Na rede pública

Respiradores mineiros até 90% mais baratos serão enviados para hospitais

Após longo processo de homologação junto à Anvisa, equipamentos foram aprovados, e pelo menos 4.000 aparelhos serão produzidos até o fim do mês

Por Lucas Morais
Publicado em 04 de agosto de 2020 | 13:45
 
 
 
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Praticamente do zero, uma empresa mineira de tecnologia iniciou um ousado projeto para a produção de respiradores a preço de custo em meio à pandemia. E, depois de quatro meses entre os primeiros estudos, instalação de uma fábrica inteira em Itajubá, no Sul de Minas, e os mais de 900 testes exigidos, o equipamento finalmente foi homologado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta semana. 

Com custo até 90% mais barato que o cobrado pelo mercado – o aumento da demanda fez os aparelhos custarem até US$ 30 mil, contra R$ 15 mil dos aparelhos mineiros –, a expectativa é distribuir 4.000 produtos até o fim do mês. O diretor comercial da Tacon, empresa responsável pelo projeto, Marco Antônio Tussi, explica que, desse total, 1.500 respiradores serão entregues de forma gratuita pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) ao governo do Estado, que vai fazer a distribuição do produto – a entidade entrou como parceira e aplicou recursos para viabilizar o projeto.

“O próximo passo é acelerar a produção para entregar o mais rápido possível os respiradores e cumprir o papel do projeto, que é salvar vidas. Ainda há muitos lugares com carência de equipamentos, como as cidades do interior”, explica. Conforme o dirigente, nesse primeiro momento os respiradores, que são cruciais para o tratamento da Covid-19 em casos graves, serão encaminhados aos hospitais e às unidades de saúde que ainda não estavam equipadas. “Vai ajudar nesse suporte mais básico e reforçar outros locais”, disse.

Até o fim da pandemia, que atingiu o platô em Minas Gerais – quando há uma estabilização, mas o número de confirmações diárias permanece alto –, a Tacon pretende produzir entre 7.000 e 12 mil ventiladores pulmonares para todo o Brasil. A cada dez dias, o equipamento pode ajudar na recuperação de uma pessoa. Na capacidade total de produção, eles podem salvar até 36 mil vidas por mês.

“O balanço é muito positivo e mostrou a capacidade da indústria mineira em arrancar do zero e conseguir homologar um aparelho complexo em poucos meses. É uma tarefa difícil, mas se o setor se movimentar em situações como essas, podemos ter uma realidade diferente”, comemora.

Burocracia atrasou processo

Homologado na classificação 3, a última entre as categorias de respiradores e que permite o uso até nos procedimentos mais complexos realizados nos CTIs, Marco Antônio lembra que só o processo na Anvisa teve duração de mais de 60 dias. “Lembrando que, se fosse em uma situação normal, a aprovação levaria um ano e meio”, afirma. 

Mesmo assim, o dirigente considera o tempo extenso para uma situação de emergência como a trazida pela pandemia. “Poderia ter sido criado um protocolo mais leve, como no mundo inteiro aconteceu, com normas específicas para a aprovação dos respiradores”, complementa. Caso fosse mais ágil, ele acredita que os equipamentos já estariam nos hospitais há pelo menos 45 dias.

Por outro lado, Marco Antônio enfatiza que, por conta da alta classificação dos produtos, será deixado um legado para a saúde pública após a pandemia. “Eles não foram desenvolvidos só para tratar casos de Covid-19, mas podem ser usados nas CTIs e equipar hospitais que antes não tinham condições de comprar essas equipamentos, que são caros”, finaliza.

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