Macchiato e Silício

Operação policial investiga sonegação fiscal e lavagem de dinheiro no banco BMG

Operações Silício e Macchiato acontecem em Minas Gerais e outros três estados, e pretendem combater sonegação e lavagem de dinheiro em grupo financeiro e em empresa de componentes eletrônicos

Por Lara Alves
Publicado em 29 de outubro de 2020 | 08:12
 
 
 
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O prédio do banco BMG no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, está entre os endereços buscados pela Polícia Federal (PF) e pela Receita Federal na manhã desta quinta-feira (29) como parte de operações que combatem esquemas de lavagem de dinheiro e sonegação.

Vinte e nove mandados de busca e apreensão são cumpridos em residências e escritórios ligados a suspeitos que, de acordo com a Receita, são investigados por práticas de crimes como sonegação, corrupção, gestão fraudulenta, evasão de divisas e associação criminosa, além de lavagem de dinheiro. Em Minas Gerais, ações acontecem também nos municípios de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, e em Machado, no Sul do estado.

Buscas feitas na manhã de quinta-feira acontecem também nos municípios de São Paulo, Santana de Paranaíba, Vargem Grande Paulista e Jaguariúna, em São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A movimentação integra as operações “Macchiato” e “Silício”, cujo objetivo é o recolhimento de documentos referentes às transações ilegais feitas pelos grupos empresariais em questão. Em paralelo às buscas e apreensões, a Justiça Federal decidiu pelo sequestro de R$ 100 milhões em contas bancárias relacionadas à atuação ilegal, e também determinou o afastamento de diretores da instituição financeira.

As ações em questão nascem como desdobramento da operação “Destarte”, realizada há mais de dois anos, em março de 2018, e que identificou que a organização criminosa investigada à época era especialista em arquitetar elaborados esquemas para sonegação tributária e lavagem de dinheiro. O grupo haveria atuado também na geração de recursos em espécie para um conglomerado financeiro e para uma empresa de fabricação de semicondutores – são estes os alvos das operações desta quinta.

“Macchiato”

Coordenada por auditores-fiscais da Receita Federal, a operação mira uma companhia do grupo financeiro que teria contratado a organização criminosa para lhe fornecer equipamentos eletrônicos sucateados com valor de mercado irrisório, e que serviam apenas para aparentar legalidade à transação. Após receber parte do pagamento acertado, a quadrilha retirava sua comissão e devolvia o restante em espécie aos diretores do grupo. Investiga-se um empresário de São Paulo, proprietário de um negócio que revendia componentes eletrônicos. Auditores identificaram mais tarde que empresas do conglomerado realizaram pagamentos milionários por serviços nunca prestados – uma delas sacou cerca de R$ 38 milhões em espécie.

“Silício”

Apura-se à operação “Silício” vendas supostamente superfaturadas feitas pelo mesmo proprietário do setor de componentes eletrônicos a um grupo estatal. Ele teria relacionado empresas fantasmas controladas pela organização criminosa – esta já investigada desde a “Destarte”. Fiscais da Receita Federal detectaram cerca de R$ 8,2 milhões em notas fiscais fraudulentas. A quantia teria sido entregue ao escritório de lavagem de dinheiro.

Veja o que diz o banco:

O Banco Bmg informa que, na manhã desta quinta-feira (29), foi surpreendido com uma operação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal. A princípio, a investigação visa a apuração de suposta prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e contra a ordem tributária por determinados dirigentes do Banco, ocorridos entre 2014 e 2016. A instituição também tomou conhecimento que a Vara Criminal determinou a suspensão do exercício de qualquer atividade de Márcio Alaor de Araújo e Marcus Vinícius Fernandes Vieira no Banco e no grupo Bmg. O Banco esclarece, ainda, desconhecer qualquer prática dos ilícitos investigados e está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e prestar os esclarecimentos necessários. O Banco reforça seu compromisso em atuar sempre de forma transparente, dentro das melhores práticas de governança corporativa e em cumprimento de todas as legislações aplicáveis.

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