Belo Horizonte

Polícia prende suspeita de arrecadar dinheiro para falsa caridade

Solidariedade era artimanha para aplicar golpes que podem totalizar R$ 2 milhões

Por Mariana Nogueira
Publicado em 18 de janeiro de 2019 | 14:48
 
 
 
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As publicações nas redes sociais pediam doações diversas para os necessitados. Cestas básicas, roupas, sopas e cadeiras de rodas... eram essas ações que pareciam alegrar Andréia Amorim Meinicke, 54, conhecida por amigos e familiares como uma mulher generosa e altruísta.

A gerenciadora de empresas, contudo, arrecadava dinheiro de dezenas de conhecidos mas nunca fez nenhuma das doações prometidas. A caridade era apenas mais uma artimanha para aplicar golpes que, segundo a Polícia Civil, podem somar R$ 2 milhões somente nos últimos três anos. Anteontem, Andreia foi presa preventivamente.

A suspeita era gerente financeira do grupo Elevar, uma das principais administradoras de condomínios de Belo Horizonte. Ela era responsável por receber os cheques dos cerca de nove condomínios administrados pela empresa e realizar os pagamentos de funcionários e prestadores de serviço de cada unidade. Ao todo, a mulher administrava mensalmente entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões.

Nos últimos quatro anos, entretanto, Andréia começou a usar da sua função para se beneficiar. Ela passou a falsificar a assinatura de um dos sócios da administradora para emitir e autorizar a compensação de cheques diversos.

Em seguida, ela ia até a caixa lotérica de um grande amigo e descontava os valores, embolsando instantaneamente parte do dinheiro. Segundo a Polícia Civil, funcionários dos condomínios chegaram a ficar sem receber seus salários devido aos desvios. 

Estima-se que 800 cheques tenham sido desviados desde 2015, totalizando um montante de quase R$ 2 milhões em desvios. Para passar despercebida pelas empresas e não levantar desconfianças, a golpista utilizava os caixas de outros condomínios administrados para compensar os pagamentos dos prejudicados, mas isso apenas quando algum dos condomínios notava algum rombo no caixa.

A mulher afirmava ter acontecido um engano e imediatamente compensava os valores. Como toda a arrecadação dos condomínios ia para as mãos dela, a rotatividade do dinheiro era sempre elevada.

Os condomínios, contudo, começaram a perceber as faltas e os donos da administradora, ao observarem os cheques, suspeitaram da falsificação das assinaturas e acionaram a polícia, que investiga a situação desde julho do ano passado.

Quanto aos golpes ligados à caridade, a mulher, mesmo não realizando nenhuma das doações, utilizava as notas fiscais dos próprios condomínios que administrava para comprovar as compras.

“Foram fraudadas datas e valores para justificar a compra dessas instituições. Ela sempre ajudava muitos familiares, tanto que eles ficaram surpresos porque ela era uma pessoa bondosa”, afirmou o delegado Vinicius Dias, do Departamento Estadual de Fraudes e Crimes contra a administração pública.


A gerenciadora de empresas Andreia Amorim Meinicke, 54, costumava publicar mensagens com frequência no Facebook, inclusive para pedir as doações de caridade que, na verdade, nunca existiram. Em sua última publicação na rede, no dia 15 de janeiro, ela compartilhou com os amigos que estava muito feliz. Nos últimos dois dias, contudo, o perfil da mulher recebeu uma onda de comentários não tão positivos assim.
“Será que está feliz agora que está presa?”, questionou uma seguidora. Um outro seguidor questionou Andreia. “Conta para todo mundo o tal do golpe que a polícia está investigando. Tu não tem vergonha nessa sua cara não?”, disse.
“Ela participa de um grupo chamado ‘Cruzada do povo em favor da moralidade’. É uma piada. A típica didadã de bem”, afirmou uma mulher.
Em uma das publicações de Andreia falando sobre o volume de roupas para guardar diariamente no armário, um senhor avisou: “Na cadeia, não terá esse problema. Serão poucas roupas para guardar. Não terá nem onde guardá-las, na verdade”, disse.
Na rede, contudo, amigos de Andreia também comentaram a publicação defendendo a mulher. Um homem, que não será identificado, proferiu palavras de baixo calão, como “canalha”, em diversos comentários negativos nas postagens da golpista, que está presa preventivamente desde anteontem. (MN) 


<MC>A caixa lotérica onde Andreia realizava as compensações dos cheques ilegalmente fica no bairro Floresta e está na mira da Polícia Civil. O dono da lotérica, que é amigo da golpista há 20 anos, também está sendo procurado para prestar depoimento. A corporação acredita que, nos próximos dias, outras pessoas envolvidas no esquema possam ser presas, uma vez que não apenas Andreia era autorizada a realizar as compensações dos cheques como, também, pessoas que eram autorizadas por ela. A Polícia Civil também investiga se parentes e amigos da suspeita, que recebiam ajuda da mulher, tenham envolvimento com os crimes.

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