São João del-Rei

Prefeitura divulga 'nova' bactéria mais letal em criança em Minas: entenda

Resultado de amostra identificou a subespécie streptococcus sp. alfa-hemolítico em criança hospitalizada com sintomas; a menina teve alta na última quarta-feira (24)

Por Raíssa Oliveira
Publicado em 26 de outubro de 2023 | 13:19
 
 
 
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As causas da morte de três crianças de 3, 10 e 11 anos, em São João del-Rei, no Campo das Vertentes, em Minas Gerais, e a internação de outras quatro após suposta contaminação pela bactéria streptococcus seguem sendo investigadas pela Secretaria Municipal de Saúde da cidade, que aguarda o resultado dos exames realizados pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). Inicialmente, a pasta afirmou que amostras laboratoriais confirmaram o contágio de uma criança, que já recebeu alta hospitalar, por streptococcus pyogenes. No entanto, nessa quarta-feira (26 de outubro), a secretaria voltou atrás e disse que o resultado identificou a subespécie streptococcus sp. alfa-hemolítico. (Veja a diferença entre as duas espécies abaixo).

A reportagem de O TEMPO conversou com a infectologista Karina Nápoles que explicou as diferenças entre as duas bactérias investigadas. Segundo a médica, elas pertencem ao gênero streptococcus, mas são de subespécies diferentes. Apesar disso, os microrganismos podem causar sintomas semelhantes, com infecções na garganta e na pele. No entanto, a classe pyogenes aparentemente é mais comum e menos letal. Já a streptococcus sp. alfa-hemolítico, apesar de ser mais rara, pode causar infecções mais graves devido a produção de toxina. 

Streptococcus sp. alfa-hemolítico

De acordo com a especialista, a bactéria do grupo A pode causar infecção na garganta, no ouvido e na pele, podendo evoluir para febre reumática, insuficiência renal e infecções graves. Apesar de não ser o mais comum, ela explica que a produção de toxinas desse tipo de bactéria costuma causar a evolução para casos graves. 

“Aparentemente a infecção pelo pyogenes é mais comum e menos grave do que a infecção do grupo alfa-hemolítico, que devido a produção das toxinas desses grupos costumam evoluir para casos mais graves, apesar de ser mais rara”, conta. Ela explica que essas toxinas podem causar a síndrome do “choque tóxico”, além de uma septicemia. “É uma infecção bem mais grave e com risco de vida”, aponta. 

A médica afirma ainda que o tratamento é feito à base de antibióticos. “Opção geralmente é o clavulin ou azitromicina e, em casos graves com internação, usamos ceftriaxona”, aponta. 

Streptococcus pyogenes

Karina Nápoles detalha que as contaminações pela bactéria do grupo pyogenes costumam ser mais frequentes e menos letais. A infectologista afirma que os sintomas após a contaminação são semelhantes. Segundo ela, uma das complicações que o microorganismo pode causar é a febre escarlatina, típica em crianças de idade escolar durante a primavera. 

“Causa as principais doenças das amigdalites e complicações como febre reumática e a escarlatina, que é quando se complica com infecções de pele. A escarlatina ela se manifesta com sintomas de febre, mal-estar, vômito e lesões de pele características”, detalha. 

A médica afirma ainda que, assim como no caso da espécie alfa-hemolítico,  o tratamento também é feito à base de antibióticos. Ela explica que a diferenciação entre as duas bactérias só pode ser feita com análises laboratoriais. 

“Não tem diferença no tratamento, como são streptococcus o tratamento são com antibióticos que cobrem bactérias Gram-positivas. Pelos sintomas não dá para saber qual é, apenas com a identificação da microbiologia. Então o tratamento não sofre prejuízos ao se esperar essa identificação porque os exames às vezes demoram 3 a 5 dias para ter resultado”, garante. 

Transmissão 

A transmissão é feita de uma pessoa para a outra, por meio de contato próximo ou através de tosses ou espirros. “Por estar na mucosa da região da faringe, ela pode contaminar ainda alimentos. Então se a pessoa contaminada fala, pode haver respingos e contaminação de alimentos. Água também pode ser contaminada”

Entenda

A reportagem de O TEMPO conversou com Andreia Pereira Donato, de 43 anos, integrante de um grupo de mães que organizaram uma manifestação na terça-feira (24 de outubro), em frente à Prefeitura de São João del-Rei, após a morte de três crianças. A mulher contou que tudo começou há um mês, quando um menino, de 11, passou mal na escola com dor de garganta e vômito.

Ele foi levado a Upa da cidade, onde o médico receitou analgésicos e antibiótico. No dia seguinte, a criança piorou e foi internada na Santa Casa da Cidade, onde morreu dias depois. “Logo depois, veio o caso de uma menina de 3 anos que morreu após ter os menos sintomas, ela teve ainda febre alta e marcas arroxeadas pelo corpo”, conta.

O último caso, segundo Andreia, ocorreu nessa segunda (23 de outubro), quando uma menina de 10 anos morreu também com sintomas semelhantes. A terceira morte gerou pânico na população que, assustada, cobrou medidas da prefeitura e o fechamento das escolas. O pedido foi atendido pelo Executivo, que suspendeu as aulas na última terça (24), por tempo indeterminado. 

A medida foi replicada pelas prefeituras de cidades vizinhas à São João del-Rei, que também decidiram suspender as aulas nas escolas municipais para desinfecção dos cômodos, móveis e objetos. 

SES-MG descarta surto

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), no entanto, afirmou que não há critérios que comprovem surto ou risco à saúde da população de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, após a morte de três crianças de 3, 10 e 11 anos, e a internação de outras quatro. Os pacientes apresentaram sintomas como dor de garganta, amigdalite, febre, vômito, manchas e erupções na pele.

Em nota, a pasta ressaltou que acompanha junto à Unidade Regional de Saúde e à prefeitura os casos de óbitos. “As amostras estão sendo analisadas em laboratório”, disse em um dos trechos. As investigações estão sendo realizadas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs Minas). 

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