A praça Sebastião Paes de Almeida, no bairro Mangabeiras, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi adotada por uma associação de moradores para revitalização, como parte do programa Adote o Verde, da prefeitura. Mas frequentadores do local se queixam de apropriação do espaço público, já que a área foi fechada por tapumes, cercas e cadeados há seis meses, sem qualquer aviso sobre a obra ou seu prazo de conclusão.

A Regional Centro-Sul, que responde pela praça na prefeitura, declarou que não há irregularidade e que tudo está correndo nos moldes do programa. O Clube dos Caçadores, condomínio de casas de luxo responsável pela revitalização, também negou ter-se apropriado da área. Segundo o gerente do conjunto de residências, Henrique Santos, a praça deve ser reaberta em dezembro – isso se o clube “conseguir arrecadar todo o dinheiro” para a obra. “Estamos na correria”, afirmou.

A praça Sebastião Paes de Almeida fica no meio do antigo Clube dos Caçadores, que no passado fechou vias públicas para uso exclusivo do grupo de moradores do local. A guarita ainda existente no local não intimidava os visitantes, que lotavam a praça nos fins de semana. “Vinham muitas famílias com crianças e cachorros”, comentou o empresário Daniel Soares, 41, um dos frequentadores assíduos.

Em fevereiro deste ano, no entanto, a área de 5.900 m² foi fechada por tapumes grafitados, sem a logomarca da prefeitura, como é característica em intervenções do município. Não há também placa informativa com a descrição da obra nem o prazo de conclusão. Daniel Soares mostrou a cópia de três chamados que fez na prefeitura, mas em nenhum deles teve resposta sobre o motivo do fechamento. “A praça é pública, temos o direito de saber o que está acontecendo. Caso contrário, é apropriação do espaço público”, criticou. As obras, segundo moradores, seguem lentamente.

Outro lado. O gerente do condomínio, por sua vez, informou que as intervenções são diárias e que a praça foi cercada por tapumes apenas para proteger a população. “Tivemos infestação de lagartas no local. Então, uma das primeiras ações foi podar os coqueiros e colocar veneno em tudo. Fechamos para impedir que crianças tivessem contato com o produto”, explicou Henrique Santos. Outro objetivo, segundo ele, é evitar o vandalismo e a danificação de mudas de plantas. “Infelizmente, nem todos têm cuidado. Temos plantas caras ali.

Santos não informou o custo da revitalização. O projeto inclui serviços de jardinagem, como retirada do mato, recuperação do gramado e de árvores frutíferas e cultivo de novas plantas ornamentais. Não haverá intervenção mais pesada, como instalação de mobiliário ou construção de equipamentos públicos, como banheiros.

A prefeitura informou que não estabeleceu prazo para a reabertura da praça, mas o condomínio garante que o fará assim que as obras forem concluídas. “Será um presente para os frequentadores, eles vão ficar boquiabertos”, concluiu o gerente.

 

Outra área

Exemplo. O parque Cássia Eller, na Pampulha, também fica dentro de uma área fechada por cancela, e, depois de muita polêmica do acesso da população, a solução foi sinalizar uma entrada sem passar pela portaria.

 

Saiba mais

Acesso. Ainda hoje, há uma guarita com cancela na entrada do Clube dos Caçadores, mas a cancela foi desativada há mais de dez anos, desde que a Justiça proibiu o fechamento. O acesso é feito livremente, sem necessidade de identificação.

Reforma. Após ser consultada pela reportagem, a prefeitura foi à praça e informou que a reforma corre normalmente.

Programa. O Adote o Verde é uma parceria entre a prefeitura, a iniciativa privada e a comunidade em geral, com o objetivo de viabilizar a implantação e principalmente a manutenção de parques, praças, jardins, canteiros de avenidas e demais áreas verdes públicas da cidade. Hoje, cerca de 300 espaços verdes do município fazem parte do programa.

 

Abandono já vinha impedindo acesso

Antes de ser fechada por tapumes, cercas e cadeados, a praça Sebastião Paes de Almeida já vinha sendo tomada pelo mato, que dificultava o acesso da população. Moradores do Clube dos Caçadores relatam que havia infestação de lagartas e escorpiões e que até cobra apareceu no local.

Por isso, quando a área foi fechada para revitalização, vizinhos do espaço ficaram aliviados. “Além dos bichos, a insegurança era maior porque vinha muita gente de fora”, comentou um morador que pediu para não ser identificado.

Há quem diga, no entanto, que o abandono era uma estratégia do antigo condomínio fechado para expulsar os visitantes. “Primeiro disseram que tinham colocado veneno na grama, que não era para usar. Depois deixaram o mato crescer. Como ninguém deixou de frequentar, fecharam com tapumes”, retrucou o empresário Daniel Soares.

O Clube dos Caçadores informou que a responsabilidade de manutenção da praça até janeiro deste ano era da prefeitura. A Regional Centro-Sul, por sua vez, não explicou o porquê do abandono.