expressar por não ter acesso às informações. Ficamos bastante angustiados. Não dormimos. A única noite que eu dormi em casa, minha mãe pediu para dormir comigo. Ela acordou com crise de pânico, e eu acalentei a mulher da minha vida. Minha família e meus amigos me acompanharam o tempo todo. Eu cheguei a pensar: Será que eu vou ser mais um jovem que é denunciado injustamente? Os pais dos alunos me acolheram, fizeram manifestação. Esse apoio fez toda a diferença. Ainda não tive a oportunidade de procurar uma psicóloga, mas quando passar essa tempestade, vou procurar. Eu preciso. Sem o apoio, eu não teria chegado até aqui.
 
De onde vem a tranquilidade que você demonstrou? Primeiramente, se você crê em Deus, ele te direciona e te mostra a maneira que deve ser feita. Ficar perto das pessoas que me conhecem desde pequeno e ficar longe da internet e da televisão me ajudou, mesmo que às vezes eu quisesse surtar.
 
Como é sua relação com as crianças? A relação era professor e aluno, eu ajudava o professor Tomé na introdução da aula e eu fazia o que ele mandava. E os alunos gostam de aula de educação física. 
 
Você se arrepende de ter mostrado o rosto na imprensa? Não. Fiz propositalmente. O medo existia, mas minha consciência estava muito tranquila. Eu sei que expor a imagem é perigoso. Assim como tem gente que te apoia, poderia haver gente que não acreditava. Mas eu estava disposto a colaborar com toda a investigação.
 
Você sofreu algum tipo de ameaça? De forma indireta, eu via muita coisa na internet. Eu via comentários em matérias dizendo que eu iria pagar por todo o mal que eu havia feito. Tive medo pela minha família também, todos estavam na reta. Muita gente faz um prejulgamento.
 
Você tem rancor pelos pais que fizeram a denúncia? Não tenho rancor, nem mágoa. Eles não fizeram certo, foi péssimo passar para a mídia (o caso). Fui ruim também para as crianças.Antes de fazer qualquer acusação ou escândalo, a gente tem que saber que isso gera consequências. E antes de acusar, você tem que ter provas. E pode arruinar a vida de uma pessoa.
 
Quem são seus advogados e como eles estão sendo pagos? Eles são pais de alunos e me procuraram. Ninguém pagou. Eles estão trabalhando de forma altruísta. Eles me conheciam. As contas não param de chegar, então, alguns pais se reuniram e fizeram uma vaquinha para minha família.
 
O Magnum te chamou para voltar a trabalhar na escola? Me chamaram ontem. Eu não disse que sim, nem que não. Tudo está acontecendo muito rápido, e eu não quero tomar nenhuma decisão precipitada. Vou me reunir com minha família e com meus advogados.Eu quero colocar na balança, tudo que fizeram por mim. Especialmente em relação aos pais. 
 
Como você pensa o futuro a partir de agora? Eu penso em voltar para a minha rotina normal. Isso tudo é uma tempestade e vai passar. Tenho muita fé em Deus. Somos católicos na minha casa, rezamos bastante e recebi muitas correntes de oração.
 
E como você está fisicamente? Estou acabado. Hoje  eu consegui comer apenas um pão de queijo. 

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