Em mais uma tentativa de despoluir a Lagoa da Pampulha, as prefeituras de Belo Horizonte, Contagem e a Companhia de Saneamento de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) assinaram nesta quinta-feira (07) um acordo de cooperação que prevê um investimento de R$ 146,5 milhões em obras no local.

A mais nova promessa é de que, em cinco anos, as intervenções sejam concluídas e que a lagoa pare de receber o esgoto que chega das duas cidades.

Segundo o diretor de gestão de águas urbanas da PBH, Ricardo Aroeira, essa nova etapa de despoluição da bacia da Pampulha vai dar continuidade às intervenções da Copasa que já acontecem há 20 anos.

"São 500 mil pessoas no entorno da bacia. Já resolvemos a questão do esgoto para 470 mil. Faltam 30 mil pessoas que hoje despejam a sujeira lá", disse Aroeira.

De acordo com o plano, nesse período serão refeitas quase 10 mil ligações de esgoto, sendo 7 mil em Contagem e 2,7 mil em Belo Horizonte. Ao todo, serão realizadas mais de 800 obras de ligações, manutenções e melhorias da qualidade d'água.

"A ideia é que todo esgoto, todo resíduo que é despejado sem tratamento na lagoa seja corrigido. Estamos falando de cerca de 10 mil residências que jogam seu esgoto diretamente na lagoa, que agora vão ser corrigidas", afirmou o prefeito de BH, Fuad Noman (PSD).

A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), detalhou que a cooperação entre os dois municípios vai permitir a limpeza dos córregos que chegam até a Pampulha trazendo o esgoto e uma melhora significativa para a população que convive com esse problema.

"Quando se fala em sete mil ligações em Contagem nós estamos falando de população, de povo de gente que mora com esgoto céu aberto. Isso traz problema de saúde às  pessoas que vivem sem qualidade de vida. Então, essa intervenção, esses R$140 milhões de investimento tem a dimensão ambiental, tem a dimensão cultural do patrimônio cultural que é a Lagoa da Pampulha, mas tem a dimensão social que é garantir vida digna para a população", afirmou.

As prefeituras e a companhia irão realizar ações junto a cada moradia para promover a ligação de esgoto, nas áreas que já dispõem de rede coletora mas que não estão conectados a ela, lançando material nos principais afluentes da lagoa: o Ribeirão Sarandi (o maior contribuinte) na região da Ressaca e o ribeirão Bom Jesus (ou Água Funda) na região do Nacional, ambos no município de Contagem. 

A Lagoa da Pampulha tem uma área total de 98,4 Km², sendo 56% dessa área no município de Contagem; 44% no município de Belo Horizonte.

Histórico

Não é de hoje que ações têm sido feitas para limpeza da lagoa da Pampulha. Mais recentemente, em 2018, foi firmado um contrato com o Consórcio Pampulha Viva, com investimentos anuais de cerca de R$ 16 milhões para tratamento da água. O documento pode ser prorrogado sucessivamente a cada 12 meses até o limite de 60 meses. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), os serviços de manutenção do espelho d´água se mantêm com frequência diária, e não houve interrupção na pandemia.

“Os Serviços de Tratamento da Água da Lagoa da Pampulha contemplam a aplicação de uma solução que se utiliza de duas tecnologias distintas e complementares. Uma consiste na aplicação de um Biorremediador destinado à desinfecção e degradação de matéria orgânica e a outra na aplicação de um Remediador Ambiental Físico-Químico desenvolvido especificamente para reduzir as concentrações de fósforo em ambientes aquáticos”, diz a PBH.

No que diz respeito ao desassoreamento, serviços também tiveram início em 2018 e terminaram em setembro do ano passado, com investimentos de R$ 37,5 milhões e retirada de aproximadamente 520 mil metros cúbicos de sedimentos e resíduos do fundo do manancial.

Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) a limpeza do espelho d’água da lagoa é realizada diariamente. O volume de lixo flutuante recolhido é de, em média, cinco toneladas diárias no período de estiagem e dez toneladas no período chuvoso.

Lazer e conforto para população

O policial militar Emiliano de Freitas Reis, de 46 anos, que gosta de passear pela orla, acredita que o poder público tem feito sua parte em querer melhorar a situação na lagoa, mas reconhece que a população tem que fazer a parte dela para que a despoluição aconteça.

“A gente percebe que sempre estão buscando melhorar as coisas por aqui, né? Mas acho que para melhorar de verdade, precisa que todos estejam empenhados. Nos resta realmente ter essa esperança, acreditar e cobrar também das autoridades na medida do da  evolução dos trabalhos deles”, disse.  O militar disse ainda que sonha com o dia em que o local será de lazer e contemplação da natureza. “Quero que nesse local as pessoas se sintam bem, que possam observar a natureza de Belo Horizonte, que por se tratar uma cidade metrópole, muito acinzentada, precisa desse respiro”, completa.

Já o pintor Victor Aguiar, de 21 anos, sempre passa o horário de almoço às margens da lagoa. Apesar de sonhar em dia poder nadar nessas águas, não acredita muito na despoluição.

“Sempre tomo uma água de coco por aqui, venho descansar ou correr aos fins de semana, Na minha visão, a situação hoje é precária, mas já esteve pior. Não sei dizer se um dia ela ficará totalmente limpa. Seria ótimo, né?  Poder nadar, ver a água bem clarinha”, almeja.

O que diz a Copasa

A Copasa informa que irá investir 146,5 milhões de reais para a recuperação da Lagoa da Pampulha nos próximos cinco anos. Os investimentos feitos pela Companhia fazem parte de um acordo assinado na manhã desta quinta-feira (07/07) pelo presidente da Companhia, Guilherme Augusto Duarte de Faria, pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, e pela prefeita de Contagem, Marília Campos.  

Intitulado “Pampulha + Limpa: Lagoa sem Esgoto”, o programa prevê um plano de ação para viabilizar a ligação de imóveis, localizados em Belo Horizonte e em Contagem, à rede coletora. Para isso, o plano de ação contempla a realização de obras para a implantação de esgotamento sanitário em locais sem infraestrutura e ações de mobilização social, onde já existe a rede de esgoto, mas os moradores ainda precisam ser interligados. Ao todo, são 9.759 imóveis, localizados em Belo Horizonte e em Contagem, que precisam ser conectados à rede coletora, a fim de evitar o despejo inadequado de dejetos no curso d”água. 

Durante a assinatura do acordo, o presidente da Copasa destacou o compromisso da empresa com a proteção da Lagoa da Pampulha: “Hoje é um dia marcante porque é o início do último capítulo da despoluição da Lagoa da Pampulha. De nada adianta a gente persistir em obras de dragagem, de limpeza, se a gente não atacar o problema na origem, na coleta e tratamento efetivo e adequado do esgotamento sanitário da Lagoa. A Copasa não se furta a cumprir com sua responsabilidade”, afirmou.  

Guilherme Duarte garantiu a alocação de recursos e o engajamento da equipe da empresa para a execução do plano de ação e disse que a iniciativa, além de mostrar o compromisso da empresa com o meio ambiente, também é uma ação social: “É uma obra prioritária para a Companhia hoje. A comunidade merece toda a dignidade de ter seu esgoto coletado e tratado de forma adequada”. O presidente da Copasa também lembrou que, nos últimos 20 anos, a Companhia já investiu mais de 600 milhões de reais na despoluição da Lagoa da Pampulha. 

Atualmente, mais de 95% do esgoto gerado na Bacia Hidrográfica da Pampulha é interceptado e tratado. Para atingir os 100% são necessárias ações em conjunto com os municípios de Belo Horizonte e Contagem, por isso a importância do acordo firmado nesta quinta-feira. 

A Copasa reforça que trabalha cotidianamente para evitar que o esgoto chegue até a Lagoa da Pampulha. Neste ano, por exemplo, a empresa deu início às obras da quarta etapa do programa de despoluição da Lagoa da Pampulha, que constam como uma das iniciativas do plano de ação, com previsão de execução nos anos de 2022 e 2023. A empresa já iniciou a construção de rede para viabilizar cerca de 700 ligações de esgoto.