A família do jovem Josué Nogueira, 16, morto a tiros por um policial penal na madrugada do último domingo (19), no bairro Vila Anália, em Montes Claros, na região Norte do Estado, vai participar nessa quarta-feira (22), às 20h, de uma live contra o racismo por meio das redes sociais. De acordo com a tia do garoto, a manicure Ellen Teixeira, 31, desde a morte do sobrinho, pessoas nas redes sociais tem proferido ofensas racistas que afirmam que o jovem mereceu ter morrido. A família também criou uma petição online pedindo Justiça pela morte do garoto.

“Eu tirei print das postagens. Alguns dizendo que ‘esse negrinho mereceu morrer’. Os comentários são muito maldosos. Colocam ele como bandido e ele era uma pessoa muito tranquila”, afirma a tia. A família também criou uma petição online para dar visibilidade ao caso. Até a manhã dessa quarta-feira (22), a petição já tinha 14.500 assinaturas. 

“Já não basta a nossa dor, ainda temos que conviver com esses comentários racistas”, afirma a tia. Familiares pretendem fazer uma manifestação pela morte do menino na próxima semana. A live será transmitida pelo intagram @janaelleneri.

A morte

Josué Nogueira trabalhava como jovem aprendiz em um supermercado, em Montes Claros. Na noite do último sábado (18), ele participou de um churrasco entre amigos, no bairro Vila Anália. De acordo com a tia do garoto, após a confraternização, na madrugada de domingo, o jovem e alguns colegas se sentaram na calçada de uma rua para continuar conversando. O barulho da conversa, no entanto, teria incomodado um policial penal que mora em uma casa próximo de onde eles estavam.

“O agente saiu na rua e questionou o barulho. Logo depois voltou com uma arma e deu um tiro pro alto. O Josué e os amigos saíram correndo na hora. No que correram, o meu sobrinho perdeu a sandália dele. E o agente continuou procurando os meninos, mesmo nos lotes vagos ao redor. No que o meu sobrinho voltou para buscar a sandália, levou um tiro nas costas e morreu”, explicou Ellen Teixeira.

Em sua defesa, o agente teria dito que deu o tiro no garoto agindo em legítima defesa. A família questiona a versão do profissional de segurança. “Como que foi em legítima defesa se o tiro foi pelas costas? O tiro entrou pela nuca e saiu pela boca”, questiona a familiar da vítima.

Revolta

O agente de segurança chegou a ser preso, mas foi libertado já na última segunda-feira (20). A defesa teria argumentado que ele teria endereço fixo e, por isso, não oferecia nenhuma ameaça. “Estamos revoltados com isso. Antes mesmo de sepultarmos meu sobrinho ele já estava na rua. A defesa alegou que ele tinha endereço fixo. O meu sobrinho também tinha. Nós criamos um Twitter que se chama Justiça por Josué. Na próxima terça-feira também vamos fazer uma manifestação na praça da cidade”, explica a tia de Josué Nogueira. 

Sonhos

Atendendo ao pedido do filho, os pais de Josué Nogueira entraram em um consórcio para resgatar uma moto para o garoto. Os pagamentos já estavam sendo feitos e terminariam quando o garoto completasse 18 anos. De acordo com Ellen Nogueira, tirar carteira de moto era um sonho que o garoto constantemente dizia ter. “É um sonho que ele sempre dizia ter. Ele também havia encomendado no cartão de crédito dos pais, uma aliança para dar a namorada. As alianças chegaram ontem e ele não está vivo”, afirmou a tia. 

Por meio de nota, a Polícia Civil informou que o agente penal chegou a ser “preso em flagrante por homicídio consumado” que já “ouviu testemunhas e outros depoimentos ainda serão colhidos”.  No texto a instituição também diz que “as investigações seguem em andamento na Delegacia de Homicídios de Montes Claros”.

Também por meio de nota, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou que a pasta e o Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) tomaram conhecimento do caso e que se a investigação comprovar, os órgãos “repudiam veementemente o possível comportamento inadequado com uso de arma de fogo por um policial penal, envolvido nessa  ocorrência”.

A secretaria informou ainda que “de acordo com informações preliminares, o servidor estava fora do horário de serviço e fez uso inapropriado do seu instrumento de trabalho, cuja utilização se restringe à defesa pessoal, atrelada ao seu exercício funcional de custódia e ressocialização de detentos”.  A pasta também pontuou que nos próximos dias vai “ampliar a reciclagem de profissionais do sistema prisional sobre o tema, para que fatos dessa natureza não voltem a acontecer e para reforçar o seu papel institucional primordial  de proteção da sociedade mineira”.

Por fim, a Sejusp afirmou que “classifica a atitude do policial penal em questão como um ato isolado, que não representa o comportamento dos mais de 17 mil servidores do sistema prisional, responsáveis pela custódia de cerca de 60 mil presos, em todo território mineiro”, diz em nota.