Caso grave

‘Quero que meu caso traga mais esperança às pessoas’, diz recuperado da Covid-19

Leonardo Gontijo, de 35 anos, venceu o coronavírus após ficar 12 dias internado e acompanhar a agonia de vários pacientes e uma morte ao seu lado

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 18 de julho de 2020 | 18:30
 
 
 
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“Eu não me desesperei hora nenhuma. Na hora que eu entrei no hospital, eu falei assim: Senhor dai-me paciência para ficar aqui e cabeça boa. Se eu tiver cabeça boa para ficar tranquilo, eu fico a quantidade de dias que precisar, mas me faça sair daqui bem. Essa era minha cabeça o tempo inteiro”. O relato de força e fé dado pelo mineiro, nascido em Divinópolis, Leonardo Nogueira Melo Gontijo, de 35 anos, resume o tipo de pessoa que ele é e talvez explique, em partes, como ele venceu a Covid-19 depois de ficar internado 12 dias, sendo cinco deles em CTI.

A positividade que o personal passa nas palavras, ele apresenta em vários outros momentos: no jeito calmo de atender o telefone, na simpatia ao receber a equipe de reportagem na casa dele no bairro Gutierrez, mesmo ainda em momento de recuperação, no carinho com que fala dos amigos e familiares e na preocupação em querer replicar para outras pessoas a mensagem de que é possível sair bem do CTI depois de complicações por coronavírus.

“Eu quero usar o meu caso para que as pessoas tenham mais esperança. É uma doença nova, e muitos estão chocados. Então, qualquer ajuda para incentivar já é uma ajuda. Eu sofri com uma doença que todo mundo está preocupado”, afirma. Foi essa vontade de ajudar que fez com ele gravasse um vídeo, que está repercutindo nas redes sociais. Lá no Instagram dele, Leonardo lembra: “Longe de querer romantizar a doença, eu quero é conscientizar as pessoas”.

Veja o vídeo gravado por Leonardo:

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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E ele não romantiza mesmo. Em quase uma hora de conversa com a equipe de O TEMPO, ele chorou e riu. Riu pela alegria de estar na estatística positiva, entre os 64.245 mineiros que se recuperaram, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde até este sábado (18). Mas não conseguiu conter as lágrimas ao se lembrar que um paciente morreu por complicações do quadro de Covid-19 ao lado dele no hospital.

“A enfermeira fechou o meu bloco falando que ia ter uma reunião e abriu dez minutos depois para lavar. Eu perguntei se a pessoa do lado tinha morrido e eles me responderam que sim. Nesse dia, minha perna bambeou. Chorei… chorei. Meu Deus, as pessoas estão morrendo do meu lado. Fiquei muito mal. Liguei para os meus amigos falando que eu precisava deles”, conta.

Outro fato que deixava Leonardo mais assustado era a velocidade com que a doença avançava. Em uma terça-feira, ele estava caminhando normalmente, chegou a gravar uma live para alunos da academia onde ele trabalhava, como sempre fazia. Na quarta-feira, se sentiu mais cansado do que o comum ao realizar as atividades físicas e decidiu procurar um médico e fazer o exame de Covid-19. Na quinta-feira, ele testou positivo pela manhã, à noite estava na emergência do hospital e já na sexta-feira estava na CTI, onde ficou por cinco dias. O que inevitavelmente fez ele chegar a uma conclusão: “A gente não vale nada, né!”, questiona.

E, por mais positivo que Leonardo tentasse se manter, uma coisa era fato: quando olhava ao redor, ele via pessoas entubadas, algumas inconscientes, um clima de tensão e uma equipe de médicos e enfermeiros em uma correria para tentar salvar o máximo de vidas possível. E no meio disso tudo, ele tentou ser o que ele chama de paciente ativo: “Eu fazia os exercícios respiratórios, mudava de posição, fazia tudo o que o médico mandava. Meu foco era me manter consciente para que eu pudesse ajudar no tratamento. Acho que isso faz muita diferença”, afirma, com o conhecimento de quem sempre cuidou do próprio corpo e de outras pessoas como personal.

No meio desse turbilhão, um detalhe fez muita diferença para ele. As mensagens de apoio que vinham nas marmitas. Cada vez que ele lia um “Fique firme!” ou “Isso vai passar”, ele repetia e interiorizava aquela mensagem. Durante a entrevista, Leonardo confidenciou acreditar que aquilo que se joga para o universo e se acredita com força, volta para a pessoa. Então, o que para alguns poderia ser apenas uma mensagem de autoajuda, foi para ele uma espécie de pílula de ânimo diária.   

Agora, já em casa, ele ainda conversa com um pouco de dificuldade, com um certo cansaço. Mas isso, também vai passar. E não foi a mensagem da marmita quem disse dessa vez não. Foi o médico. É que ele teve uma parte considerável do pulmão afetada pela doença e agora precisa continuar a tomar alguns medicamentos e, aos poucos, voltar a rotina. A boa notícia é que coronavírus ele não tem mais e nem transmite e daqui a uns dias, ele poderá voltar a fazer algumas caminhadas de leve. Tudo dentro do seu tempo. “Quero cuidar mais da minha saúde e  viver com mais intensidade”, garante.

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