Patrimônio em risco

Quatro anos após incêndio em Museu Nacional, coleções ainda estão em risco em MG

Falta de recursos financeiros e até mesmo a ausência de políticas públicas são os principais pontos levantados por quem trabalha nos espaços

Por Vitor Fórneas
Publicado em 02 de setembro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Quatro anos depois do incêndio que destruiu um dos acervos mais importantes do Brasil — o do Museu Nacional, no Rio de Janeiro — os museus das principais cidades históricas de Minas Gerais ainda não se prepararam para evitar a perda das peças que representam a memória do povo mineiro. A falta de recursos financeiros e até mesmo a ausência de políticas públicas são os principais pontos levantados por quem trabalha nesses espaços. 

Localizado em Tiradentes, o Museu da Liturgia possui um diversificado acervo que vai desde prataria, tecidos, peças esculpidas em madeira, livros e muito mais. No entanto, não há um plano de recuperação. “O que temos é um plano de combate a incêndio: detectores de fumaça, saída de emergência e uma equipe preparada para debelar o fogo com mais velocidade”, conta Henrique Rohrmann, diretor do museu.

O gestor comenta das dificuldades encontradas para gerir o espaço e adotar as medidas necessárias de segurança. “Nos museus brasileiros nós temos muita dificuldade financeira, pois basicamente vivemos de patrocínios. Desconheço um museu que consiga viver apenas de bilheteria. O orçamento é muito apertado”. 

Observar tudo que acontece no museu é de suma importância para impedir que o pior aconteça, como o incêndio que destruiu o Museu Nacional. “Nós ficamos receosos, pois temos que manter tudo muito bem cuidado. Parte elétrica com manutenção preventiva. Fazemos isso pois sabemos que recuperar um acervo igual ao nosso é difícil, pois ele é único: dos séculos XVIII e XX. É um patrimônio com muita história e perdê-lo é irreparável, assim como aconteceu no Rio de Janeiro”, destaca.

Para manter as atividades, os gestores dos museus, conforme alerta Rohrmann, “precisam matar um leão por dia”. “A falta de recursos é muito complicada, por isso, acabamos recorrendo e pedindo para que mais empresas nos ajudem. É uma conscientização que precisa acontecer”.

Na Casa dos Inconfidentes, em Ouro Preto, faltam os planos de restauração e de incêndio. Os administradores vivem na expectativa de que eles sejam colocados em prática, pois um projeto já está sendo desenvolvido pela gestão municipal, que é a responsável por gerir o espaço.

“Somos um museu municipal e enviamos anualmente um relatório para a prefeitura pedindo que providências sejam tomadas. Com a pandemia da Covid-19, tivemos um fator dificultador, mas já levamos até o Executivo o projeto de reestruturação do prédio, pedimos plano de incêndio e de restauração. A nova gestão está atenta”, afirma a museóloga Romilda Mesquita, atualmente responsável pelo museu Casa dos Inconfidentes. 

Os pedidos de melhorias no museu, não têm data para serem executados, enquanto isso, a sensação é de “insegurança”. “Trabalhamos com insegurança e medo, pois os casarões de Ouro Preto são patrimônios não somente nossos, mas da humanidade. Ficamos apreensivos com todas estas questões a serem resolvidas e isso não podemos esconder. Peço a Deus para que nada aconteça”.

Analisando o que aconteceu desde o incêndio no Museu Nacional até o presente momento, Romilda é enfática ao dizer que nada foi aprendido para evitar tragédias como aquela. “Nada aprendemos e isso é muito triste. As políticas públicas precisam ter olhar especial para a cultura, pois nossos espaços são extremamente importantes para a história do Brasil. É preciso antecipar os desastres para preservar e conservar o patrimônio”, disse a museóloga. 

Esquecimento muito rápido

A falta de cuidado com as situações dos museus ocorre, na visão do secretário municipal de Cultura e Turismo de São João del Rei, Marcus Fróis, pelo esquecimento que se tem com os assuntos relacionados à cultura. “Lembro que quando a tragédia aconteceu no Rio de Janeiro, muito se lamentou e falou sobre o tema, mas passado alguns meses, ficou no esquecimento”.

O Museu Tomé Portes Del-Rei chegou a funcionar no mesmo casarão onde funcionava a secretaria e o acervo já até ficou totalmente guardado em uma sala. “Quando abrimos o museu foi para não perder o acervo. Agora estamos alocados na parte de cima do imóvel. Fizemos a primeira fase e agora trabalhamos com o projeto de incêndio. Mesmo nosso prédio tendo sido reformado recentemente, incluindo a parte elétrica, ficamos com o olhar atento às situações”, ressalta. 

Assim como ocorre com Rohrmann e Romilda, Fróis também teme que o pior aconteça no espaço que não possui plano de incêndio. “Nós já avançamos muito, pois conseguimos fazer o museu funcionar, porém fica o medo”, finaliza. 

Posicionamentos

A reportagem procurou o governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, para saber se alguma força-tarefa tem sido realizada para vistoriar as principais edificações e os conjuntos históricos geridos pelo governo estadual, no entanto, o retorno não foi recebido até a publicação da matéria. O mesmo aconteceu com o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram). O texto será atualizado assim que os posicionamentos forem recebidos.

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