Análise

Professora da UFMG diz que tragédia em Capitólio poderia ter sido evitada

Docente destacou que lanchas não poderiam chegar tão próximo das rochas

Por Vitor Fórneas
Publicado em 09 de janeiro de 2022 | 10:38
 
 
 
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A tragédia provocada pela queda da rocha de um cânion em Capitólio, no Sul de Minas, poderia ter sido evitada. É o que afirma a professora Maria Parisi, do Departamento de Geologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Oito pessoas morreram e duas seguem desaparecidas até a manhã deste domingo (9).

A docente explica à reportagem de O Tempo que o paredão que se desprendeu dava sinais de que algo poderia ocorrer. “Os sinais a que me refiro é porque tenho o olhar técnico. Já dava para enxergar sistemas de fraturas. Existia uma bem repetitiva e muito prolongada na rocha, de forma vertical, ao longo de todo o paredão”.

Esta, segundo Parisi, não era a única. “Ainda tinha uma outra fratura mais horizontal. Isso é comum nas rochas, pois elas sofrem pressão. Não acontece somente em Capitólio”. As fraturas vão permitindo mais entrada de água e, consequentemente, o “enfraquecimento dos minerais da rocha”.

“A rocha vai perdendo resistência e a ruptura acontece. A superfície que aparece após a queda mostra que a fratura já estava predisposta a se romper pelos sinais de percolação de água ali existente”. A situação se agrava, conforme explica a professora, pelo período chuvoso, já que temos mais quantidade de água entrando nas rochas. A cor mais escurecida também é um indício.

Em vídeo que circula pelas redes sociais, a professora destaca: "A área já estava predisposta à ruptura".

Distância mínima

Descobrir o momento em que a queda do paredão iria acontecer era difícil, no entanto, tomar ações de precaução eram necessárias. 

Parisi defende “fiscalização constante” em áreas rochosas e que tenham água. “Os blocos deveriam ser avaliados constantemente e, conforme os resultados das análises, os blocos devem ser desplacados antes para não oferecer riscos a turistas”, diz.

Uma medida de prevenção seria limitar a aproximação das lanchas. “Atividade turística como esta tem que estar respaldada por laudo geológico. Tem que ter distância mínima da lancha com as rochas. Isso que aconteceu é um fenômeno que pode se repetir. As lanchas não podem se aproximar tanto”.

A professora acredita que se tal medida fosse adotada, “a tragédia não teria acontecido”. “Os barcos mais distantes não foram afetados. É muito triste ver situações onde poderia ter sido evitado o pior, caso houvesse análise técnica”.

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