O segundo protesto contra o aumento das passagens de ônibus em Belo Horizonte durou quatro horas, percorreu cerca de cinco quilômetros e transcorreu de forma pacífica.
Na última quarta-feira (12), a mesma manifestação foi interrompida quando a Tropa de Choque da Polícia Militar cercou os militantes e atirou bombas de gás e balas de borracha contra eles, para desobstruir a via. No final da quela noite, 62 pessoas tinham sido detidas e houve relatos de vários feridos, inclusive o repórter Denilton Dias, de O TEMPO.
Já nesta sexta-feira, com o mote de menos repressão – além da questão das passagens de ônibus – o protesto não teve nenhuma pessoa presa, segundo a PM. Os movimentos sociais que o organizaram tampouco relataram casos de agressão ou violência até as 21h.
Segundo a Polícia Militar, o auge do protesto contou com 600 pessoas. Já os manifestantes calculam 3.000 pessoas.
Veja como foi
O protesto começou por volta das 17h, com concentração ainda tímida na praça Sete. Havia seis viaturas no local naquele momento e os poucos manifestantes que já tinham chegado foram revistados.
Uma hora depois, segundo a PM, havia cerca de 300 pessoas. Às 18h15, elas começaram a fechar a avenida Afonso Pena. O momento mais tenso do protesto foi às 18h20, quando a PM deu 15 minutos para os manifestantes desobstruírem uma parte da avenida. Mais cedo, um representante da PM havia dito que a organização voltaria a usar a força caso fosse necessário liberar as avenidas. Por isso, membros do movimento Tarifa Zero chegaram a usar megafone para pedir que os manifestantes liberassem a faixa da esquerda da avenida, para passagem de carros e ambulâncias.
A partir dessa liberação, o protesto transcorreu sem confusão. Motoristas de ônibus e de carros passaram buzinando em sinal de apoio aos manifestantes, que seguiram pela avenida Getúlio Vargas, praça da Savassi, Cristóvão Colombo, praça da Liberdade e avenida João Pinheiro.
Depois de sair da Afonso Pena, eles chegaram a fechar totalmente as avenidas, mas já com a permissão da PM, que disse que aquelas outras vias não causam grande impacto no trânsito da cidade e o horário de pico já havia passado.
O grupo desceu de novo a Afonso Pena e terminou o protesto por volta das 21h, quando as pessoas começaram a se dispersar, de novo na Praça Sete.
A Polícia Militar informou que uma pessoa que estava na avenida Afonso Pena teve uma parada cardíaca, não resistiu e morreu no local. Ainda não se sabe se a vítima, que não foi identificada ainda, estava no protesto.
"Ao menos três ocorrências do Samu foram prejudicadas pelo fechamento das vias. Uma delas, foi a do senhor de 63 anos que morreu de infarte", relatou o Comandante do Comando de Policiamento Especializado, Robson Queiroz.
Questionado sobre a ação da PM na última manifestação, o comandante informou que as ações dos manifestantes desta sexta-feira definiram as atitudes adotadas pela corporação.
"Lógico que sempre existe aprendizado. A diferença hoje é que as lideranças dos protestos foram conversando com a Polícia Militar durante todo o trajeto. Informando a direção, podemos avaliar o prejuízo no tráfego e fazer as ações para amenizar o impacto", explicou o comandante ao se referir sobre a relação com os manifestantes no ato desta sexta.
Ação contra aumento das passagens
O Ministério Público Estadual (MPE) entrou com uma ação civil pública que pede a suspensão do aumento das passagens de ônibus, que passaram a vigorar no último sábado (8). A ação foi protocolada na 4º Vara dos Feitos da Fazenda Pública Municipal de Belo Horizonte.
A ação também solicita que seja feita uma perícia técnica, a ser realizada pelo Instituto de Criminalística, para apurar todo o movimento diário de venda de passagens. Seja por cartão BHBUS, diretamente nos coletivos e nas estações de transferências de passageiros do MOVE. O artigo 420, do Código de Processo Civil, autoriza o juiz a pedir a realização de prova pericial.
A justificativa para o reajuste concedido pelo Município se baseou na necessidade de manutenção do “equilíbrio econômico-financeiro do contrato”, quando as empresas alegaram estar tomando prejuízo com a elevação do custos e a diminuição do número de passageiros.
O MPE argumenta que já estaria em contrato o reajuste anual que supriria essas demandas e também a revisão quadrienal, que busca a compensação dessas diferenças de valores que a última foi realizada em 2013, que preza pelo equilíbrio.
A Defensoria Pública também entrou com uma ação civil na última quarta-feira pedindo a suspensão do reajuste.