VENDA NOVA

PCMG recusa hipótese de surto de mulher que matou mãe e filha em BH: "sã e fria"

Crime foi descoberto depois que vizinhos sentiram o cheiro de gás de cozinha vindo do apartamento; mulher foi indiciada por duplo homicídio qualificado

Por Isabela Abalen
Publicado em 27 de março de 2023 | 11:50
 
 
 
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Duplo homicídio qualificado. Assim foi indiciada a mulher suspeita de ter matado mãe e filha em um apartamento no bairro Piratininga, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Apesar da suspeita, de 34 anos, ter contado que haveria ouvido vozes intrusivas, que a motivaram a realizar o crime, a investigação da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) recusou a hipótese de problemas de saúde mental, alegando que a mulher arquitetou as mortes, certa do que estava fazendo. “Completamente sã, fria e manipuladora”, definiu a delegada Iara França, da Delegacia Especializada de Homicídios de Venda Nova. 

De acordo com a investigação, a sequência do crime começou na segunda-feira, 13 de março, até o acionamento do Corpo de Bombeiros pelos vizinhos, em 15 de março, ao sentirem o cheiro de gás de cozinha. A motivação dos homicídios teria sido por vingança da mãe. “A mãe descobriu, com a ajuda de pessoas próximas, que a compra do imóvel já estava quitado há um ano, o condomínio não estava sendo pago e até a água chegou a ser cortada em um momento. Com isso, deixou de fornecer dinheiro à filha, que era a gerente financeira da família”, explica a delegada.

A idosa, de 67 anos, além de receber aposentadoria, trabalhava em dois empregos para garantir o sustento da filha e da neta. Ao parar de receber dinheiro, a suspeita, então, decidiu se vingar, matando a mãe com uma “chave de pescoço”, enforcada. “Ela age com frieza ao cobrir a mãe com um lençol, deixando ela morta alí. A mulher teve o cuidado até mesmo de vedar as portas e jogar borra de café ao redor da idosa, para manipular o cheiro do corpo”, conta o delegado Frederico Abelha, Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Com a morte da mãe, a mulher tem consciência de que será presa e passa a se preocupar com quem irá ficar com sua filha, de 10 anos. De acordo com a delegada Iara França, a suspeita decide que a menina deve morrer não por medo de não conseguir sustentá-la, mas por não querer que ela fique com a família do pai. “Ela, controladora, não se permite deixar a filha ser criada pela família paterna. Então, a menina também deveria morrer, o que mostra o tamanho da sua possessividade”. 

O pai da criança foi morto por envolvimento com o tráfico de drogas, em 2018, desde então, a suspeita não permitia que a filha tivesse qualquer envolvimento com a família paterna, controlando seu acesso às pessoas. “Ela diz que negocia a morte com a filha, oferecendo a oportunidade dela ir para um abrigo. Mas, na verdade, já tinha tomado a decisão. Mesmo a menina querendo chamar a polícia, ela a convence a morrer. Tenta cortar seus pulsos, a filha reclama. Então, a amarra com uma calça jeans para conseguir estrangulá-la até a morte”, relata Abelha. 

Ainda segundo a investigação, mesmo a mulher tendo contado que tentou se matar, tomando remédios e depois inalando gás de cozinha, não há comprovação do fato. A suspeita foi presa em flagrante e encaminhada para o presídio, onde foi transferida para um hospital. Ela pode pegar duas penas com o máximo de 30 anos de prisão. 

Perfil manipulador: suspeita é considerada sã e cruel 

A investigação da Polícia Civil recusou a hipótese de problemas de saúde mental da mulher. De acordo com a delegada Iara França, a suspeita possui um perfil "extremamente manipulador, frio e possessivo”. Ela controlava a renda da mãe, os contatos e os passos da família. “Determinava até com quem a mãe e a filha saíam. Controlava o whatsapp e o uber da mãe, tudo era ela”, diz. 

Para os vizinhos e conhecidos, a família era tida como reservada e que não causava problemas no condomínio. A filha passava a maior parte do tempo na escola integral e era sempre vista bem vestida, arrumada, e educada. “Ela era muito bem cuidada, mas pela avó. A mãe não tinha vínculo com a filha. E, pelo apurado, era só a mulher dar uma olhada para a filha ou para a mãe, que as duas ficavam quietas”, continua a delegada. 

Não foram encontrados registros de uso de medicamentos controlados pela suspeita, nem histórico de depressão ou outras doenças. “Os relatos são de um pessoal normal, muito inteligente. Quem a conhece desde criança fala que era uma menina muito esperta, sempre querendo se aproveitar das situações”. 

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