As rodovias de Minas Gerais têm, atualmente, 403 pontos críticos que podem trazer graves riscos à segurança dos usuários. Os dados são da 26ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias 2023, realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e divulgada nesta quarta-feira (29 de novembro). Conforme o material, são considerados locais de perigo elevado aqueles com queda de barreira, ponte caída, erosão na pista, buraco grande e ponte estreita. As localizações dessas áreas não foram divulgadas.
O conteúdo, que também traz dados a nível nacional, destaca que, diante do cenário atual, há uma necessidade urgente de investimentos para viabilizar a reconstrução, restauração e manutenção das rodovias. Especialistas também reforçam a necessidade de mudanças diante da situação atual e após mais um acidente gerar bastante comoção em todo o Estado. Nessa segunda-feira (27 de novembro), uma carreta desgovernada arrastou diversos veículos, causando a morte de seis pessoas na BR-381, em Igarapé, na região metropolitana de Belo Horizonte. Na pesquisa, a rodovia aparece com a classificação "regular", mas não há mais especificidades.
Embora as causas do acidente ainda não tenham sido esclarecidas, especialistas e os próprios dados da CNT jogam luz às várias adversidades que motoristas e passageiros enfrentam nas estradas. A pesquisa mostra que em Minas Gerais, 78,7% da malha rodoviária pavimentada analisada têm algum tipo de problema, sendo considerada regular, ruim ou péssima. Apenas 21,3% da malha é considerada boa ou ótima.
“É um cenário de total abandono”, diz Alysson Coimbra, diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra). “Tanto as rodovias federais quanto as estaduais precisam de reestruturação do tráfego. Elas foram construídas há 30, 40, 50 anos, e os projetos não estão adequados para o cenário que se tem hoje”, afirma ele.
Segundo Coimbra, há uma falta de investimentos em revitalização e prevenção, dando lugar somente a intervenções pontuais. Com isso, ações preventivas, que são essenciais, como trabalhar com boas sinalizações, deram espaço apenas para ‘operações tapa-buracos’. “Isso virou uma máxima há muitos anos”, diz ele.
Os números da CNT ilustram o que diz o especialista. Quando o assunto é a sinalização das vias, por exemplo, 75,3% da extensão da malha rodoviária do Estado é considerada regular, ruim ou péssima, e apenas 24,7% boa ou ótima. Além disso, 8,3% estão sem faixa central e 15,9% não têm faixas laterais.
A pavimentação é outro ponto de conflito. Em Minas Gerais, 70,6% da extensão da malha rodoviária avaliada têm algum tipo de problema. Já 29,4% está em condição satisfatória e 0,7% está com o pavimento totalmente destruído. No que diz respeito à geometria da via (traçado), 80,5% da extensão da malha rodoviária têm algum tipo de problema; 19,5% está boa ou ótima. As pistas simples predominam em 88,4%. Falta acostamento em 59,3% dos trechos avaliados e 22,9% dos trechos com curvas perigosas não têm sinalização.
Especialista em transporte e trânsito, Osias Baptista afirma que esses tipos de problemas podem ser responsáveis por vários acidentes. “Onde tem piso ruim, com buraco, falta de aderência, os veículos não conseguem frear da mesma forma. Além disso, buracos podem fazer com que os motoristas percam o controle. A sinalização vai se desgastando, não é reposta, e os condutores não têm mais a convicção se podem ultrapassar ou não, se a curva é fechada ou não. Isso os leva a tomar decisões equivocadas”, afirma Baptista.
Nesse cenário, Alysson Coimbra, diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), lembra que também existem as falhas humanas. No entanto, conforme ele destaca, é possível agir em relação a elas, com medidas rígidas e preventivas.
“O que as concessionárias e gestores deveriam fazer é preparar as rodovias e estradas considerando as falhas humanas. Deve haver uma presença maior de fiscalização, revitalização de sinalização, controle de velocidade. Não é colocar radar aleatório, mas, sim, ter um controle rígido do limite máximo de velocidade nas imediações de pontos críticos”, diz ele.
Custos e investimentos
Além de as condições das rodovias mineiras serem preocupantes por conta dos acidentes que podem acontecer devido às más condições, há também as questões de ordem econômica, conforme mostra a pesquisa da CNT.
Os dados revelam que as condições do pavimento em Minas Gerais geram um aumento de custo operacional do transporte de 42,2%, o que causa reflexos na competitividade do País e no preço dos produtos. Além disso, os acidentes causaram um prejuízo de R$ 1,75 bilhão no ano passado. Ainda em 2022, o governo gastou R$ 67,06 milhões com obras de infraestrutura rodoviária de transporte.
Neste ano, as estimativas são de que haverá um consumo desnecessário de R$ 198,1 milhões em litros de diesel por conta da má qualidade do pavimento da malha rodoviária, custando R$ 1,30 bilhão aos transportadores.
Segundo a pesquisa, os investimentos necessários para recuperar as rodovias no Estado, com ações emergenciais e de manutenção, são de R$ 16,63 bilhões. Ainda conforme os dados, do total de recursos autorizados pelo governo federal para a infraestrutura rodoviária em Minas neste ano (R$ 497,39 milhões), foram investidos R$ 36,05 milhões até o último mês de setembro, o que corresponde a 7,2%.