A Prefeitura de Belo Horizonte decidiu por manter aberto aos domingos somente os serviços de saúde, farmácia e postos de gasolina na capital. Supermercados, padarias, sacolões, lanchonetes, açougues e o Mercado Central só poderão operar por delivery ou drive-thru - neste caso, a regra só é válida para aqueles que possuem estacionamento internalizado. Atividades industriais também não estão autorizadas a funcionar. Um decreto com as novas regras será publicado nesta quarta-feira (24).

De acordo com o infectologista Unaí Tupinambás, membro do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 em BH, a medida tem o objetivo de frear o avanço do coronavírus na cidade. Atualmente, a taxa de ocupação das UTIs na rede pública está em 93,8%. Já na rede particular a ocupação é de 111,9%, segundo o levantamento epidemiológico do município. 

"Decidimos confirmar o fechamento de toda a cidade no domingo, deixando aberto só serviços de saúde, farmácia e posto de gasolina, sinalizando para a população que a situação está muito grave. A situação está fora de controle, a população precisa entender esse momento. Hoje, foram mais de três mil mortes em um dia (no Brasil). Isso é uma tragédia de grandes proporções, vai deixar uma marca na sociedade", analisa. 

Segundo o médico, a solução para conter o avanço do coronavírus é um lockdown generalizado em todo o país. Em Belo Horizonte, mesmo com o aumento alarmante do número de mortes, casos e internações de infectados pela doença, o índice de isolamento na cidade é de apenas 50,1%, de acordo com o boletim epidemiológico da PBH. 

“Hoje, 23 de março, estamos vivendo o momento mais tenso, mais dramático da pandemia desde o seu início. Tem paciente aguardando na fila, tem paciente sendo ventilado, usando ‘pulmão mecânico’ nas enfermarias ou mesmo em Unidades de Pronto Atendimento. A situação é de extrema gravidade”, avalia o Tupinambás, que defende ainda a escalada da vacinação para conter a pandemia neste momento.

"Se isso não for feito, o sofrimento vai se estender durante semanas. Nós estamos vivendo uma tragédia, o que estamos esperando para tomar uma decisão efetiva? A maioria das mortes poderia ser evitada", afirma o especialista destacando a falta de políticas centralizadas de enfrentamento da pandemia.

"A população tem que entender, não tem outra saída a não ser o distanciamento social. Na verdade, apenas um lockdown generalizado, em todo o país, pode conter o avanço dessa pandemia”, afirma o infectologista. "Mais do que nunca fazemos um apelo para toda a comunidade para ficar em casa, sair só se necessário, usas máscara bem ajustada, evitar aglomeração, lavar as mãos. A solução para essa crise está em cada um de nós que agir com humanidade, empatia, seguindo as orientações que nós temos colocado desde o início da pandemia", pontua. 

De acordo com o infectologista, além das novas cepas que circulam em todo o país, a chegada do outono e do inverno também preocupam. "No nosso outono e no inverno, as pessoas ficam mais fechadas, circulam outros vírus, então, realmente, é um cenário que nos preocupa demais. Nunca fiquei tão assustado como agora, com tanto medo de uma catástrofe. A gente não sabe mais o que fazer, está difícil convencer as pessoas a ficarem em casa", diz. 

Outro lado

O presidente da Amipão, Vinicius Dantas, confirmou que a Prefeitura de Belo Horizonte já comunicou a entidade do fechamento. Representantes da prefeitura estão em permanente contato com as entidades comerciais, diz Dantas, e "pediram colaboração no entendimento da gravidade da situação". 

Em Belo Horizonte, mais de 1800 padarias ficarão fechadas no domingo. "É tão preocupante os dois lados: tanto o fechamento quanto o avanço do coronavírus. Nos amedronta comercialmente, mas às vezes é preciso um remédio amargo. Melhor ter o cliente vivo, cliente morto não compra".

O presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Alexandre Poni, disse que foi informado nesta terça-feira (23) sobre a decisão e que a medida deve começar a valer já no próximo domingo (28).

Segundo ele, a preocupação da associação é que, com o fechamento, haja aglomeração no sábado e na segunda-feira.  "A gente vê que essas coisas são necessárias. O momento agora é de colaboração de toda a sociedade. Então o que a prefeitura decidiu vamos acatar. Vamos fazer um teste e ver como vai ser. Nossa preocupação é ter um acúmulo de pessoas no sábado e na segunda-feira para fazerem as compras que elas fariam no domingo. Por isso faço um apelo a população é que as compras sejam feitas em dias espaçados da semana para evitar esse acúmulo nestes dois dias, principalmente no sábado", diz Poni.

Ele disse ainda que a prefeitura se mostrou aberta ao diálogo e que a eficácia da medida será avaliada, bem como se haverá essas aglomerações. "A gente se preocupa com nossos colaboradores e com toda a sociedade", complementa Poni.