Sindicatos que representam médicos e trabalhadores que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) denunciam a falta de antibióticos e anti-inflamatórios utilizados no tratamento de doenças respiratórias, como a gripe e Covid-19, em hospitais públicos de Minas Gerais.

Os movimentos também citam desabastecimento de alguns insumos básicos para internações como agulhas, seringas e coletores de urina. Nesta quarta-feira, o alerta já havia sido feito por entidades de saúde de outros estados brasileiros, que relataram dificuldades de aquisição dos produtos em função de problemas de importação de insumos, por causa da guerra na Ucrânia, do lockdown na China e movimentos de protesto de funcionários em portos e aeroportos.

Somente em Minas, dos 256 remédios distribuídos pela rede estadual, 51 fármacos estão em falta. De acordo com o diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Artur Oliveira Mendes, o problema ocorre há mais tempo, em função da pandemia da Covid-19. 

Todavia, houve um agravamento nas últimas três semanas, em unidades de saúde de Belo Horizonte, com a chegada do outono e maior risco na transmissão de doenças respiratórias. Oliveira diz que os estoques são baixos para antibióticos como amoxicilina com clavulanato, de uso pediátrico e adulto, anti-inflamatórios, corticóides e anti-alérgicos.

“São medicamentos muito utilizados neste período para controle de quadros de tosse, desconfortos. Não é específico para Covid e gripe, por exemplo, mas trata as complicações e esse desabastecimento traz uma dificuldade a mais”, explica Mendes. 

O diretor do sindicato ainda afirmou que, na próxima semana, o órgão vai enviar um ofício à prefeitura de Belo Horizonte para cobrar explicações sobre a situação. “O desabastecimento é recorrente, não é algo de agora. Falta planejamento e organização para manutenção dos estoques”, criticou Artur.

“É evidente o prejuízo no tratamento e cuidado com os pacientes. Nós estamos vendo uma demanda aumentada de doenças respiratórias e agora, junto, vem esse agravamento”, acrescenta. Além dos medicamentos, outro problema enfrentado é nos estoques de insumos hospitalares.

A reportagem de OTempo teve acesso a um comunicado, emitido pela coordenação da farmácia do Hospital Júlia Kubitschek - gerenciado pela Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) -, informando que a situação na unidade é “alarmante” sob risco de interromper atendimentos.

O texto diz que as alternativas “estão se esgotando” e que os principais problemas são para reservas de compressas estéreis, agulhas, seringas, jelcos, frasco reservatório, luvas e coletores de urina. 

“Iniciamos uma compra descentralizada dos itens que no momento está em análise pela corregedoria! Não queremos dar a impressão de um posicionamento agressivo, contudo teremos que realizar ações internas para minimizar desperdícios e ganhar sobrevida de estoque.  O risco de interrupção de serviços é grande”, denuncia o comunicado.

A diretora executiva do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde), Neuza Freitas, também criticou a gestão da Fhemig e citou que há falta de planejamento. “Pode ter certeza que se está faltando no Júlia Kubitschek, também há problemas em todos os hospitais da rede”, projeta Neuza.

A representante sindical afirmou que foi ao hospital para verificar o problema. “A Fhemig não se programa, eles esquecem que lidam com saúde e na saúde não pode esperar a agulha acabar para comunicar que acabou”, complementou. 

A reportagem procurou a Fhemig que negou os problemas. Segundo a Fundação, não há desabastecimento de medicamentos e insumos em suas unidades. "E, caso necessário, existem protocolos para substituição terapêutica", diz nota.

A Secretaria de Estado de Saúde foi questionada, mas não se posicionou até a publicação desta matéria.

Prefeitura explica 

Já a prefeitura de Belo Horizonte informou que há estoques de dipirona injetável e amoxicilina 250mg nas unidades da rede SUS-BH. "As medicações Deposteron 200mg, Novamox 400mg, Aminoglicosídeos, Imunoglobulina, Neostigmina e relaxante muscular não são padronizados e, sendo assim, não fazem parte dos medicamentos disponibilizados pelo município", explica a nota.

No Hospital Metropolitano Odilon Behrens, os estoques dos medicamentos Neostigmina, Gentamicina e Relaxante muscular estão abastecidos e não há falta, conforme a PBH. Já o amicacina está em falta e os processos para compra de imunoglobulina foram julgados fracassados devido à dificuldade de abastecimento da indústria farmacêutica, segundo o executivo.

"É importante reforçar que o hospital está tomando todas as providências necessárias para substituir as medicações, garantindo a assistência aos pacientes. Além disso, o contato com os fornecedores é constante para regularizar o abastecimento dos estoques", justifica. 

Ainda de acordo com a prefeitura, os estoques também estão normalizados no Hospital do Barreiro e não há risco de desmarcação de irurgias eletivas

Dipirona em falta

Em nota, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) afirmou que a dipirona injetável também enfrenta dificuldades de reposição. Ainda segundo o conselho, o problema está sendo discutido junto ao Ministério da Saúde.

O órgão federal afirmou que trabalha, em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para verificar as causas e articular ações emergenciais para mitigar o desabastecimento dos medicamentos. 

Farmácias não enfrentam problemas 

Ao contrário do cenário escasso nos hospitais, as farmácias de Minas não enfrentam dificuldades para aquisição de remédios. “Tivemos problemas, sim, no início do ano, mas agora já normalizou. Os medicamentos que estavam em falta já chegaram”, disse o vice-presidente Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Minas Gerais, Rony de Andrade Rezende. 

A reportagem tentou contato com a Associação e Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde de Minas para saber se há problemas na rede particular, mas os telefonemas não foram atendidos.