Tragédia

Tragédia de Brumadinho: restos mortais vão para memorial

Maioria das famílias de vítimas da barragem da Vale optou por não ser avisada sobre novas identificações de corpos

Por Lucas Morais
Publicado em 25 de janeiro de 2021 | 06:00
 
 
 
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Responsável pela Serviço de Antropologia Forense do Instituto Médico-Legal (IML) e pelas reuniões periódicas com os familiares de vítimas da tragédia em Brumadinho, o médico legista Ricardo Moreira Araújo está à frente do caso há dois anos. De acordo com o especialista, as reidentificações são comuns desde o primeiro dia do desastre provocado pela Vale. Por conta disso, o órgão realizou uma consulta ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre como proceder com as famílias. “A grande maioria optou por não ser notificada das novas identificações. E há aqueles que quiseram saber, mas, em algum momento, pediram para revogar o termo, porque era como se fosse uma nova comunicação de morte do mesmo familiar”, comenta. 

Ricardo Araújo garante que as equipes vão seguir mobilizadas até que todos sejam localizados. “Entramos em uma fase mais complexa, o que é natural, até pela questão do tempo. Infelizmente, perdemos a possibilidade de utilizar métodos como o da datiloscopia (impressão digital), que é mais ágil. Nesse momento, o DNA é o mais utilizado”. Desde quando as duas últimas joias foram identificadas, em dezembro de 2019, o número de desaparecidos no desastre parou em 11. 

Todos os restos mortais das vítimas que estão armazenados em câmaras frigoríficas do IML vão para um memorial, que vai será erguido no distrito de Córrego do Feijão, a poucos metros da área devastada pela lama. Estacas e um mapa com o projeto arquitetônico da estrutura já foram colocados no terreno, que tem cinco hectares – 50 mil metros quadrados. O projeto, do arquiteto Gustavo Penna, foi lançado em junho do ano passado. A Vale não informou a previsão para o início das obras. 

Além de serem plantados 272 ipês-amarelos em homenagem às vítimas, o Memorial Brumadinho contará com 1.220 metros quadrados de área construída e pavilhões geométricos e segmentados. Também vai ser instalado um monumento, que vai representar “o sentir” e “o chorar”. 

 

Gêmeos tinham apenas dez meses quando perderam pai e mãe

No fim de 2018, Juliana Creuzimar de Resende Silva, na época com 33 anos, retornava ao trabalho na Vale após o período da licença-maternidade. O marido, Dennis Augusto da Silva, 37, também era funcionário da empresa. Todos os dias, o casal deixava os gêmeos Antônio e Geraldo com a mãe de Juliana e só buscavam no fim da tarde, após encerrarem o expediente na mina de Córrego do Feijão. 

“No dia 25 de janeiro de 2019, eles entregaram os bebês com atraso, porque Antônio não tinha dormido à noite, então perderam o horário”, conta a irmã de Juliana, Josiana Resende, 31. 

Quando surgiram as primeiras notícias do rompimento da barragem, Josiana, que era enfermeira da Vale naquela época, mas estava de folga, acreditou que fosse apenas um treinamento. “Quando liguei o meu celular, vieram as mensagens. Descemos para o centro (de Brumadinho), era um verdadeiro cenário de guerra. Ainda tinha risco de a outra barragem romper”, lembra a irmã de Juliana. 

Denis foi localizado dez dias após o desastre. Já a mãe dos gêmeos ainda não foi encontrada em meio aos rejeitos. “Não sabemos o que vão encontrar, nem temos a certeza se ela será localizada. Mas precisamos fechar esse ciclo. É muito difícil não ter para onde ir no Dia dos Finados, um local adequado para prestar as homenagens”, desabafa. 

Hoje com quase 3 anos, os gêmeos são criados pelos avós maternos. “Eles falam mamãe Juju e papai Denis. No início, viam as fotos dos dois e ficavam batendo. Conversamos com psicólogos e psiquiatras. Muitos falam que os dois eram muito pequenos e não iam sentir, mas sentiram, sim, só não diziam. Já falamos para eles que os pais viraram estrelinhas no céu. No decorrer do tempo, vamos contar sobre toda a história, é um direito deles”, finaliza.
 

Buscas
Sem prazo. O compromisso do Corpo de Bombeiros é encerrar as buscas apenas quando todos forem velados. Conforme a corporação, ao menos 60 militares seguem na operação em área de quase 4 milhões de metros quadrados. 

Técnica. “O trabalho, que é cada vez mais complexo, envolve máquinas pesadas, inteligência preventiva, cruzamento de dados”, descreve o tenente Pedro Aihara. 
 

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