Injúria racial

PUC-MG demite professora que mandou estudante cortar cabelo alegando fedor

Registro racista foi gravado em áudio pelos alunos da docente, que foi demitida pela universidade

Por Pedro Ferreira
Publicado em 04 de abril de 2019 | 17:32
 
 
 
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Uma professora do curso de medicina veterinária da PUC Minas, unidade Praça da Liberdade, região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi demitida depois que um áudio com falas racistas dela viralizou nas redes sociais.

O aluno do quarto período de psicologia da UFMG, Caíque Belchior Henrique, 20, que é negro e usa cabelo estilo black power, interrompeu a aula de J.T.A. para divulgar o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), na quarta-feira da semana passada (28).

O estudante conta que, quando deixou o local, os alunos que estavam em sala de aula gravaram os comentários da professora, que ainda solta um palavrão. “Nossa senhora, vai trabalhar. Chega aqui de chinelo. Corta o cabelo, vê se lava, um fedor danado”, diz a gravação.

Caíque contou à reportagem que foi à PUC Minas convidar os alunos para o congresso. “Depois que eu saí da sala, ela falou o que foi gravado. Falou que eu precisava arrumar um emprego, cortar o cabelo e tomar um banho”, disse Caíque, que preferiu não repetir outros comentários da professora, por não se sentir à vontade, segunde ele.

Caíque considerou a demissão da professora “um ato mais do que justo”. Ele conta que recebeu apoio de muita gente. Na sexta-feira da semana passada, vários alunos da PUC Minas fizeram manifestação em frente ao campus em repúdio ao discurso de ódio. “Ocupamos a entrada do prédio da medicina veterinária e o coordenador do curso, no mesmo dia, conversou comigo”, disse.

Para o estudante, a decisão da PUC-Minas de demitir a professora vai servir de lição para acabar com o que considerou discurso de ódio. “Dá para perceber na gravação que ela (a professora) se sente bem à vontade de estar falando aquilo dentro de sala de aula”, disse Caíque.

Segundo o estudante, há relatos de que a professora já tinha um histórico de comentários semelhantes em sala de aula. “Agora, espero que sirva de exemplo para outros professores que pensam como ela,  para que pensem duas vezes antes de dizer qualquer coisa. Já recebi mensagens de vários alunos falando que estão se sentindo mais seguros agora para não tolerar mais discursos de ódio e de preconceito dentro de sala de aula, proferidos pelos professores”, afirmou. “Agora, eles percebem que têm voz dentro da universidade e que a nossa voz será escutada”, reforçou.

Caíque adiantou que já está conversando com uma equipe de advogados e que pretende tomar medidas judiciais contra a professora. Ele conta que já havia sido vítima de racismo antes, na própria família dele, e também na escola, mas de forma velada, segundo ele. “Escancarado desse jeito, essa foi a primeira vez”, comentou.

Segundo o estudante, é uma prática comum entre os universitários gravarem as aulas para revisão das matérias depois. O áudio com as ofensas da professora, segundo ele, não foi proposital.

A professora foi procurada pela reportagem, mas o marido dela desligou o telefone. A PUC Minas informou que prefere não se manifestar sobre o assunto. Disse, apenas, que “tomou as medidas que julgou cabíveis”.

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