Um menino de 13 anos, morador da cidade capixaba de Curiacica, estaria irritado por ter tirado notas baixas na escola e, por isso, decidiu planejar um ataque a instituições de ensino. Para isso, ele procurou nas redes sociais outras pessoas que tivessem o mesmo pensamento dele e encontrou outro garoto, de 15 anos, morador da pequena Conceição da Aparecida, no Sul de Minas. Os dois adolescentes foram alvos de mandado de busca e apreensão da operação Escola Segura, deflagrada anteontem pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, com o apoio das Polícias Civis de Minas Gerais, Pará e Espírito Santo.
As mensagens trocadas pela dupla foram interceptadas pelo Serviço Secreto da Embaixada dos Estados Unidos, em Brasília, no Distrito Federal, a Homeland Security Investigations (HSI).
O delegado Roberto Pontes, da cidade de Carmo do Rio Claro, no Sul de Minas, ficou a cargo das investigações no Estado. Ele não deu muitos detalhes para não causar pânico, mas afirma que as mensagens entre os adolescentes indicavam a possibilidade de ocorrência de um massacre escolar. “Eles estavam mantendo, por uma rede social, conversas manifestando a intenção de cometer atos graves de violência, dentre os quais o massacre escolar. Com essas informações começamos os trabalhos de investigação”, explicou.
As mensagens não indicavam quais escolas seriam atacadas, segundo Pontes. “Eles não chegaram a mencionar a escola que eles pretendiam ou não fazer o ato. Por parte do adolescente daqui, eram mais mensagens com esse tipo de conteúdo, um conteúdo ofensivo”, explicou.
Na casa do garoto mineiro, a polícia aprendeu um computador e um celular que vão passar por perícia. A Polícia Civil informou que o caso será repassado para o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que deverá tomar as providências cabíveis.
Pesquisas
O delegado capixaba Brenno Andrade contou que o suspeito do Espírito Santo começou a navegar na internet e a pesquisar sobre outros atentados que aconteceram em escolas. “Ele pesquisou sobre o rapaz de Realengo, no Rio de Janeiro, e de Suzano, em São Paulo”, relatou o policial. A investigação também apurou que ele enaltecia outros criminosos que morreram em atentados a escolas no Brasil.
Além disso, o adolescente buscava na internet pessoas que tinham o mesmo interesse que ele de praticar atos violentos. “Ele entrava em contato com esses indivíduos para iniciar um diálogo”, completou Andrade.
Na casa do rapaz capixaba, a polícia apreendeu um celular e um simulacro de madeira. “Era um adolescente que aparentemente tinha uma vida normal, mas com pensamentos suicidas e homicidas. Os pais do menino nos agradeceram, por possibilitar que eles pudessem tomar as providências psicológicas e psiquiátricas necessárias”, relatou o delegado.
“São adolescentes que, via de regra, se sentem excluídos por amigos ou sofrem algum tipo de bullying ou não conseguem se encaixar”, completou o delegado de Minas.
Pais devem controlar acesso à internet
Quando se fala em massacre escolar praticado por alunos ou ex-alunos, há dois episódios emblemáticos no Brasil. O caso de Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2011, que deixou 12 mortos, e o caso da escola de Suzano, em São Paulo, em março de 2019, quando oito pessoas morreram. Mas Minas também já registrou momentos de terror. Em Ponto do Marambaia, distrito de Caraí, no Vale do Jequitinhonha, um adolescente de 17 anos invadiu uma escola armado e deixou dois feridos, em novembro de 2019.
“Muitas vezes o acesso ao conteúdo violento na internet pode estimular o adolescente a fazer isso”, disse o delegado Roberto Pontes. Para evitar isso, o delegado afirma que os pais precisam fazer marcação cerrada ao que o adolescente acessa na internet. “Muitas vezes eles não tem maturidade para entender o que significa aquilo dali. Não tem a noção da gravidade do ato que estão planejando. Se os pais puderem controlar o acesso ou mesmo ter uma conversa, muita coisa pode ser resolvida”, apontou Pontes.