Um ano depois de vir à tona o caso da contaminação de cervejas da Backer, que deixou 10 mortos e pelo menos 16 vítimas com lesões graves, ainda tem bebida da empresa - inclusive de lotes intoxicados - estocada em bares de Belo Horizonte. No Santo Boteco, estabelecimento localizado no bairro São Pedro, região Centro-Sul da capital, mais de 600 garrafas de produtos da cervejaria estavam empilhadas em um canto do estoque.
Proprietária do local, Aline Soares informou que, desde janeiro do ano passado, tenta devolver as bebidas para a empresa mineira. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que constatou o envenenamento, inclusive determinou que a Backer fizesse o recall de todas as cervejas e chopes.
No entanto, a ordem foi descumprida. "Não houve o recolhimento para empresas jurídicas e muitos estabelecimentos têm estoque guardado. Tentei fazer a devolução quando aconteceu o caso, mas não conseguimos contato de ninguém da Backer. Em nenhum canal (de comunicação) eles respondem", denunciou a empresária.
Cansada de esperar por uma posição da cervejaria, e revoltada com a situação, Aline descartou o líquido, por conta própria, nesta quarta-feira (10). "Fiquei com medo de colocar na rua para a coleta e alguém beber. Seria irresponsabilidade. Então, abrimos garrafa por garrafa, despejamos em um balde e, depois, jogamos na pia", informou.
Um ano após mortes por intoxicação, Backer não recolheu bebidas contaminadas. No Santo Boteco, mais de 600 garrafas estavam empilhadas no estoque. Cansada de esperar por uma posição da cervejaria, a proprietária do local descartou o líquido, por conta própria, nesta quarta-feira. pic.twitter.com/zNRnoWllVH
— O Tempo (@otempo) March 10, 2021
A empresária admite que não sabe se essa seria a forma correta de fazer o descarte, mas não viu outra opção. "É revoltante. Não se compara com as pessoas que faleceram ou estão doentes. Porém, nós também tivemos prejuízos. A empresa não teve um mínimo de responsabilidade", disse. O estoque descartado hoje foi avaliado em R$ 5.500.
A Backer foi procurada pela reportagem de O Tempo, mas não se manifestou. O Mapa informou que vai investigar o caso. Já a Secretaria Municipal de Saúde, por sua vez, informou que o órgão federal é o responsável por fiscalizar o recall.
O caso
A intoxicação pelas substâncias químicas monoetilenoglicol e dietilenoglicol atingiu litros de cerveja ainda em processo de fermentação. Dez pessoas morreram e pelo menos outras 16 sofreram lesões gravíssimas.
A Polícia Civil indiciou onze funcionários da companhia por homicídio e lesão culposos (sem a intenção de matar) e pela contaminação de produtos alimentícios. Segundo a investigação, vazamentos em equipamentos e o uso de substâncias tóxicas que não deveriam ser empregadas causaram a contaminação de diversos lotes de diferentes tipos de cerveja produzidos pela empresa.