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Polícia conclui inquérito sobre morte de estudante na porta de boate

Os três suspeitos do crime foram indiciados por homicídio doloso qualificado e, se condenados, eles podem cumprir pena de seis a vinte anos de prisão

Por Aílton do Vale
Publicado em 20 de abril de 2016 | 19:39
 
 
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A Polícia Civil concluiu na última sexta-feira (15) o inquérito a respeito da morte do estudante Cristiano Guimarães Nascimento, de 22 anos, assassinado na porta de uma boate no dia 8 de abril, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Os três suspeitos do crime foram indiciados por homicídio doloso qualificado – quando há intenção de matar por motivo fútil, sem chance de defesa para a vítima. Se condenados, eles podem cumprir pena de seis a vinte anos de prisão.

O inquérito já foi recebido pela Justiça que, por sua vez, remeteu o processo ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A promotora vai começar a analisar o caso na próxima segunda-feira (25). Caberá a ela decidir pela formulação imediata da denúncia, devolução do procedimento à Polícia Civil - para que a diligência seja reformulada e novas testemunhas sejam ouvidas – ou arquivamento do caso.

O delegado responsável pela apuração dos fatos, Alexandre Oliveira, da Delegacia Especializada de Homicídios de Contagem, explicou que, além da autoria do assassinato, o inquérito concluiu a dinâmica do crime. A motivação, no entanto, ainda não foi completamente esclarecida. “Ainda não temos uma convicção plena da motivação. Sabemos que foi uma discussão que aconteceu entre a vítima e os suspeitos na fila do caixa da boate. Ao que tudo indica, os policiais não respeitaram a fila, o Cristiano, incomodado com a situação, tentou conversar com eles. Os policiais, então, iniciaram o desentendimento que terminou em assassinato no lado de fora da boate”, afirmou Oliveira.

Os três suspeitos tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça na semana passada. Os policiais militares Jonathas Elvis do Carmo, 27, e Jonas Moreira Martins, 28, estão encarcerados, desde o dia do crime, em celas de diferentes unidades da PM. Segundo a Polícia Civil, um está no 48º Batalhão, em Igarapé, e o outro no 41º no Barreiro. O corretor de seguros Célio Gomes da Silva, 30, terceiro suspeito da morte de Cristiano, está foragido.

O advogado Alexander Barroso, responsável pela defesa de Célio, afirmou na última quinta-feira (14) que seu cliente se apresentaria ao delegado no início desta semana, fato que não ocorreu. Ele tentou, inclusive, revogar a prisão preventiva na Justiça. A advogada Cristiane Kércia, que defende o policial Jonathas, fez o mesmo pedido. Entretanto, o juiz Elexander Carmargos Dniz, da Vara do Tribunal do Júri de Contagem, negou os dois requerimentos nessa segunda-feira (18).

Audiência pública

Na manhã desta quarta-feira, cerca de 30 familiares e amigos de Cristiano acompanharam uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Casa, que discutiu o assassinato do rapaz.

Álvaro Abílio Nascimento Neto, 57, pai da vítima, pediu a exoneração dos policiais e também cobrou punição para a boate Havana, onde começou o desentendimento entre Cristiano e os indiciados. Na opinião de Álvaro, a casa noturna foi negligente por não ter impedido a briga e também por demorar a prestar socorro. “Não vou me cansar enquanto todos os responsáveis não forem condenados. Eles estavam armados dentro da boate, como isso é possível? É um absurdo. No momento da confusão, um dos amigo do Cristiano pediu ajuda a um porteiro do estabelecimento. Eles não fizeram nada. Deixaram meu filho caído na rua e não prestaram socorro imediato. Além disso, respeito a instituição da Polícia Militar, mas esses dois indivíduos que já foram presos não merecem trabalhar na corporação. O que fizeram foi abuso de poder e eles nem estavam trabalhando. Amanhã serão os pais de outros filhos que estarão chorando. Vou lutar na Justiça para que casos como esse não ocorram novamente em nosso Estado. Como esses caras ainda não foram expulsos da corporação?”, protestou.

O estudante Frederico Ferreira, 22, que acompanhava Cristiano e um outro amigo na boate, relembrou o que viu: "Ele (Cristiano) estava na minha frente na fila, a gente estava curtindo, tranquilos, sem nenhuma confusão. Lá dentro não ficamos sabendo de nenhum problema com os policiais. Na fila do caixa, quando paguei a conta, saí da boate e fiquei esperando ele sair. Quando o Cristiano saiu, ele foi pego de surpresa. Foi brutal, pura covardia dos suspeitos. Tentamos intervir, mas eles (policiais) eram treinados e lutavam artes marciais. Eles sabiam o que estavam fazendo. Provavelmente, aconteceu alguma coisa entre o Cristiano e os policiais na hora em que ele ficou sozinho com eles na fila do caixa. Mesmo depois que mataram o Cristiano, eles ainda tiveram a audácia de correr atrás da gente. Estavam completamente descontrolados. Queriam fazer o mesmo que fizeram com o Cristiano com todos os amigos dele", detalhou.

Participaram do encontro os deputados Cristiano Silveira (PT), Marília Prates (PT), Neivaldo de Lima (PT), Sargento Rodrigues (PDT) e Carlos Pimenta (PDT), o advogada da família de Cristiano, Walter Nery, e o delegado Alexandre Oliveira. A Polícia Militar não enviou representantes.

O deputado Cristiano Silveira, presidente da Comissão de Direitos Humanos, afirmou que a delegação acompanhará o caso. Para isso, os políticos presentes aprovaram um requerimento, que será enviado à Corregedoria da Polícia Militar, solicitando que todas as conclusões das investigações sejam encaminhadas para a Casa.

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