A tragédia provocada pela queda da rocha de um cânion em Capitólio, no Sul de Minas, poderia ter sido evitada. É o que afirma a professora Maria Parisi, do Departamento de Geologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Oito pessoas morreram e duas seguem desaparecidas até a manhã deste domingo (9).
A docente explica à reportagem de O Tempo que o paredão que se desprendeu dava sinais de que algo poderia ocorrer. “Os sinais a que me refiro é porque tenho o olhar técnico. Já dava para enxergar sistemas de fraturas. Existia uma bem repetitiva e muito prolongada na rocha, de forma vertical, ao longo de todo o paredão”.
Esta, segundo Parisi, não era a única. “Ainda tinha uma outra fratura mais horizontal. Isso é comum nas rochas, pois elas sofrem pressão. Não acontece somente em Capitólio”. As fraturas vão permitindo mais entrada de água e, consequentemente, o “enfraquecimento dos minerais da rocha”.
“A rocha vai perdendo resistência e a ruptura acontece. A superfície que aparece após a queda mostra que a fratura já estava predisposta a se romper pelos sinais de percolação de água ali existente”. A situação se agrava, conforme explica a professora, pelo período chuvoso, já que temos mais quantidade de água entrando nas rochas. A cor mais escurecida também é um indício.
Em vídeo que circula pelas redes sociais, a professora destaca: "A área já estava predisposta à ruptura".
"A área já estava predisposta à ruptura". A afirmação é da professora Maria Giovana Parisi. A titular do Departamento de Geologia da UFMG analisou imagens da região onde aconteceu a tragédia de Capitólio. (Crédito: Reprodução/Redes Socais) pic.twitter.com/udQfzdASrN
— O Tempo (@otempo) January 9, 2022
Distância mínima
Descobrir o momento em que a queda do paredão iria acontecer era difícil, no entanto, tomar ações de precaução eram necessárias.
Parisi defende “fiscalização constante” em áreas rochosas e que tenham água. “Os blocos deveriam ser avaliados constantemente e, conforme os resultados das análises, os blocos devem ser desplacados antes para não oferecer riscos a turistas”, diz.
Uma medida de prevenção seria limitar a aproximação das lanchas. “Atividade turística como esta tem que estar respaldada por laudo geológico. Tem que ter distância mínima da lancha com as rochas. Isso que aconteceu é um fenômeno que pode se repetir. As lanchas não podem se aproximar tanto”.
A professora acredita que se tal medida fosse adotada, “a tragédia não teria acontecido”. “Os barcos mais distantes não foram afetados. É muito triste ver situações onde poderia ter sido evitado o pior, caso houvesse análise técnica”.