Testemunhas que participavam da cavalgada em homenagem a São José, em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte, contestam a versão policial para a morte de dois irmãos, de 27 e 29 anos, nesse domingo (10 de março). Pessoas ouvidas pela reportagem relatam possíveis abusos policiais e falam em “covardia”. Na manhã desta segunda-feira, um grupo de pessoas foi às ruas se manifestar contra a ação dos policiais que resultou nas mortes. A comunidade se revoltou com o ato policial.
O posicionamento oficial da PM aponta que durante confusão generalizada, um militar foi agredido com golpe de faca na região do pescoço por um dos irmãos. “Diante a agressão, houve a necessidade de uso de técnicas de imobilização e de força, momento no qual outros transeuntes ali presentes investiram com violência contra os militares, levando-os ao solo, tentando retirar a arma da cintura de um dos militares”, diz a nota.
As testemunhas ouvidas pela reportagem, no entanto, alegam que os irmãos não tinham nada a ver com a briga que motivou a intervenção policial. “Houve uma agressão a policial mesmo, um empurrão, infelizmente. Mas não teve nada de canivete, não teve tentativa de pegar arma, nem nada. Todo mundo estava perto, ninguém falou de ter visto isso”, disse a testemunha.
Ainda conforme essa pessoa ouvida pela reportagem, o policial teria já chegado atirando “sem dó”. Um dos irmãos baleados, inclusive, estaria imobilizado no chão quando foi baleado. Nesse momento, a outra vítima teria tentado intervir para segurar o policial, momento em que também foi baleada.
Já a PM alega que “para repelir a injusta agressão foi necessário o uso de força progressiva”, o que também foi contestado por testemunhas. “Mentira, a gente até falou que poderiam usar spray de pimenta para afastar todo mundo em vez de tirar a vida de dois pais de família. Já atiraram direto na frente das esposas e dos filhos deles”, detalhou.
Segundo os relatos, um homem morreu na hora, enquanto o outro ainda foi resgatado com sinais vitais. “Jogaram eles na viatura igual levam porco para o abate. Mesmo morto e o outro quase morto, ainda algemaram os dois para colocar na viatura. Isso é covardia”, reclamou a pessoa ouvida.
O boletim de ocorrência do qual a reportagem teve acesso indica que a viatura foi danificada e teve um pneu rasgado por populares, o que dificultou o socorro às vítimas. Ainda segundo o documento, os irmãos chegaram com vida ao hospital 25 de maio, mas tiveram o óbito constatado na unidade de saúde momentos depois. O policial que denunciou ter sido vítima de um corte no pescoço, que é um sargento, foi atendido e não precisou de suturar o corte. O outro militar, um soldado, que foi quem efetuou os disparos, teve registrado na ficha médica um corte no pescoço igual ao sargento, mas não há relatos no boletim como se deu esse ferimento. Nenhum dos dois policiais ficou internado ou em observação. Eles foram liberados com escoriações.
Um canivete, que seria de um dos irmãos, foi apreendido e apresentado à autoridade policial. A reportagem pediu um posicionamento oficial da Polícia Militar sobre as denúncias e aguarda resposta.