Nelson Hungria

Presos impedidos de irem ao velório do pai podem ter ordenado ataque

Servidor da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) recebeu e-mail da irmã dos detentos, que seriam integrantes do PCC, com ameaças

Por Mariana Nogueira e José Vítor Camilo
Publicado em 03 de novembro de 2017 | 13:15
 
 
 
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O ataque a tiros contra dois agentes penitenciários e um adolescente nas proximidades da penitenciária Nelson Hungria, no bairro Nova Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, na última terça-feira (31), pode ser fruto de uma retaliação por parte de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC). Nesta sexta-feira (3), a Polícia Civil (PC) confirmou que a possibilidade é uma das principais linhas de investigação da corporação sobre o caso. A organização criminosa estaria vingando a transferência de três detentos que teriam ameaçado agentes penitenciários após não serem autorizados a comparecer ao enterro do pai deles, que também estava preso na unidade.

De acordo com o delegado Christiano Xavier, a linha principal de investigação da corporação neste momento começa em torno da morte de um detento no dia 25 de outubro por causas naturais. O homem, de 60 anos, estava preso no mesmo pavilhão com outros três filhos e um genro e sofreu uma parada cardiorrespiratória. Todos eles seriam membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e teriam sido presos após explodirem caixas eletrônicos em Campos dos Gerais, no Sul de Minas.

Com a morte do homem, os filhos e o genro queriam ir ao enterro, que aconteceu também na cidade mineira. Com a negativa da Justiça, eles passaram a ameaçar os agentes penitenciários. Um deles, inclusive, teria registrado uma ameaça em um boletim de ocorrência. Com a possível retaliação, três dos quatro detentos foram transferidos para presídios diferentes no dia 28 de outubro, ficando apenas um dos filhos do homem na penitenciária Nelson Hungria.

“A gente não pode descartar nada, mas a linha mais acertada é em relação a uma série de acontecimentos que antecederam o dia 31. Dias antes do crime, um dos agentes que foi vítima dos disparos registrou um boletim de ocorrência com as ameaças proferidas pelos filhos desse detento que morreu”, afirmou o delegado.

No dia 29 de outubro, a mãe dos presos teria ido a penitenciária visitá-los. Ao ser informada da transferência dos filhos e do genro, a mulher teria dito aos agentes penitenciários que vingaria a situação e mataria os agentes. Um servidor da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) inclusive recebeu um e-mail com ameaças. Confira a mensagem a que O TEMPO teve acesso: 

FOTO: ANÔNIMO / WEB REPÓRTER
AMEAÇA NELSON HUNGRIA
Servidor da Nelson Hungria recebeu ameaças por e-mail

Após o atentado, o servidor da Seap que recebeu o e-mail registrou um boletim de ocorrência, uma vez que a negativa de escolta para o velório e transferência dos presos poderia ser a motivação da tentativa de homicídio contra os agentes.

Câmeras de segurança

A Polícia Civil divulgou ainda na manhã desta sexta-feira imagens das câmeras de segurança de um condomínio que mostram dois homens dentro de uma caminhonete vermelha pedindo informações no meio do caminho. Desde o início das investigações, a polícia já tinha a informação de que os disparos teriam sido feitos por um indivíduo dentro de uma picape vermelha. A polícia informou que já identificou algumas pessoas que podem ter semelhança com os suspeitos.

A imagem foi divulgada para ajudar na identificação dos autores. Assista: 

Estado de saúde

No dia 31 de outubro, um agente de 40 anos e outro de 41 estavam a chegando ao trabalho na unidade prisional quando foram alvejados por dois homens. O mais novo deles, que estava com a calça e o coturno do sistema prisional, foi abordado pelos dois homens em uma caminhonete vermelha e, em seguida, foi alvejado com nove disparos de arma de fogo. 

Já o agente de 41 anos foi vítima de dois tiros. Segundo a PC, os agentes trabalham há pouco tempo na penitenciária. Eles foram transferidos para a regional há cinco meses e dividem apartamento. “Essa é uma das razões por nós não acharmos que se trata de algum fato relacionado a vida pessoal dos agentes. Eles vieram de outra cidade, eram agentes penitenciários há mais de 12 anos e passaram em um concurso público para se tornarem efetivos. Não convivem na região porque tem família fora, moram apenas há dez minutos dali de caminhada”, informou o delegado.

Um adolescente de 13 anos que passava pelo local no momento dos disparos também foi vítima de um tiro. A Polícia Civil informou que o rapaz já recebeu alta e passa bem.

Ainda segundo a Polícia Civil, o agente de 41 anos também foi liberado. O único internado é o de 40 anos que foi vítima de nove tiros, sendo cinco deles na perna. “Ele respira sem a ajuda de aparelhos, tem um projétil alojado no maxilar. Alguns projéteis foram retirados e outros não porque não estão atrapalhando. Já está bastante lúcido, conversando, e em breve vai ter alta”, afirmou o delegado Xavier.

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