Um mês depois de o aeroporto do Carlos Prates, na região Noroeste de Belo Horizonte, ter sido desativado, a prefeitura esboça um projeto para tentar resolver uma nova questão que surge com a transformação da área em um bairro com moradias populares: a chegada de 2.000 famílias às margens do Anel Rodoviário.
O corredor, por onde circulam aproximadamente 160 mil veículos por dia, que também é o local onde ocorrem cerca de 500 acidentes com vítimas por ano, é a principal via de acesso para a área. Uma possível sobrecarga de veículos no trecho – que já está saturado com o movimento atual – faz com que a prefeitura já pense em obras para atender essa nova demanda.
“São pelo menos três projetos. Uma ‘praçarela’, com o conceito de praça, além de uma alça de acesso naquele trecho e a implantação da estação São José”, revela a assessora especial da Prefeitura de Belo Horizonte, Natália Araújo. Conforme a representante do município, que está à frente das discussões sobre a utilização das áreas, esses projetos estão em fase de estudo e devem ser complementares à proposta apresentada pelo prefeito Fuad Noman (PSD), que pretende utilizar a área do aeroporto para a criação de um grande bairro. “São obras de mobilidade urbana e que em algum momento já haviam sido pensadas, só que não foram para frente, ficaram paradas por falta de financiamento ou outro motivo”, explica.
O projeto da ‘praçarela’ é semelhante ao famoso High Line, localizado em Nova York, nos Estados Unidos, e ao Skygarden, em Seul, capital da Coreia do Sul. A estrutura é planejada para atender pedestres, como se fosse um calçadão em meio a um parque urbano a vários metros de altura. “Algo semelhante foi proposto na revitalização do centro da capital. É uma estrutura que hoje é utilizada em várias cidades do mundo”, relata Natália Araújo, que afirmou ainda não ter definido o local onde a construção poderá ser realizada.
Além desse projeto, outras intervenções devem ser feitas como tentativa de aliviar o excesso de tráfego na região. “Uma das coisas que a gente conseguiu escutar neste um mês de desativação foi essa demanda de projetos que já existiam para a região. Tudo isso fez parte desse processo de escuta e deve ser incorporado ao projeto”, pontua a assessora.
No entanto, embora se tenha a intenção de transformar o terreno do aeroporto Carlos Prates em um “grande bairro”, com cerca de 2.000 residências populares, além de centros de saúde, escolas e outros equipamentos públicos. Essas intervenções no Anel Rodoviário ainda não estão garantidas. Isso porque, além da aprovação do projeto apresentado pelo prefeito Fuad Noman (PSD) ao governo federal, essas obras deverão ser debatidas com o governo de Minas.
“São projetos vultosos e que precisam ser discutidos com outros governos. As obras devem ser pactuadas entre os governos para ver se existe a obrigação de algum deles ou se somente é necessária a autorização”, destaca Natália Araújo.
Terminal São José
A instalação do terminal São José do BRT/Move, no bairro Jardim Montanhês, é uma demanda antiga de moradores da região Noroeste da capital. O terreno, onde a estação deveria ser construída era ocupado pela favela Vila São José, que mudou de lugar e foi urbanizada em 2010. Cerca de dez anos após a inauguração do Move, as obras para a construção do terminal ainda não tiveram início.
A estrutura chegou a ser planejada para atender cerca de 35 mil passageiros por dia útil, integrando 14 bairros. As linhas alimentadoras levariam os passageiros ao terminal, de onde partiriam linhas por faixas exclusivas para o centro e demais destinos. As obras foram orçadas em R$ 59,6 mi.
Entorno do terminal precisa ser considerado
Para Silvestre de Andrade, engenheiro civil e mestre na área de transportes, a prefeitura precisa planejar essas intervenções, já que o Anel Rodoviário, do jeito atual, não está preparado para mais tráfego. “A resposta com esse possível aumento de 2.000 moradias na região não é simples. A gente tem várias considerações. Existe a perspectiva de ter o Rodoanel, então, isso se concretizando, vai aliviar um pouco o trânsito dos veículos pesados que passam no Anel atual. A segunda questão é que o Anel atual precisa de mudanças nele. Então, embora ele esteja congestionado e mesmo tirando o tráfego rodoviário, vai continuar sendo uma das vias de maior movimento de BH”, pontua.
Silvestre destaca a necessidade de mais investimentos no trecho para aumento da capacidade da circulação de veículos. "O Anel, por exemplo, tem em boa parte duas faixas, em alguns lugares tem três faixas, mas em viadutos, por exemplo, estrangula (o trânsito). Nós precisamos rever o projeto do Anel Rodoviário. As mudanças do Carlos Prates só criam essa emergência, mas já era preciso rever. Aí sim, com essas revisões e obras, pode se considerar o volume maior, mas em melhores condições”, justifica.
O especialista pontua que a possível alça solucionaria a nova área de ocupação, mas longe de ser uma resolução dos problemas de todo o trecho. Outro ponto abordado por Silvestre de Andrade é que, para atender as demandas de moradores de casas populares, a cidade deve pensar em meios de transporte público que, de preferência, levem até a região central e em outros pontos de distribuição, como estações de metrô e também de ônibus, como São Gabriel, Barreiro e Venda Nova.