Ônibus cada vez mais cheios, usuários indignados com a demora e nenhuma multa paga pelas empresas do transporte de Belo Horizonte pelas irregularidades cometidas. É desta forma que se encontra o transporte coletivo da capital mineira. Balanço da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) publicado no Diário Oficial do Município (DOM), desta quarta-feira (4), mostra o caixa zerado mesmo com as sanções aplicadas.

O que não está nada vazio, por outro lado, são os coletivos que circulam por Belo Horizonte. O relatório de acompanhamento da demanda de passageiros e oferta de viagens no sistema de transporte coletivo mostra que apenas 68% das viagens previstas para acontecer no dia 20 de abril, de fato ocorreram. A consequência disso é a siperlotação.

Para se ter ideia da situação, segundo a autarquia, nessa data foram transportados 1.012.555 usuários e o número de viagens, neste mesmo dia, foi de 16.752, o que representa 68% do total previsto (24.741). O total da frota de ônibus é de 2.398, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH). 

Quem usa o transporte coletivo diariamente não aguenta mais tanto descaso. “Tem 35 minutos que estou no ponto esperando pelo ônibus. Sempre passa fora do horário. Mais uma vez vou chegar atrasado no serviço”, desabafa o assessor sindical, Wagner Xavier, de 61 anos.

E não adianta sair mais cedo de casa para pegar o coletivo, já que o mesmo não tem horário para passar. “Só no tempo que estou no ponto, era para ter passado uns três ônibus. Assim era antes. Agora, eles mudam, mas não dão explicação”, afirma o usuário da linha 3050 (Estação Diamante/Hospital Via BH Shopping).

Se não bastasse a demora até a chegada, os usuários precisam lidar com a lotação. “Quando passa vem mais cheio”.

O presidente do SetraBH, Raul Leite, afirma que as empresas estão realizando um “esforço hercúleo" para fazer as viagens. “O que se arrecada não paga os custos. Cada viagem custa, em média, R$ 185. Antes da pandemia eram transportados 1,2 milhão de passageiros e hoje a média é de 900 mil”.

E as multas?

Apesar das penalidades aplicadas, nenhuma multa foi paga pelas empresas. “A BHTrans não recebeu qualquer valor, já que não houve pagamento por parte das empresas em 2021. A BHTrans é uma empresa pública que presta um serviço público e portanto não dá lucro. A empresa é mantida com recursos ordinários do Tesouro municipal”, esclareceu a autarquia em nota enviada à reportagem de O TEMPO.

Questionada sobre o número de multas aplicadas no ano passado, a BHTrans não retornou até a publicação desta matéria. 

Análise

A situação do transporte coletivo de Belo Horizonte é justificada pelo especialista em trânsito Márcio Aguiar pela falta de gestão. “O sistema é desorganizado. Os empresários, pela falta de reajuste tarifário, fazem o que querem. O problema no transporte público coletivo se arrasta por anos. Eu digo que o sistema já acabou”, afirma.

E a tendência, segundo Aguiar, é que a situação piore. “O que vemos são menos ônibus e mais passageiros. Os empresários reduziram os horários das viagens para levarem menos prejuízos. Quem fica mais penalizado é o usuário”.