Transporte público

Oferta de ônibus é 17,1% menor em cidades brasileiras na pandemia

Demanda diminuiu quase 44% e prejuízos do setor chegam a R$16,7 bilhões, segundo a Associação Nacional das Empresas de Transporte Público (NTU)

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 20 de setembro de 2021 | 11:43
 
 
 
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A oferta de ônibus nas cidades brasileiras ainda é, em média, 17,1% menor do que no período anterior à pandemia, segundo dados divulgados pela Associação Nacional das Empresas de Transporte Público (NTU) nesta segunda-feira (20). O balanço, que considera até junho deste ano, também mostra que a demanda média caiu 43,7% — ainda assim, ônibus lotados continuam a ser flagrados em Belo Horizonte, por exemplo. 

O presidente da associação, Otávio Cunha, responsabiliza o poder público pela diminuição da oferta de transporte público. "Quem fez redução de oferta é o poder público, não as empresas. O transporte coletivo, em horário de pico, jamais vai andar vazio, vai andar lotado. O problema da lotação ou da superlotação precisa ser examinado pelo poder público, mas garantindo equilíbrio econômico para a atividade. Acho que a oferta precisa ser normalizada, mas não se pode obrigar empresas a operar com 100% da frota tendo apenas 60%, 70% da demanda", diz. 

Na abertura do Seminário Nacional NTU 2021, em que o setor discute soluções para o transporte público, ele também pontuou que a demanda nacional vinha em decadência desde os anos 90. “De 1993 a 2012, o setor perdeu em torno de 24% da demanda. De 2013 e 2019, portanto em apenas cinco anos, perdeu mais 26%”, pontuou. 

O prejuízo do setor, entre março de 2020 a junho de 2021, soma R$16,7 bilhões, de acordo com o representante. Ele defende novas formas de política tarifária do transporte nacional, sem total dependência do pagamento de tarifas pelo usuário, e elogia o modelo de Brasília e São Paulo, em que o governo subsidia parte do valor. Levantamento da NTU mostra que, nesse cenário, houve aproximadamente 80,5 mil demissões no setor. 

“Nos anos 90, transportávamos 631 passageiros por veículo no dia. Hoje, são 167, devido a uma série de coisas, como a tarifa que subiu muito”, detalhou. Ao mesmo tempo, segundo ele, o gasto com o diesel, por exemplo, passou de cerca de 9% para 25%, tornando-se a segunda maior despesa do setor. 

Atualmente, a NTU trabalha na proposta de um Marco Legal do Transporte Público,  com parâmetros para contratos de concessão de transporte, por exemplo, para ser seguidos por todas as cidades. Nesta segunda-feira, o governo federal também criou, por decreto, o Fórum Consultivo de Mobilidade Urbana, que irá assessorar o Ministério do Desenvolvimento Regional, incluindo operadores de ônibus, governos municipais e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). 

“Ele vai permitir que tenhamos um discurso único em defesa da busca da sustentabilidade do transporte público. A população brasileira merece ter um bom serviço de transporte. Aqui no Brasil, para determinada classe, sair de transporte coletivo é se sentir diminuído”, diz Cunha. 

Produção de ônibus despencou 

A fabricação de carrocerias de ônibus é, atualmente, 40% do que atingia antes da pandemia, de acordo com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. 

“Em 2011, 2014, o movimento estava bom no setor, que vendia cerca de 30 mil unidades por ano, aí tivemos um tombo provocado pela crise econômica, em 2015 e 2016, e o volume caiu para 11 mil, 12 mil unidades. Com recuperação, em 2017, 2019, vendemos cerca de 20 mil unidades, mas fomos derrubados pela pandemia. Esperamos fechar 2021 com uma pequena recuperação, com 15 mil a 16 mil veículos”, detalha. 

No caminho, aponta o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus), Ruben Bisi, estão entraves como a falta de semicondutores, que afeta toda a indústria automotiva, e o valor elevado da matéria-prima, como o aço. O avanço da vacinação contra a Covid-19 no país é a esperança do segmento, segundo os representantes do mercado, já que traz perspectiva de maior retomada de atividades e geração de emprego.  

Esta matéria está em atualização.

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