O risco de contaminação pelo coronavírus reduziu a clientela de prostitutas de Belo Horizonte, causando queda de até 90% na renda dessas mulheres. Os hotéis em que as garotas de programa atuam no baixo Centro estão fechados por ordem da Prefeitura, como medida restritiva para o combate à Covid-19. Nessa terça-feira (2) é comemorado o Dia Internacional da Prostituta, data que chama atenção para a discriminação sofrida pela classe.
Mesmo diante da proibição, algumas prostitutas se arriscam em prédios que funcionam clandestinamente e até mesmo em avenidas como a Paraná e a Santos Dumont. "A gente não tem segurança nenhuma, na rua é todo mundo contra todo mundo, ninguém é amigo de ninguém", disse uma prostituta, 42, que estava na avenida Santos Dumont, à procura de clientes.
Ela conta que teve queda de 90% no número de clientes e que espera ansiosa para a reabertura do comércio, o que aumentará a movimentação de pessoas no centro da capital e também permitirá o funcionamento dos hotéis. "Caiu. Caiu bastante, uns 90%", lamenta. Sobre o risco de contaminação, afirma usar álcool em gel durante o atendimento.
Outros trabalhadores que dependem do dinheiro movimentado pela venda de favores sexuais também sofrem com as restrições. "A situação está complicada para quem precisa de trabalhar. Então a gente trabalha escondido como se fosse vagabundo, porque infelizmente eles não querem deixar a gente trabalhar. A gente depende disso aqui, a gente que tem filha, é pai de família, paga aluguel. Os R$ 600 que eles dão não tem como fazer isso tudo", reclama John Márcio Ramilo, 38, porteiro em um dos hotéis que funcionam escondido das autoridades na rua Curitiba.
A reportagem tentou falar com outras garotas de programa na manhã dessa terça-feira (2), mas elas preferiram não dar entrevista. Uma delas disse que não podia falar "porque eles matam", sem dar mais detalhes sobre a ameaça.
No Brasil, a prostituição não é crime. Porém, ganhar dinheiro com essa atividade exercida por outra pessoa é crime previsto pelo artigo 230 do Código Penal. A pena é de um a quatro anos de prisão e multa.