As fortes chuvas que atingem vários municípios de Minas Gerais causando morte e devastação tem tirado o sono de moradores de áreas próximas a barragens de rejeitos. Em Congonhas, na região Central do Estado, por exemplo, onde tem 18 reservatórios, incluindo a estrutura de Casa de Pedra, da CSN, que é o maior  em área urbana da América Latina, centenas de moradores temem que o temporal sirva de gatilho para um possível rompimento de alguma estrutura. 

No caso da barragem da CSN, antes mesmo do início do período chuvoso, o Ministério Público de Minas Gerais já alertava para a necessidade de retirada de 3.000 moradores do entorno da barragem. Uma ação impetrada pelo órgão tramita na Justiça. No ano passado, o MP já tinha conseguido retirar a escola e a creche que funcionavam no bairro mais próximo da estrutura. 

“Se a própria Justiça alega que não dá para a escola e a creche funcionarem lá, fica evidente que não dá para as pessoas viverem a poucos metros da estrutura. Em caso de rompimento da barragem, não dá tempo para ninguém fugir. E esses moradores já estavam lá antes de a barragem ser construída”, afirma o promotor de meio ambiente da Comarca de Congonhas, Vinícius Alcântara Galvão. 

É exatamente essa falta de tempo para fuga que tem gerado pânico entre a população local, sobretudo mediante os temporais que já causaram deslizamentos na cidade. “Aqui está chovendo muito. Enchente por aqui sempre foi corriqueiro, mas o nosso maior medo não é esse. Todo mundo aqui está em pânico com medo de a barragem encher muito e romper”, conta o presidente da Associação de Moradores do Residencial Gualter Monteiro, Warley Ferreira Costa.

A distância entre a casa dele e a barragem de Casa de Pedra é de apenas 300 metros. “Se aquela estrutura romper, minha casa é atingida em 10 segundos. Dá tempo nem de pensar, quem dirá correr”, afirma. Segundo ele, nesta semana de fortes chuvas, a empresa ainda não se reuniu com os moradores para tranquilizá-los. “Até o escritório deles que ficava aqui no bairro eles fecharam. Ligamos no telefone 0800 que é o de atendimento aos moradores e ninguém atende. A gente quer ter uma resposta sobre os reais riscos que estamos expostos”, afirma. 

Segundo o secretário de Meio Ambiente de Congonhas,  Neylor Aarão, equipes da secretaria estiveram nas principais estruturas de rejeitos localizadas na cidade. E, até o momento, todas elas estão visualmente em condições normais. 

“Estamos acompanhando e os retornos que tivemos da Defesa Civil e da Agência Nacional de Mineração foram de que não houve alteração nos níveis de seguranças de barragens”, afirma. Apesar de ponderar que as estruturas estão aptas para receber chuvas milenares, ele admite a necessidade de acompanhamento constante: “Não dá para dizer que estamos tranquilos com uma barragem dessa proporção instalada dentro da cidade”, afirma. 

Procurada, a CSN disse, em nota, que a Defesa Civil de Congonhas fez uma vistoria na barragem na quinta-feira (23) e constatou que a estrutura é estável. A empresa garante ainda que o monitoramento do complexo é constante e que o último laudo de estabilidade emitido por uma empresa independente para o reservatório é de setembro de 2019. 

Veja a íntegra da nota da empresa: 

“A Defesa Civil de Congonhas realizou uma vistoria na Barragem Casa de Pedra na quinta-feira (23/1) e constatou que a estrutura é estável e encontra-se preparada para suportar o grande volume de chuvas previsto para os próximos dias.

A Barragem Casa de Pedra é construída pelo método a jusante, considerado mais seguro, pois sua base é sobre terreno natural (sólido). A estrutura é feita para suportar a maior chuva num período de dez mil anos, a chamada chuva deca milenar.

A barragem é capaz de suportar uma chuva de 342mm em 1 dia. A máxima registrada em Congonhas é de 126mm e ocorreu em 16/12/2018.

O monitoramento das estruturas do Complexo Casa de Pedra é constante, com a utilização de 329 equipamentos, incluindo drones.

A CSN Mineração cumpre todos os requisitos legais estabelecidos pela Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), Agência Nacional de Mineração (ANM) e demais legislações vigentes no Brasil. A empresa possui laudos que atestam a estabilidade das estruturas do Complexo Casa de Pedra, em Congonhas (MG), sendo que o mais recente foi emitido por uma empresa independente no mês de setembro de 2019.

A companhia está trabalhando constantemente para eliminar o uso de barragens no processo produtivo com a Implantação de novas tecnologias que permitem processar o rejeito a seco.

Em breve, a estrutura será DESCARACTERIZADA - quando ela deixa de receber rejeitos, água e NÃO mantém as características de barragem - e, em seguida,DESCOMISSIONADA – que é a retirada da barragem, voltando a fazer parte do ambiente natural. Uma prova de que esse processo já começou é a barragem B5, que está em FASE FINAL de descaracterização. As barragens B4 e Casa de Pedra passarão pelo mesmo processo”.