Maleável

Tamisa remodelou projeto de mineração na Serra do Curral até obter aprovação

Ambientalistas acusam a empresa de minimizar os impactos do projeto para conquistar licenças; site com informações foi remodelado

Por Pedro Nascimento e Manuel Marçal
Publicado em 11 de maio de 2022 | 06:00
 
 
 
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De "um dos maiores projetos de minério de ferro do país" a "projeto dividido em fases diferentes" e "distribuídos ao longo de 30 anos de operação". Desde quando a Cowan - uma das donas da Tamisa S.A - apresentou pela primeira vez em seu site a intenção de apostar na mineração na serra do Curral, o discurso da empresa em torno do projeto foi se remodelando. Mudanças que, coincidentemente, acompanharam as barreiras legais do projeto e as reações da sociedade civil.

A primeira divulgação pública sobre o projeto foi feita em março de 2015, no site da própria Cowan. Na aba destinada a outros empreendimentos da empresa, o setor de mineração levava a um texto onde era apresentada a Taquaril Mineração S.A (Tamisa) como responsável por um dos maiores projetos minerários do Brasil. Nessa primeira versão do projeto, a mineradora cita que a área a ser explorada está na Fazenda Ana da Cruz, mas sem apontar em qual cidade ela estava localizada.

Na última versão do texto, feita em 2017, o empreendimento deixa de ser citado como o maior do Brasil e é apresentado com mais detalhes da operação, prevista para 30 anos e dividida em fases. Ainda nesse texto, mais uma vez a serra do Curral deixa de ser citada.

Para Jeanine Oliveira, professora-social do projeto Manuelzão, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e uma das coordenadoras do "Tira o Pé da Minha Serra", as modificações na apresentação do projeto ao longo dos anos acompanharam a transformação pela qual a proposta passou.

“Esse é um projeto que eu acompanho desde sempre e o que aconteceu ao longo dos anos é que ele foi se adaptando para ganhar condições de conquistar a licença do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Hoje, o que nós temos é um projeto aprovado que obedece às condições mínimas do estabelecido pela legislação ambiental”, descreve.

Na concepção original, o projeto da Tamisa previa a retirada de um volume de 1,2 bilhão de toneladas de minério de ferro ao longo de 30 anos, em três fases. Pela proposta analisada neste ano pelo Copam, constam somente duas fases, sendo que apenas a primeira, que autoriza a instalação do complexo industrial, foi aprovada.

Segundo a arquiteta Cláudia Pires, ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), essa estratégia tem como objetivo introduzir aos poucos o empreendimento no local.

“A empresa propõe minerar 33 milhões de toneladas de minério de ferro no primeiro ano, só que ela tem bilhões de toneladas de reserva no local, então isso demonstra que eles partiram essa licença de modo com que, após instalada, ela acione o governo para obter as novas licenças. E uma vez instalada na serra do Curral, dificilmente esse pedido será negado”, alerta a arquiteta.

Fora do ar

Desde o dia 1º de agosto de 2018, o site da Cowan, onde as informações sobre o empreendimento estavam disponíveis, saiu do ar. Coincidentemente, no mesmo mês, a empresa foi convocada para comparecer na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Serra do Curral, instalada na Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Ainda hoje, o site da empresa continua fora do ar e o único canal de divulgação sobre o empreendimento está no Instagram, em uma página criada na última sexta-feira (6) onde a Tamisa rebate argumentos contrários à mineração na serra do Curral.

Outro lado

A Cowan e a Tamisa foram procurados pela reportagem para se manifestar sobre o assunto, mas não retornaram os telefonemas e emails. Confira abaixo as perguntas enviadas à empresa e que ficaram se resposta.

- Porque na apresentação do site, desde 2015, nunca foi citado que a mineração da Tamisa ocorreria na Serra do Curral?

- Desde 2018, o site da Cowan, onde estão hospedadas as informações da Tamisa, está fora do ar. Qual o motivo? Há previsão de retorno?  

- Além da conta no Instagram, que começou a postar há 4 dias, a Tamisa e a Cowan têm algum outro canal de divulgação?

O espaço continua aberto caso a empresa queria se manifestar.

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