“A terra é vida e espiritualidade. No momento em que a terra é explorada indevidamente, ela nos dá o retorno da sua dor”. A fala, dita pelo cacique Merong Kamakã, de 36, foi eternizada pelo Museu Nacional dos Povos Indígenas após a liderança ser encontrada morta na aldeia onde morava em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, nessa segunda-feira (4 de março). Nascido em Contagem, o cacique Merong pertencia ao povo Pataxó-hã-hã-hãe e era da sexta geração da família Kamakã Mongoió. Sua morte está sendo investigada pela Polícia Federal, junto à Polícia Civil de Minas Gerais.
Merong Kamakã era um defensor dos saberes milenares do “bem viver indígena” e um militante em defesa do território do seu povo, assim como dos povos amigos, como Kaingáng, Xokleng e Guarani. O cacique estava em Brumadinho liderando o processo de retomada das terras no Vale do Córrego de Areias quando foi encontrado morto.
Segundo informações do Museu do Índio e do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva, Merong dizia que “guiado pelo Grande Espírito”, sentiu que precisava “voltar às terras ancestrais” na região de Brumadinho, segundo ele, “protegendo-as da destruição que a assola e a ameaça constantemente”.
Ainda criança, Merong morou na Bahia junto com sua família de seis irmãos. É lá que está situado seu povo Pataxó-hã-hã-hãe. Nessa época, ele mesclava entre aldeia e cidade, e as reflexões sobre esse tema pautaram sua liderança desde então. “O indígena carrega uma carga histórica de sofrimento. Precisamos mostrar que não somos privilegiados. Somos parte do povo que sobreviveu a grandes massacres”, disse uma vez Merong Kamakã, de acordo com homenagem da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Quando esteve no Rio Grande do Sul, o cacique foi linha de frente em diversas lutas por terra, como a Xokleng Konglui de São Francisco de Paula. Ele também militou contra o marco temporal das terras indígenas.
As polícias Federal e Civil investigam a morte do cacique Merong Kamakã, encontrado sem vida nesta segunda-feira (4 de março), em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. No registro do boletim de ocorrência, a causa da morte é apontada como suicídio.
Outras lideranças, no entanto, suspeitam de um assassinato. Em nota, Frei Gilvander Moreira, participante da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais e amigo do cacique, destacou que Merong se sentia ameaçado por conta do trabalho que fazia.
“Cacique Merong disse várias vezes: ‘Se me matarem na luta, me transformarei em adubo para fazer germinar mais lutas pelos direitos indígenas para retomarmos nossos territórios’, lembrou frei Gilvander. A investigação continua.