Transplantes

Pandemia reduziu em 60% o número de doações de órgãos em Minas Gerais

Além de possíveis doadores descartados por suspeita de coronavírus, o número de ocorrências que os levam ao sistema também diminuiu

Por Daniele Franco
Publicado em 10 de abril de 2020 | 18:09
 
 
 
normal

A pandemia do novo coronavírus em Minas também afetou os transplantes de órgãos no Estado. Segundo o diretor da MGTransplantes, Omar Cançado, o número de doadores diminuiu cerca de 60% desde o início da pandemia.

A realização das cirurgias continua, especialmente para pacientes com risco de morte sem o transplante. No entanto, a recomendação do Ministério da Saúde e da Associação Brasileira de Transplantes é que não sejam considerados doadores com suspeita ou contaminação pelo coronavírus ou que tiveram contato com pessoas contaminadas. "Além disso, as ocorrências que mais levam doadores ao sistema de saúde também diminuíram com todos em quarentena", explica.

A orientação durante a pandemia é de que, antes de recolher os órgãos, os médicos conversem com os familiares do doador para entender o histórico dele, se teve alguma sindrome respiratória ou contato com alguém nessas condições. "Não fazemos testes porque existe o risco de o teste ser um falso negativo, e como o transplantado já é imunossuprimido, não podemos arriscar", detalhou Cançado.

Esperança

O encarregado de produção Márcio Antônio da Silva, de 59 anos, foi um dos mineiros que passou por um transplante durante a pandemia. A cirurgia aconteceu no dia 29 de março, na Santa Casa de Montes Claros, Norte de Minas, e o homem recebeu um transplante de fígado. "Eu estava há dois anos e cinco meses na fila, já fui chamado outras vezes, mas não era compatível, mas desta vez eu consegui e fiquei muito feliz", comemora. O órgão foi doado por um homem de 19 anos sem histórico de contato com a Covid-19. A cidade de onde o doador veio também não tem registro de casos.

Para o médico Luiz Fernando Veloso, chefe Serviço de Transplante de Fígado Santa Casa Montes Claros, "o sistema de saúde precisa conseguir dar vazão aos procedimentos que são salvadores de vida, especialmente aqueles que o tempo de espera pode aumentar risco de morte". O profissional detalhou que os transplantes considerados eletivos no momento são os que favorecem a qualidade de vida do paciente, mas não são determinantes para que eles continuem vivendo, como os de córneas (se não houver risco de perda na visão).

No dia 4 de abril, a MG-Transplante coletou órgãos, rins e córneas, de um doador na Santa Casa de Montes Claros. Os rins foram transplantados em operações dentro da própria instituição. A equipe da MG-Transplantes levou as córneas para análise e disponibilização à fila. Em Minas, hoje, 1292 pessoas esperam por transplantes do tecido ocular.

Instituições filantrópicas, como a Santa Casa de Montes Claros, foram responsáveis por 66% dos transplantes realizados no Estado entre fevereiro de 2019 e janeiro de 2020. Foram 1.147 cirurgias de um total de 1.747.

Fila

Atualmente, em Minas, 4.227 pessoas esperam um transplante. Mais da metade deles aguarda a doação de rins. De fevereiro até o fim de março, 560 cirurgias foram realizadas em Minas. Os números após a pandemia, segundo explicou o diretor da MG-Transplantes, deve diminuir pela redução do número de doadores.

Nesse contexto, ele faz um apelo às famílias de possíveis doadores para que tenham o altruísmo e a solidariedade de colaborar com pessoas que podem não ter outras oportunidades de viver se não fizerem o transplante já.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!