33 óbitos

Sagrada Família é o bairro de BH com mais mortes por Covid em 2021

Outros bairros tradicionais de classe média, como Santo Antônio e Padre Eustáquio, aparecem entre os mais impactados pela Covid neste ano

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 05 de junho de 2021 | 07:00
 
 
 
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O Sagrada Família, na região Leste, é o bairro de Belo Horizonte com maior número de vítimas da Covid em 2021. Nesta semana, alcançou o total de 33 mortes pela doença, mesmo número registrado entre março e dezembro de 2020 no Alto Vera Cruz, a localidade mais impactada pela pandemia no ano passado. 

Santo Antônio, no Centro-Sul, e Padre Eustáquio, na região Noroeste, também estão entre os bairros que mais registraram óbitos por Covid este ano, revelando impactos geográficos e sociais diferentes entre a primeira e a segunda onda da doença. Enquanto em 2020 o impacto era maior nas regiões mais periféricas e nos aglomerados, neste ano houve mais registros de mortes em bairros tradicionais de classe média. 

De acordo com Waleska Caiaffa, professora da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenadora do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte, é preciso ter cuidado ao analisar os dados referentes aos bairros devido à complexidade da dinâmica urbana em uma grande cidade. 

“A epidemia é muito dinâmica. Ela chegou de avião nos bairros mais ricos, depois se espalhou e se encrustou dentro das áreas de vulnerabilidade social. Mas ao longo do tempo, a epidemia se espalhou, conforme a modificação dos indivíduos em relação a isolamento social e uso inadequado de máscara. Ela vai caminhando pela cidade e encontrando indivíduos susceptíveis”, explica a professora. 

Waleska Caiaffa lembra ainda que, além da vulnerabilidade social, outros fatores contribuem para o número de mortos em um determinado bairro, como o número de idosos, por exemplo. Desde o ano passado, o Buritis é o campeão no número de casos confirmados, mas registrou um número bem menor de óbitos em relação aos outros bairros populosos da cidade - foram 14 em 2021. “É um bairro jovem. Bem diferente de quando você chega em um Sagrada Família ou Floresta e percebe um número grande de moradores idosos. São bairros mais tradicionais, mais antigos”, completa. 

Também professor da Faculdade de Medicina da UFMG, o infectologista Geraldo Cunha Cury explica que é fundamental não olhar apenas para os números absolutos de mortes, mas sim para a taxa de mortalidade (razão entre mortes e população, dentro de um período de tempo). Como o Sagrada Família é o maior bairro de Belo Horizonte, com 34 mil habitantes, tem uma taxa de mortalidade de 93 óbitos a cada 100 mil habitantes - muito menor do que em outras localidades.

“Mil mortes no Brasil não tem o mesmo peso de mil mortes na Guiana Francesa. Se você observar as taxas de mortalidade, irá perceber que os bairros com aglomerados e de periferia continuam sendo os mais impactados”, diz o professor. 

A professora Deborah Malta, da Escola de Enfermagem da UFMG, argumenta que, em 2021, os bairros com maior número de idosos registraram mais mortes, mas a questão social não deixou de ser um fator importante no impacto da epidemia. 

"Em relação aos percentuais de variação por índice de vulnerabilidade social (IVS) entre os dois períodos, no primeiro trimestre de 2021, nas áreas de baixo risco, houve diminuição das internações e óbitos e um pequeno aumento nas áreas de médio. Mas houve aumento bem maior nas áreas de elevado e muito elevado risco", explica a professora, acrescentando que nas áreas de elevado risco de vulnerabilidade as pessoas morrem de Covid em idades mais jovens. 

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